Etienne Jacintho

Quando você faz uma pesquisa sobre Theodore Kaczynski, conhecido como Unabomber, as informações básicas sobre a vida, os ideais e os crimes deste serial killer são sempre as mesmas. Já quando se trata da captura de Ted, após quase 20 anos de busca, as informações são as mais diversas. De 1978 e 1995, Ted enviou cartas-bomba a executivos, cientistas, engenheiros e pesquisadores ligados à tecnologia. Os atentados mataram três pessoas e feriram 23. Durante todos esses anos, o FBI manteve uma grande equipe de especialistas para tentar identificar o terrorista. Foram muitos os envolvidos na investigação que, a cada momento, seguiam pistas vindas de diferentes fontes. Há livros, filmes, documentários que focam diferentes ângulos da investigação. A Discovery escolheu a linguística como foco de sua série Manhunt: Unabomber, que estreou na semana passada na Netflix.
Assim como a série Mindhunters – que conta o surgimento do manual de classificação de criminosos violentos da Unidade de Análise Comportamental do FBI, com uma boa dose de ficção –, Manhunt: Unabomber também usa de liberdade ficcional para mostrar o trabalho de um homem no meio de toda essa equipe de dezenas de especialistas destacados ao longo de 17 anos para identificar o Unabomber. O nome do heroi da série da Discovery é James R. Fitzgerald, um agente que acabou de concluir um curso na Unidade de Análise Comportamental do FBI e é convocado para integrar a equipe de caça ao Unabomber. Em oito capítulos, a atração segue os últimos anos de busca ao criminoso a partir da análise linguística das cartas que ele enviou aos jornais. 
Na série, Fitz é contratado sem que os chefes da operação Unabom tenham muita confiança e crença no trabalho dos especialistas em perfil criminal. Ele é apenas mais um “criminal profiling” a integrar a operação e sua missão é apenas validar o que já foi feito. O problema é que Fitz não acredita que o perfil que se tem do terrorista esteja correto. O caminho até o Unabomber não é fácil para ele. Como pista, o perito criminal tem à sua disposição apenas as cartas do Unabomber. Aos poucos, porém, Fitz começa a notar algumas particularidades em grafias de palavras, expressões idiomáticas e até provérbios. 
Fitz, então, chega à conclusão de que o Unabomber é um homem culto, com curso superior, talvez até uma pós-graduação, mestrado e QI acima do normal. Tudo oposto ao perfil feito anteriormente. Conforme avança nas investigações, ele acrescenta idade provável do criminoso, baseado numa possível tese de doutorado; local onde cresceu, apoiado em estilo gramatical; e, por fim, consegue o nome de um suspeito: Ted Kaczynski. Porém, até chegar ao nome do suspeito, o perito enfrenta a incredibilidade dos colegas do FBI, após algumas operações de captura que não foram bem-sucedidas. 
O nome de Ted Kaczynski surge após a publicação, pelo jornal “The Washington Post”, do manifesto “A Sociedade Industrial e seu Futuro”, de autoria do Unabomber. Fitz é um dos apoiadores da decisão de autorizar essa publicação, mesmo em se tratando de negociação com um terrorista. A ideia do perito é que alguém reconheça o estilo de escrita e as ideias contidas no manifesto e denuncie o possível autor. Quando o manifesto se torna público, a cunhada de Ted, Linda, reconhece a escrita. E, mesmo sem querer, David, o irmão de Ted, fornece ao FBI a identidade do Unabomber. 
<a name="_GoBack"></a> Manhunt: Unabomber tem um bom roteiro que vai e volta no tempo para humanizar o agente do FBI e o terrorista. Assim como a vida de Ted mudou sendo o alvo de uma verdadeira caçada, a vida de Fitz também sofreu profundas transformações. Impossível não ser afetado por tantos textos, manifestos e informações vindos de um homem inteligente, que levou seus ideais a um extremo. Entre as séries de crimes reais que surgiram ultimamente, Manhunt é a mais dinâmica e a mais interessante do ponto de vista investigativo, por utilizar a linguagem como principal prova para a busca de suspeitos. Claro que a produção não chega aos pés de, por exemplo, American Crime Story: The People vs. O.J. Simpson, mas vale muito a pena acompanhar os oito episódios da série.
A vida e a obra de Ted Kaczynski
Mais do que apenas focar a investigação que identificou e capturou o Unabomber, Manhunt mostra os acontecimentos da vida deste terrorista que é um homem culto e coerente em seus ideais. Seu QI acima da média o colocou em Harvard aos 16 anos. Porém, sua imaturidade era evidente. Ted tinha pouca experiência de vida e o que conhecia do mundo vinha dos livros. Muitos defendem ter sido um experimento de um psicólogo a serviço da CIA, entre estudantes de Harvard, que levou Ted a desenvolver seu lado criminoso. Manipulação e tortura psicológicas atormentaram a mente do jovem estudante de matemática. Mesmo assim, ao longo de sua vida e carreira acadêmica, Ted escreveu artigos, teses e teve trabalhos publicados. 
Em seus textos, ele alega, com lucidez, que a sociedade está sendo engolida pela tecnologia e defende a busca pela vida simples, cercada pela natureza. Como não via meios de a sociedade acordar para esse fato apenas com palavras, Ted começou a enviar bombas pelo correio a engenheiros, cientistas, executivos e acadêmicos ligados a indústrias, empresas e estudos tecnológicos. Quando foi capturado, Ted morava isolado em uma cabana de madeira construída por ele e por seu irmão. Ele vivia sem água encanada e sem energia elétrica. Seus textos continuam sendo publicados até hoje e foram traduzidos em muitas línguas. Os mais famosos são “A Sociedade Industrial e Seu Futuro” (“Industrial Society and Its Future”) e “O Caminho para a Revolução” (“The Road to Revolution). Outros autores analisaram e escreveram livros sobre os pensamentos de Kaczynski, inclusive John E. Douglas, o criador do Manual de Classificação de Criminosos do FBI.

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JOTA

Netflix disponibiliza série da Discovery sobre a investigação que identificou e capturou o Unabomber