Etienne Jacintho

Quando a Netflix decidiu entrar para o mercado das produções originais, a empresa mostrou a todos que não estava brincando e arrematou um projeto que estava sendo cobiçado por muitos: “House of Cards”. Uma série baseada num livro de sucesso e remake de atração britânica conceituada, “House of Cards” tinha um trunfo ainda maior, pois ninguém menos que David Fincher (“Clube da Luta”, “O Curioso Caso de Benjamin Button”) comandava a produção da atração e ele já estava decidido a dirigir os dois primeiros episódios. E, lá em 2011, começou a ser desenhada a série que é uma das melhores em cartaz na atualidade.
Além do nome forte de Fincher, “House of Cards”, que entrou em cartaz em 2013, conta com um protagonista de peso: Kevin Spacey, vencedor do Oscar, é Francis Underwood, um político que não sabe o significado das palavras ‘ética’ e ‘moral’. Sua ambição e sua sede de vingança dão partida a essa saga de corrupção e até sangue. Lá na primeira temporada, Francis é líder da bancada democrata no Congresso e, com a eleição de um novo presidente, um cargo de Secretário de Estado lhe é prometido. O problema é que o novo governo não cumpre sua promessa e Underwood é colocado de lado na formação do alto escalão. A partir daí, o público acompanha as armações de Underwood em busca de um lugar ao sol. E ele não almeja pouco. Francis quer ser presidente.
Confira 5 motivos para começar a ver “House of Cards”:
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<li>Kevin Spacey: O ator se veste de cinismo e hipocrisia para interpretar esse político que não é nada, mas quer muito. O congressista lembra em trejeitos Lester Burnhum, o pai de família de classe média de “Beleza Americana” (1999), filme que lhe rendeu um Oscar de Melhor Ator.</li>
<li>Robin Wright: Claire Underwood talvez seja a melhor personagem de “House of Cards”. A beleza da atriz e seu figurino sóbrio, porém sexy, a colocam numa posição de destaque na vida política de Francis. Dizem que atrás de um grande homem sempre existe uma grande mulher. No caso, atrás de um grande homem sem escrúpulos existe uma grande mulher de caráter duvidoso.</li>
<li>David Fincher: O diretor disse que os melhores papéis para os atores atualmente estão nas séries. Numa produção em capítulos, um ator tem mais chances de expor as diferentes nuances de caráter de seu personagem. E, com isso na cabeça, o diretor conseguiu vender a ideia de fazer uma série já com 26 episódios de início – ou seja, por causa dele, “House of Cards” já nasceu com duas temporadas e tempo para desenvolvê-las com maestria.</li>
<li>Política: Assusta, mas também é muito revelador, ver que ninguém está no poder por acaso. Há muito lobby e muita troca de favores nos bastidores e, se destacar por ser íntegro tem se tornado uma missão quase impossível. Mesmo os políticos mais justos têm de, às vezes, entrar no jogo.</li>
<li>Elenco de apoio: Os coadjuvantes de “House of Cards” são muito bem escalados. O casting funciona bem e há muitos destaques em cada temporada. Corey Stoll (Peter Russo), Kate Mara (Zoe Barnes), Michael Kelly (Douglas Stamper), Mahersahala Ali (Remy Danton) e Reg E. Cathey (Freddy Hayes) são apenas alguns dos nomes que se destacaram na série.</li>
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[caption id="attachment_22226" align="aligncenter" width="300"]<a href="/wp-content/uploads/2015/11/robin2.jpg"><img class="wp-image-22226 size-medium" src="/wp-content/uploads/2015/11/robin2-300x200.jpg" alt="Netflix/Divulgação" width="300" height="200" /></a> A deslumbrante Claire (Netflix/Divulgação)[/caption]
As três temporadas (com spoilers)
Claro que para ganhar espaço na Casa Branca, Underwood precisa de ajuda. Seus maiores aliados são sua mulher, Claire Underwood – brilhantemente interpretada por Robin Wright – e seu faz-tudo Doug Stampler (Michael Kelly). Aos poucos, Underwood vai tecendo uma teia que envolve políticos, lobistas e até jornalistas. Com sua lábia, Francis se torna amante da repórter Zoe Barnes (Kate Mara) que publica exatamente tudo o que ele quer que seja notícia. Além de Zoe, o congressista manipula outros peões como o deputado Peter Russo (Corey Stoll). Na primeira temporada, a gente vê o anti-herói passando como um trator em cima de qualquer um que ouse atrapalhar seu caminho rumo à Casa Branca. E é como vice-presidente que Underwood encerra sua temporada de estreia.
Na segunda temporada, Francis está na Casa Branca após muita chantagem, corrupção e sangue. Agora, ele precisa varrer a sujeira para baixo do tapete, pois precisa lidar com peões bem mais astutos e já experientes no universo da política e da troca de favores. Desta vez, nada de repórteres carreiristas ou deputados em início de carreira. Seus peões agora são líderes do Congresso e até o presidente Garrett Walker (Michel Gill) e a primeira-dama. Esta temporada é tensa, pois o castelo de cartas de Francis quase desmorona por diversas vezes. O público acompanha os riscos de suas jogadas e as verdades por trás de seu relacionamento aparentemente forte com Claire. Afinal, sexo também é poder. Apesar de tortuoso, o atalho percorrido por Underwood o leva ao topo e, no fim da temporada, ele assume a presidência.
A terceira temporada é a mais fraca de todas, porém não faz feio. Com foco na política externa, os episódios acompanham a fragilidade de Francis e Claire, principalmente no que diz respeito à falta de experiência de ambos nos altos cargos que decidem ocupar. Como presidente, Francis nomeia Claire a embaixadora da ONU contra a vontade do Congresso. Ele também assume uma posição de tirania ao lidar com conflitos na região do Oriente Médio e ao fazer entrar em vigor seu plano nacional para geração de empregos. Plano esse concebido para ser sua plataforma de campanha rumo às eleições presidenciais de 2016. O problema é que Underwood não é popular – e muito menos populista. Neste terceiro ano, ele precisa usar todos os artifícios para vencer as preliminares democratas, só que o poder o deixou cego. A arrogância fez com que Underwood perdesse aliados importantes em sua própria equipe. Ele traiu e foi traído. Até mesmo sua parceira, Claire, cansou de ser escada e o relacionamento degringolou. Assim, Francis termina seu terceiro ano.
A quarta temporada começa em 2016 e os fãs estão ansiosos. Fãs estes que não são poucos se considerarmos que “House of Cards” não está na tevê. Lá atrás, em 2013, quando a série estreou, a expectativa era grande. Afinal, como uma série pode ser oferecida somente via streaming? Há público para isso? Vale a pena investir tanto para o alcance ser tão abstrato?
“House of Cards” provou que o impossível aconteceu e a tevê hoje não desempenha mais um papel central numa casa. E, certamente, a TV aberta não está mais em uma posição cômoda. Isso mesmo no Brasil, um país que tem mais televisores do que geladeiras. Não é culpa do autor se uma novela das 9 da Globo já não dá 50 e muitos pontos de ibope. Tampouco é culpa da mocinha sem graça ou do beijo lésbico entre duas senhoras. As pessoas têm hoje muitas opções. Não só opções de emissoras abertas e canais por assinatura, como também de formatos de programas.
As novelas de 200 e tantos capítulos e mais de 50 personagens dividem espaços com as séries de 13 ou 20 episódios e pouquíssimos personagens. Fora que hoje, os jovens veem produções no computador, no tablet e no celular. Cada um assiste ao que quer, quando quer e onde quer. Não tem mais aquele negócio de se reunir em torno da TV para ver novela ou jornalístico. Talvez somente o futebol ainda mobilize essa função social da televisão.
O Netflix apostou nisso. E apostou para ganhar. “House of Cards” é apenas um exemplo de produção de sucesso. E é a maior. Em seu primeiro ano ganhou nove indicações para o Emmy e, em 2014, foram 13 indicações. Este ano, a série foi indicada em dez categorias. A quarta temporada deve chegar em fevereiro, com seus 13 episódios online de uma só vez. Um deleite para os viciados em Underwood que, certamente, passarão a noite em claro para saber, afinal, onde ele chegará. Será que Francis vai se eleger e tudo terminará em pizza?
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JOTA

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Por que assistir a &#8220;House of Cards”?

Por que assistir a "House of Cards”?

Série que tem Kevin Spacey como protagonista e David Fincher na produção pinta um cenário pessimista da política mundial