Etienne Jacintho

No Facebook, todo mundo é feliz. Férias perfeitas em praias de areia branca e céu sempre azul; viagem à Europa com direito a prato gourmet; casais sorridentes; famílias dignas de propaganda de margarina... E, quanto mais perfeita a imagem que você posta, maior o número de curtidas na sua página. Lá atrás, quando o Facebook se popularizou, todo mundo se gabava do número de “amigos” que possuía. E é incrível como tem gente que ainda se espanta: “Você tem só 300 amigos?” Boa parte da vida das pessoas é hoje virtual. Você curte, ama, morre de rir de algo que um conhecido publica no computador e ele nem está te vendo. Mas não importa. Nesta vitrine virtual, o importante é ser visto e, principalmente, mostrar como sua vida real é boa. 
Como será o futuro da sociedade neste mundo que está cada vez mais consumindo mídias sociais, youtubers, realidades virtuais e games sensoriais? Como poderemos nos relacionar virtualmente de maneira saudável? E mais: nessa nova realidade, qual é o limite da tecnologia? Todas essas questões estão explicitadas na série Black Mirror, cuja terceira temporada estreou recentemente na Netflix. 
Black Mirror é chocante. Não dá para assistir a ela e depois esquecer o que viu. Todos os episódios levantam questionamentos e é impossível não se envolver. Quando vi o primeiro episódio da primeira temporada, não enxerguei no roteiro nada que justificasse uma crítica aqui neste espaço destinado à Justiça. No entanto, capítulo por capítulo, a série debate a formação de uma nova sociedade em que os direitos e deveres dos cidadãos terão de ser revistos. A influência da mídia e o avanço da tecnologia representam hoje novos desafios para essa organização social. E será preciso criar novas leis para regulamentar essa realidade.
<a href="/wp-content/uploads/2016/11/black-mirror-kelly.jpg"><img class="wp-image-57321 size-medium" src="/wp-content/uploads/2016/11/black-mirror-kelly-300x200.jpg" alt="Black Mirror" width="300" height="200" /></a>
Crimes praticados pela internet já estão sendo combatidos e punidos. O problema é que as consequências de alguns desses crimes, no entanto, são diversas. Vazamentos de fotos e vídeos íntimos, por exemplo, podem ser o calvário de alguém ou a faísca para transformar um desconhecido numa celebridade. A série vai além e mostra, por exemplo, um assassinato em massa realizado por drones e controlado por computador. Como preparar a polícia para combater crimes dessa natureza?
Cada temporada de Black Mirror tem seis episódios independentes – com começo, meio e fim – que contam com atores diferentes. Cada um discute um tema sempre bastante controverso como eutanásia, pedofilia e até eugenia, sempre cutucando o espectador para que ele não se esqueça de que é um ser único e pensante. O futuro nada distante de Black Mirror é apocalíptico não pelos desastres naturais, mas pela deterioração do ser humano. Na visão dos roteiristas, as pessoas estão vivendo e pensando cada vez mais dentro do seu quadrado, sem enxergar outras formas, sem ver o outro e preso a um modelo mundial de estilo de vida. Esse é o apocalipse: um mundo em preto e branco.
<a href="/wp-content/uploads/2016/11/black-mirror-3.jpg"><img class="aligncenter wp-image-57322 size-medium" src="/wp-content/uploads/2016/11/black-mirror-3-300x169.jpg" alt="black mirror 3" width="300" height="169" /></a>
Quais são as implicações deste modo de vida? Haverá leis para as second lives? Quem se atreverá a pensar diferente? Como será recebida pela sociedade a pessoa que quebrar o modelo padrão? Não sei as respostas a essas perguntas, mas espero que esse futuro nada distante não seja assim tão radical. Seria bom que todos fossem seres únicos e pensantes para que o mundo possa recuperar suas cores.  
Todas as temporadas de Black Mirror estão disponíveis na Netflix.

black mirror lacie

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JOTA

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Assim caminha a humanidade...

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