Guilherme Tocci

Paulo Samico

Tayná Carneiro

Victor Cabral Fonseca

Vivemos em um mundo que se transforma a cada dia. A interconexão digital e as mudanças nos paradigmas de trabalho estão afetando profundamente todas as áreas de atuação e na área jurídica não seria diferente. Dentro dessa dinâmica, surge o conceito de Legal Operations, ou <a href="https://www.jota.info/tudo-sobre/legal-ops">Legal Ops</a>, que já está promovendo uma revolução na maneira como as organizações lidam com sua eficiência operacional.
O foco da área de Legal Ops é criar e implementar processos e projetos (com ou sem tecnologia) que aumentem a eficiência e eficácia nas operações legais das organizações jurídicas nos setores público e privado, impactando a gestão de Escritórios, Departamentos jurídicos e também do Poder Judiciário.
A origem do Legal Ops está diretamente ligada ao reconhecimento crescente de que as questões jurídicas estão intrinsecamente entrelaçadas com todas as facetas das estruturas organizacionais. A conformidade legal, a gestão de riscos, a elaboração e execução de contratos, o controle do contencioso entre outras funções, são aspectos-chave que requerem uma abordagem integrada e estratégica. Diante dessa constatação, as organizações modernas têm adotado o Legal Ops como uma estratégia para centralizar, padronizar e otimizar suas operações jurídicas.
Legal Ops pode ser descrito como um conjunto de processos de negócios e técnicas de gestão aplicadas para o jurídico servir seus clientes internos de forma mais eficaz. O principal objetivo do Legal Ops é maximizar a eficiência e a eficácia das operações jurídicas. A origem do Legal Ops está intrinsecamente ligada ao crescente reconhecimento de que as questões jurídicas estão entrelaçadas em todos os aspectos das operações de uma organização – é o benefício do reconhecimento do jurídico como uma área cross e parceira de negócio.
Uma das características mais marcantes da área é a sua ênfase na colaboração multidisciplinar. O Jurídico não pode mais ser visto como um elemento isolado dentro da organização. Pelo contrário, está cada vez mais interligado com todos os outros setores, sejam eles Finanças, Recursos Humanos, Vendas, Operações, TI, entre outros. Essa integração permite uma compreensão mais completa e multifacetada dos desafios jurídicos, promovendo decisões mais informadas e sustentáveis em larga escala. É aqui que o Legal Ops entra, como uma estratégia para centralizar, padronizar, conectar e otimizar essas operações.
Talvez você esteja pensando que a ideia de operações centralizadas, conectadas e padronizadas não seja algo novo. Você tem toda a razão. A implementação de estratégias de gestão e eficiência em diferentes setores organizacionais é uma prática comum. No entanto, a aplicação dessas estratégias ganhou força há relativamente pouco tempo no ecossistema Jurídico.
Historicamente, essa área resistiu a tais transformações, mas estamos testemunhando uma mudança significativa nesse sentido. As organizações do setor jurídico têm reconhecido a necessidade de inovar para responder às demandas da era da informação e da conectividade.
Essa colaboração multidisciplinar permite que a organização compreenda os desafios jurídicos de uma perspectiva integral, levando a decisões mais informadas e sustentáveis. Além de que a pressão crescente para aumentar a eficiência e a competitividade levou à aceitação e implementação mais estruturada dessas operações.
A introdução de Legal Ops no campo jurídico é vista como uma "porta de entrada para a inovação", pois permite que as organizações modernizem e revolucionem suas práticas legais. Ao trazer um maior alinhamento estratégico para as operações jurídicas, Legal Ops não apenas melhora o desempenho geral, mas também aumenta o valor do setor jurídico dentro da organização.
<h3>E como começar a contar essa história?</h3>
Para implementar com sucesso, as organizações precisam adotar uma abordagem holística. Isso implica em uma gestão de projetos eficiente, que estabelece a estrutura necessária para planejar e executar a transição para o Legal Ops. Nesta etapa, a aplicação de metodologias de Design Thinking e abordagens de Design Iterativo, centrado na experiência do usuário, pode auxiliar equipes a mapear dores, priorizar soluções e gerir recursos durante o início da implementação. O treinamento apropriado, portanto, é crucial, garantindo que todas as partes estejam engajadas e equipadas com as habilidades e os conhecimentos necessários.
A tomada de decisões baseada em dados tem início (ou é aprofundada) aqui. Os insights obtidos nesta etapa são aliosos para a tomada de decisão informada e o desenvolvimento de estratégias que enderecem as principais questões e desafios identificados.
Nesse contexto, entender sobre Gestão de Mudança faz a diferença na cultura organizacional de um time que passará a ver Legal Ops como um meio para um novo cenário de entregas mais consistentes. Há aqui a aplicação de determinadas metodologias que podem ser moldadas e adaptadas a depender do quanto a organização quer investir e qual é a necessidade do negócio naquele momento. Algumas áreas de Legal Ops vão iniciar com uma maturidade menos avançada, outras nem tanto. Umas irão focar mais em projetos e outras mais em planejamento financeiro e gestão de fornecedores.
No entanto, o Legal Ops vai além das técnicas e processos. Internamente, entendemos que volta-se muito para a construção de uma nova forma de entregar valor às equipes jurídicas. Externamente, é sobre a construção de uma comunidade engajada, que valoriza a troca de experiências e ideias e promove uma atmosfera de inovação contínua. Comunidades são essenciais para garantir a adaptação bem-sucedida à nova abordagem, facilitando a troca de melhores práticas e promovendo a colaboração. Se sua área de Legal Ops não está conectada com as demais, há alguma coisa errada. Aqui, conexão e cooperação são regras mandamentais inegociáveis (resguardando questões voltadas às normas concorrenciais e de segredo de indústria, evidentemente).
Por fim, mas não menos importante, a jornada rumo à implementação da área é tão importante quanto o próprio destino. Cada etapa deste percurso proporciona valiosas oportunidades de aprendizado e crescimento. E qual é o destino? Uma operação jurídica funcional, inteligente e realmente conectada ao restante das operações de negócios – garantindo a aplicação de uma verdadeira <a href="https://www.jota.info/opiniao-e-analise/artigos/legal-experience-o-ux-que-pauta-a-jornada-do-cliente-interno-no-juridico-29042023">Legal Experience</a><a href="#_ftn1" name="_ftnref1">[1]</a>.
Estamos no limiar de uma nova era na prática jurídica. Uma era em que a gestão por dados, a inovação e a multidisciplinaridade são a norma, e não a exceção. A transição para esta nova abordagem não será fácil, exigindo adaptabilidade, aprendizado contínuo e uma mentalidade de crescimento. No entanto, o potencial para transformar radicalmente as operações jurídicas torna esse desafio mais do que válido.
A área de Legal Ops está moldando o futuro do trabalho jurídico, uma mudança de paradigma que é simultaneamente desafiadora e impactante, já que requer mudanças significativas na maneira como uma organização opera, levando a resistências iniciais. E é aqui que a resiliência e a disposição para o aprendizado contínuo se tornam vitais. Afinal, o potencial para transformar radicalmente a realidade jurídica faz com que este desafio seja absolutamente válido.
Esta é a promessa do Legal Ops – de inovação, eficiência e crescimento. E essa é uma perspectiva verdadeiramente promissora. Afinal, quem não gostaria de desbloquear essa porta para a inovação e ver o que nos espera do outro lado?
Analisando em três passos para o início dessa jornada, conforme previu Harold Jack Levitt<a href="#_ftn2" name="_ftnref2">[2]</a> em 1964 em seu tripé conhecido como o “Triângulo Dourado”:
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<li>Pessoas: as pessoas precisam estar capacitadas e serem envolvidas na nova atmosfera de Legal Ops. Com um enfoque adequado e centrado na cooperação, é natural que percebam que os talentos e as habilidades de cada uma delas se complementam, gerando conhecimento suficiente para obter o resultado pretendido, a espera eficiência operacional e estratégica. De novo: todo recurso investido em Gestão de Mudanças, comunicação e construção de relacionamento de time é pouco.</li>
<li>Processos: aqui é gestão na veia, atenção nos fluxos operacionais e excelência na execução. É extremamente importante que todos saibam seus papéis e responsabilidades, onde estão 'no todo' e que entendam a importância da multidisciplinaridade, bem como concordem que 'não existe um processo perfeito'. Existe sim um processo perfeito para aquele momento, mas que pode ser revisitado se surgir alguma oportunidade de melhoria, pois a única certeza que se tem aqui é que tudo é transitório dentro de um conceito de melhoria contínua.</li>
<li>Tecnologia: aqui não poderíamos deixar de mencionar a palavra 'investimento'. A tecnologia é o caminho para implementação de processos eficientes, muitas vezes com o apoio de automação para que as pessoas tenham tempo para focar em demandas mais estratégicas. Benchmarking, gestão de conhecimento e foco em iniciativas simples, eficazes e de alto impacto em um conceito de mínimo produto viável são apostas certeiras para fazer uma área de Legal Ops tech e de referência de mercado.</li>
</ol>
Algo que não citamos acima é sobre como uma área de Legal Ops pode contribuir para a atração e a retenção de talentos. Sendo responsável por promover uma cultura de inovação e colaboração, a área oferece aos profissionais novas formas de trabalhar com o Direito, oportunizando um mergulho em uma reflexão voltada para negócios, indicadores, dados e outras competências que áreas jurídicas jamais sonhariam adquirir há cinco ou dez anos.
Finalmente, é importante notar que o advento do Legal Ops é apenas o começo da jornada para um futuro de mais conexão e inovação para o Direito. À medida que a tecnologia avança e novas ideias emergem, certamente haverá mais oportunidades para esse tão sonhado cenário de aperfeiçoamento contínuo. Portanto, abraçar o Legal Ops não é apenas sobre o aqui e agora, mas também sobre se preparar para o que está por vir. Afinal, quem não gostaria de abrir essa porta para a inovação e ver as maravilhas que nos aguardam do outro lado? Nesta nova era de mudanças rápidas e incertezas, o nosso mercado precisa de mais eficiência e integração para responder à complexidade das sociedades e das economias contemporâneas. E Legal Ops está liderando o caminho para esse futuro. Portanto, é tempo de abrir a porta para o Legal Ops, explorar suas possibilidades, ver e ajudar a dizer como pode ser transformador.
<hr />
<a href="#_ftnref1" name="_ftn1">[1]</a> “Legal Experience: o UX que pauta a jornada do cliente interno no Jurídico” é um artigo de Guilherme Tocci e Paulo Samico, disponível em &lt;<a href="https://www.jota.info/opiniao-e-analise/artigos/legal-experience-o-ux-que-pauta-a-jornada-do-cliente-interno-no-juridico-29042023">https://www.jota.info/opiniao-e-analise/artigos/legal-experience-o-ux-que-pauta-a-jornada-do-cliente-interno-no-juridico-29042023</a>&gt; Acesso em 02/07/2023.
<a href="#_ftnref2" name="_ftn2">[2]</a> A frase surgiu no artigo “Applied Organization Change in Industry”, em tradução livre “Mudança organizacional aplicada na indústria”. Datado do ano de 1964, o autor americano dissertou sobre psicologia e gerenciamento. Maiores detalhes podem ser consultados nos endereços &lt;https://www.annualreviews.org/doi/pdf/10.1146/annurev.ps.15.020164.002103#article-denial&gt; e &lt;https://www.christopherspenn.com/2021/04/transforming-people-process-and-technology-part-1/&gt;, ambos acessados em 07/01/2023.

Opção 02

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JOTA

Desvendando a criatividade para inovar no jurídico

Legal Ops: uma porta de entrada para a inovação

É tempo de abrir a porta para o Legal Ops, explorar suas possibilidades, ver e ajudar a dizer como pode ser transformador