Carlos Ragazzo

Durante a pandemia da Covid-19, especialmente no ano de 2020, o mercado de varejo brasileiro sofreu o seu maior baque desde 2016. Em decorrência da retração de demanda, houve o encerramento das atividades de cerca de 75 mil lojas, sendo que as micro, pequenas e médias empresas (MPMEs) corresponderam a 98,8% dos pontos fechados<a href="#_ftn1" name="_ftnref1">[1]</a>. O processo de fechamento de estabelecimentos teria sido muito maior, não fosse o movimento de digitalização de inúmeras empresas de varejo que tomou conta do país, movimento esse que teve forte impacto na forma como o setor passou a se organizar.
Embora o percentual de participação da modalidade online no varejo permaneça baixa atualmente (tendo sido registrado o percentual de 7,8% em dezembro de 2020 e, no acompanhamento mais recente, 11,3% em outubro de 2021<a href="#_ftn2" name="_ftnref2">[2]</a>), houve um importante crescimento durante os anos de 2020/2021 como um resultado da pandemia.
<h3>Diversificação da operação de varejo para o mundo digital</h3>
Diversas empresas expandiram canais de venda on-line durante a pandemia, seja por meio da construção de e-commerces ou pelo ingresso no mundo online por meio de marketplaces<a href="#_ftn3" name="_ftnref3">[3]</a>. Diante da necessidade de medidas de distanciamento social, as empresas varejistas que antes atuavam exclusivamente, ou principalmente, no modelo brick and mortar, i.e. atendendo consumidores em suas instalações físicas se adaptaram para atender consumidores no âmbito digital e, em muitos casos, relegar as instalações físicas ao papel de hub logístico, se tanto.
Os marketplaces foram uma das formas que reduziram os custos de entrada de micro, pequenas e médias empresas no ambiente digital, se consolidando como uma alternativa à criação de uma infraestrutura de varejo online próprio. Na prática, diminuíram as barreiras para que pequenos varejistas passassem a operar em vários canais (multichannel) ou a integrar as experiências do varejo físico com o online (omnichannel).
No Brasil, os principais marketplaces do mercado registraram o ingresso de milhares de novos vendedores<a href="#_ftn4" name="_ftnref4">[4]</a>. E esse ingresso no varejo digital gerou um potencial de maior receita para esse perfil de varejista, ampliando o acesso a potenciais consumidores de seus produtos. Em termos práticos, por meio da inserção em marketplaces, MPMEs, antes restritas a pequenos raios ou nichos de consumidores via redes sociais, passam a ter um potencial de amplo alcance em canais online e offline, algumas vezes até mesmo acessando o mercado internacional.
Para mencionar um exemplo recente, o marketplace originado em Singapura, Shopee, que iniciou suas atividades no Brasil em 2019, já alcançou, em 2021, mais de 1 milhão de vendedores brasileiros inscritos, em geral micro, pequenos e médios <a href="https://revistapegn.globo.com/palavrachave/empreendedores/">empreendedores</a> localizados em todos os estados brasileiros (incluindo microempreendedores individuais e pessoas físicas). Entre janeiro e agosto de 2021 houve um aumento na ordem de 400% no número de vendedores brasileiros que ingressaram nesse marketplace<a href="#_ftn5" name="_ftnref5">[5]</a>.
<h3>Marketplaces reduzem custos de digitalização de pequenas e médias empresas</h3>
Mais do que uma porta aberta, os marketplaces fornecem ferramentas para que pequenos varejistas alcancem volume de vendas e credibilidade no comércio digital. Os marketplaces reduzem os custos relacionados à construção de reputação, ao proporcionar a segurança que o consumidor precisa para efetuar a compra, uma vez que, a depender do modelo de negócio, pode se responsabilizar por eventuais ressarcimentos não honrados pelo vendedor e intermediar a solução de problemas relacionados à venda, ou, alternativa ou cumulativamente, disponibilizar mecanismos de feedback online com a construção do histórico de desempenho, para trazer maior informação sobre o vendedor.
Os marketplaces funcionam ainda como forma de redução de custos tradicionais ao varejo, fornecendo desde soluções para segurança de dados, uma preocupação cada vez maior, até ferramentas de segurança cibernética. Além disso, resolvem uma parte muito relevante do varejo, ao estruturarem e disponibilizarem para pequenos varejistas um suporte logístico e tecnológico para as vendas. Muitos desses serviços conferem ainda auxílio para que os pequenos varejistas desenvolvam competências para empreendedorismo digital, por meio do oferecimento de treinamentos gratuitos.
Por fim, cabe destacar a importância dos marketplaces na criação de novas oportunidades de venda, por meio de recursos que permitem avaliar o histórico da conta e o resultado das estratégias implementadas pelos pequenos varejistas, como, por exemplo: 1) tratamento automatizado de dados de comportamento de conta; 2) tratamento automatizado de estatísticas de vendas, incluindo número de unidades vendidas por dia; 3) dados sobre origem de tráfego, incluindo mídia social e email; e 4) relatório sobre taxa de repetição do cliente e comportamento de compra; e 5) relatórios de dados de vendas em tempo real por produto e tipo de atendimento.
<h3>Infraestrutura digital para a pulverização do varejo brasileiro</h3>
Marketplaces foram (e são) iniciativas que reduziram os custos de inclusão digital de MPMEs, ampliando o número de varejistas que hoje atuam de forma integrada e omnichannel no Brasil e no mundo, auxiliando em elementos como: infraestrutura logística, redução de custos de construção de reputação e no próprio desenvolvimento de habilidades para que varejistas tradicionais ou iniciantes ingressem efetivamente nessa nova realidade do varejo.
Na verdade, os marketplaces chegam a funcionar como instrumentos de pulverização da oferta no varejo, cenário que ficou mais claro agora que a pandemia começa a arrefecer no país, tendo viabilizado, inclusive, a manutenção (ou mesmo ampliação) de receita de diversos MPMEs varejistas, evitando maiores impactos sociais.
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<a href="#_ftnref1" name="_ftn1">[1]</a> CONFEDERAÇÃO NACIONAL DO COMÉRCIO DE BENS, SERVIÇOS E TURISMO (CNC). In: AGÊNCIA BRASIL. CNC aponta fechamento de 75 mil lojas em 2020. Disponível em: &lt; <a href="https://agenciabrasil.ebc.com.br/economia/noticia/2021-03/cnc-aponta-fechamento-de-75-mil-lojas-em-2020">https://agenciabrasil.ebc.com.br/economia/noticia/2021-03/cnc-aponta-fechamento-de-75-mil-lojas-em-2020</a>&gt; Acesso em: 29/03/2022.
<a href="#_ftnref2" name="_ftn2">[2]</a> IBGE (2019) In: MCC-ENET. Comércio varejista. Disponível em: &lt;<a href="https://www.mccenet.com.br/comercio-varejista">https://www.mccenet.com.br/comercio-varejista</a>&gt; Acesso em: 18/11/2021.
<a href="#_ftnref3" name="_ftn3">[3]</a> “SEBRAE. Marketplace ou e-commerce: qual o melhor para o seu negócio?. 31/06/2018. Disponível em: &lt;https://www.sebrae-sc.com.br/blog/marketplace-ou-e-commerce-qual-o-melhor/&gt; Acesso em: 29/03/2022.
<a href="#_ftnref4" name="_ftn4">[4]</a> CNN. Receita do Mercado Livre mais que dobra no 1º tri, na esteira da pandemia. 05/05/2021. Disponível em: &lt;<a href="https://www.cnnbrasil.com.br/business/receita-do-mercado-livre-mais-que-dobra-no-1-tri-na-esteira-da-pandemia/">https://www.cnnbrasil.com.br/business/receita-do-mercado-livre-mais-que-dobra-no-1-tri-na-esteira-da-pandemia/</a>&gt; Acesso em: 29/03/2022.
<a href="#_ftnref5" name="_ftn5">[5]</a> “Muitas MPMEs brasileiras foram afetadas pela pandemia e estamos orgulhosos de apoiá-las nessa jornada digital e em contribuir com esse sucesso", diz Felipe Piringer, responsável pelo marketing da Shopee Brasil.” GLOBO. Pequenas Empresas &amp; Grandes Negócios. Shopee chega a 1 milhão de vendedores brasileiros. 26/10/2021. Disponível em: &lt; <a href="https://revistapegn.globo.com/Tecnologia/noticia/2021/10/shopee-chega-1-milhao-de-vendedores-brasileiros.html">https://revistapegn.globo.com/Tecnologia/noticia/2021/10/shopee-chega-1-milhao-de-vendedores-brasileiros.html</a>&gt; Acesso em: 29/03/2022.

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