Etienne Jacintho

“Making a Murderer”: o título é sugestivo e esta série documental da Netflix fez muita gente se mobilizar para libertar dois réus condenados à prisão perpétua nos Estados Unidos. Até petição para a Casa Branca já foi enviada... O presidente Barack Obama, no entanto, disse que nada pode fazer para anular as sentenças dadas a Steven Avery e Brendan Dassey. 
A série começa focada no ano de 1985, quando o jovem Steven Avery, de 22 anos, é preso por estupro. Ele alega inocência, mas só consegue prová-la 18 anos mais tarde. O primeiro capítulo de “Making a Murderer” é dedicado a essa condenação e mostra a ineficiência da força policial de Manitowoc, cidade do Estado de Wisconsin, ao investigar o caso. E, mais do que isso, o episódio mostra como qualquer cidadão americano pode passar anos na cadeia sem ter cometido um crime se a polícia assim desejar. A constatação é um soco no estômago do telespectador que vivencia, já neste capítulo de abertura, a primeira queda na montanha-russa que é “Making a Murderer”. 
Passados 18 anos, Steven Avery tem direito a um novo julgamento após analisarem novamente uma prova de DNA. Durante o julgamento, os advogados de defesa interrogam policiais e expõem os erros de investigação e as manobras que levaram Steven à prisão por um crime que não cometeu. Os advogados mostram ainda que os policiais tinham o nome de um outro suspeito, mas não o investigaram. Eles queriam Steven Avery e deixaram escapar o verdadeiro culpado pelo crime de 1985. 
Após o novo julgamento, Steven é um homem livre. Trabalha no ferro-velho de sua família e mora em um trailer também no terreno de sua família. Ele está feliz por ter sido solto e está prestes a receber uma indenização do Estado de Wisconsin. Os policiais envolvidos em sua prisão estão desacreditados e foram massacrados pelos advogados de Steven. Então, dois anos depois de conquistar sua liberdade, Steven sofre uma nova acusação. Ele se torna o principal suspeito da morte da fotógrafa Teresa Halbach, que desapareceu pouco depois de fotografar uma van no ferro-velho dos Avery. A polícia diz que Steven foi a última pessoa a vê-la com vida.
Nos episódios que se seguem, o público passa por emoções controversas sem saber se Steven Avery é culpado ou inocente. Todas as pistas e provas apontam para Steven, mas o problema é como essas evidências foram coletadas. Ao longo da série, o telespectador acompanha a investigação e o julgamento de Steven Avery, cujos advogados montaram o caso baseados em uma possível conspiração da força policial de Manitowoc contra o acusado.  Ora subindo, ora descendo pelos trilhos de uma Justiça que gera questionamentos, o público se vê diante de um dilema: culpado ou inocente?
Em entrevista à revista americana “Rolling Stones”, as roteiristas da série documental, Laura Ricciardi e Moira Demos, afirmaram que “Making a Murderer” não prega a inocência de Steven. E que, na verdade, isso pouco importa neste caso, pois o que elas querem é levantar algumas questões sobre a Justiça nos Estados Unidos. O que vemos na série realmente nos leva a refletir sobre o tema. Afinal, o sistema realmente funciona? Um cidadão é mesmo inocente até que se prove o contrário? Os jurados levam a sério a tal da dúvida razoável na hora de condenar ou inocentar um réu? Até que ponto a mídia influencia um júri e até uma testemunha?
“Making a Murderer” foi filmada ao longo de 10 anos e reúne depoimentos dos envolvidos – familiares, advogados, jurados, etc. –, áudio de conversas telefônicas com Steven Avery, além de vídeos dos julgamentos e fotos da coleta de evidências feitas pela polícia. Uma dessas provas é a confissão de Brendan Dassey, sobrinho de Steven, que na época da morte de Teresa Halbach estava com 16 anos. O jovem, cujo QI está abaixo da média, diz que viu a vítima no trailer do tio, amarrada nua em uma cama. Ele conta que Steven o obrigou a ter relações com Teresa e a esfaqueá-la. O modo como a polícia consegue essa confissão, no entanto, é questionado pelos advogados de Steven e, mais tarde, pelos advogados de Brendan, em seu julgamento. Eles alegam que Brendan foi guiado a dar as respostas que os interrogadores queriam ouvir e que o jovem foi manipulado em interrogatórios sem a presença de seu advogado.
Aliás, a ética do advogado de defesa de Brendan é questionada e a série ainda acompanha a apelação para a anulação do julgamento do garoto justamente por causa da má conduta de seu defensor. 
Steven e Brendan estão presos desde 2005. Steven alega inocência e diz que não desistirá de prová-la. Uma ONG ainda tenta anular o julgamento de Brendan Dassey e, recentemente, foi anunciado que Steven Avery receberá o auxílio de uma ONG, a Midwest Innocence Project, para  continuar lutando por um novo julgamento. O escritório de advocacia Kathleen Zellner &amp; Associates representará Steven Avery. Quem sabe não começa a se configurar agora uma segunda temporada do documentário?
https://youtu.be/qxgbdYaR_KQ

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JOTA

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Making a murderer, um documentário que mais parece ficção

Steven Avery passou 18 anos preso por crime que não cometeu e foi acusado de homicídio dois anos depois de ganhar liberdade