Thiago Hansen

Faleceu na segunda-feira (1/7) aos 74 anos, após uma longa luta contra o câncer, António Manuel Hespanha (1945-2019).
António nasceu em Coimbra e, querendo ser arquiteto, acabou indo para o Direito para poder aproveitar a biblioteca que seu pai havia formado em anos de profissão jurídica. Aluno de destaque, logo após sua graduação se tornou professor assistente de Direito Romano na Universidade de Coimbra.
Durante o mestrado foi responsável por introduzir, ainda no calor do debate e de forma pioneira, instrumentais teóricos de Michel Foucault, em especial a partir da publicação do livro do filósofo francês “Arqueologia do Saber”. Essa influência o marcaria mais adiante na forma como via o poder estatal e sua relação com os saberes jurídicos.
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Após Revolução de Abril de 1974, conhecida como Revolução dos Cravos, ainda muito jovem como ele mesmo destacava, assumiu o cargo de Diretor Geral do Ensino Superior, sendo responsável pela reorganização de todas universidades portuguesas após a queda do regime fascista de Salazar.
Sua mais profunda contribuição acadêmica viria quase dez anos depois, quando produziu sua monumental tese de doutorado “Às vésperas do Leviathan”, em que destacou, a partir de uma leitura inovadora de fontes jurídicas do Antigo Regime, o papel limitado do Rei, a flexibilidade das normas e o papel fundamental da doutrina jurídica, da teologia e dos costumes dos tribunais para afirmação de um modelo explicativo do poder no Antigo Regime que ele definiu como “Monarquia Corporativa Polissinodal”. Seu impacto foi profundo na historiografia europeia e americana, e posteriormente seu modelo explicativo foi comprovado e adotado por uma variedade de historiadores e historiadores do direito.
Escreveu mais de uma dezena de livros, entre os quais se destaca sua síntese de história do direito intitulado “Cultura Jurídica Europeia - síntese de um milênio”. Produziu também importantes textos de Teoria do Direito, entre os quais se destaca “O caleidoscópio do direito” e “Pluralismo Jurídico e Direito Democrático”, em que reavaliou os papeis do poder judiciário e do direito estatal nos cenários de globalização e alterações profundas que democracia representativa vem passando, o que demonstra sua visão aguda sobre o presente.
No fim dos anos 1990 foi nomeado pelo atual Secretário Geral da ONU, António Guterres, para coordenar as comemorações das descobrimentos portugueses, em que revelou uma leitura crítica do processo colonial e abalou as leituras mais nacionalistas e romantizadas do império lusitano.
António Manuel Hespanha foi professor em diversas universidades europeias, americanas e asiáticas, colecionando títulos de doutorado Honoris causa, com destaque, no Brasil, para o título concedido pela Universidade Federal do Paraná. É um dos historiadores mais citados no mundo, e o mais citado em língua portuguesa.
Seu último livro foi “Filhos da Terra”, publicado pela editora Tinta da China, em que revelou os processos de hibridização cultural e as formas de relação políticas e jurídicas na Ásia, África e América portuguesas.
No Brasil fez uma infinidade de discípulos, tanto nas faculdades de História quanto nas faculdades de Direito.
Deixa esposa, filhos e netos e uma infinidade de admiradores.

hespanha

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JOTA

Ele foi professor em universidades europeias, americanas e asiáticas, colecionado títulos de doutorado Honoris causa

António Manuel Hespanha (1945-2019), um depoimento de um aluno brasileiro

António Manuel Hespanha foi professor em diversas universidades europeias, americanas e asiáticas, colecionando títulos de doutorado Honoris causa