Eleições 2022

Mensurando desempenho de pesquisas eleitorais

Uma análise da ‘discrepância média’ dos institutos e dos agregadores no 1º turno da eleição presidencial

pesquisas eleitorais
Crédito: LR Moreira/Secom/TSE

Os institutos de pesquisas eleitorais começam a fazer seus levantamentos já na fase de pré-campanha, bem antes do dia do pleito. À medida que esse dia se vai aproximando, cresce a expectativa em torno dos erros e acertos dos institutos, no confronto com os dados oficiais, particularmente por conta das controvérsias que a divulgação dos prognósticos gera[1].

Mas para se fazer uma avaliação de desempenho dessas entidades é preciso antes estabelecer um critério que possibilite confrontar estimativas das pesquisas eleitorais com os resultados finais da eleição, num contexto em que os “concorrentes” participem em condições as mais igualitárias possíveis.

Embora não exista na literatura especializada um modelo consagrado e universalmente aceito de avaliar desempenho de pesquisas eleitorais, a grande maioria das análises comparativas se debruça mesmo é sobre a averiguação dos números prognosticados nas últimas pesquisas dos diferentes institutos e suas divergências, maiores ou menores, vis-à-vis os resultados oficiais.

Por essa sistemática, computam-se as estimativas de intenções de voto das pesquisas relativas aos candidatos individualmente e observam-se as que ficam fora da margem de erro, quando comparadas com as totalizações oficiais. Resultados fora da margem são considerados erros de previsão dos institutos de pesquisa.

É conveniente neste breve texto denominar tal procedimento de “avaliação pontual”.

Pode ocorrer com frequência que dois ou mais institutos tenham o mesmo número de erros para os postulantes competitivos, com estimativas fora da margem de erro máxima estipulada. Pela avaliação pontual, então, não se pode distinguir o instituto de melhor desempenho, já que alguns tiveram o mesmo número de erros (ou acertos).

Então, o método de avaliação pontual tem essa característica: revela indiscutivelmente o instituto de melhor desempenho quando um deles se destaca por ter menos resultados fora da margem de erro, mas se torna incapaz de sinalizar qualquer ordenamento quando as pesquisas se equiparam na quantidade de êxitos ou fracassos.

Daí a necessidade de se introduzir outro conceito que possa complementar a avaliação pontual, o de “avaliação global”.

A “avaliação global” busca dimensionar os resultados das pesquisas em função do desempenho do conjunto de suas predições, sempre em relação aos dados observados nas urnas. A questão que surge é como fazer essa mensuração.

Uma possibilidade é usar a diferença média entre as percentagens projetadas para todos os candidatos, por cada um dos institutos, e as observadas nas urnas[2].

Tal método, adotado neste texto, pode ser denominado de “discrepância média” das estimativas. É bastante simples, pois envolve o conceito intuitivo e largamente usado de média aritmética, uma medida básica de tendência central.

Através desta sistemática, calcula-se, por instituto e para todos os candidatos, cada discrepância, em valores absolutos (desprezando-se o sinal negativo), entre a percentagem prevista e a observada. Em seguida, obtém-se o valor médio global.

Por exemplo, levando-se em conta as estimativas de intenção de votos de um instituto para presidente em uma determinada eleição, observam-se as seguintes diferenças entre as percentagens previstas e as observadas (oficiais) para quatro candidatos: -1,61; 3,09; -2,33; 0,85.

Em valores absolutos esses pontos percentuais seriam: 1,61; 3,09, 2,33, 0,85. A média, portanto, resultaria em 1,97 ponto percentual. Daí, então, faz-se o mesmo processo para os demais institutos. Aquele que apresentar a menor média – vale dizer, a menor discrepância média – é o que contém estimativas globais que mais se aproximam dos resultados oficialmente registrados nas urnas.

Uma aplicação do método da discrepância média para as eleições presidenciais de 2022 no Brasil está mostrada abaixo, na tabela que acompanha o texto:

Desempenho dos institutos de pesquisa na eleição presidencial de 2022 – 1º turno
Instituto Discrepância média Ranking
MDA 1,82 1
Atlas 2,00 2
Paraná 2,30 3
Ideia 2,89 4
Quaest 2,90 5
IFP 3,24 6
Veritá 3,25 7
FSB 3,27 8
PoderData 3,40 9
Futura 3,75 10
Datafolha 3,90 11
Ipespe 4,65 12
Ipec 4,90 13
Brasmarket 10,25 14
Agregadores de pesquisas
JOTA 1,90 1
Polling Data 2,20 2
Veja 3,17 3
CNN 3,38 4
Estadão 4,90 5

Observações: (1) Os dados das pesquisas referem-se às últimas que foram a campo; (2) Só foram consideradas as intenções de voto de Lula e Bolsonaro. O ranking pode mudar com a inclusão de Ciro, Tebet e “outros”.

Fonte: Elaboração própria com base nas pesquisas listadas

[1] Na visão consagrada na população as estimativas de intenção de votos das pesquisas eleitorais são prognósticos ou projeções dos resultados das urnas. É muito difícil mudar essa percepção popular, embora, tecnicamente, ela esteja equivocada. Neste texto optou-se pelo alinhamento à versão incrustada na coletividade, para fins de simplicidade expositiva.

[2] Uma possível abordagem à avaliação global, menos intuitivamente compreensível, pode ser levada a cabo pelo desvio-padrão das estimativas, que tem a propriedade de mensurar os desvios de cada previsão de intenção de voto, consignada por determinado instituto, em relação à média (no caso, os resultados oficiais). Assim, o instituto que apresentar o menor desvio-padrão seria o primeiro do ranking, pois suas estimativas, vistas em conjunto, estão mais perto do alvo, são as que têm menor dispersão relativamente aos dados finais do pleito.