Vicente Braga

O estudo da economia comportamental nos ensina que a confiança é uma espécie de “espírito animal”, um elemento de irracionalidade do nosso comportamento. A confiança é tratada como uma irracionalidade, porque quem confia está, por definição, apostando em determinado resultado sem a certeza desse e sem a verificação exaustiva de todos os elementos disponíveis. 
Contudo, a confiança é elemento indispensável da vida social pela imensa diminuição dos custos de transação que ela possibilita – afinal, quem teria tempo de investigar à exaustão tudo que compra e todo serviço que contrata?
Disso decorre que a desconfiança, quando desmedida, é uma conduta igualmente irracional, pois importa em diversas limitações e prejuízos aos agentes econômicos.
No mercado financeiro não é diferente.  Enquanto o excesso de confiança pode possibilitar a alocação excessiva de recursos em projetos de mérito duvidoso, a desconfiança extrema em boas instituições pode fazer da suspeita derrocada econômica dessas uma profecia autorrealizável. Utilizando a dicção de Kipling, tanto o triunfo quanto o desastre são impostores. Essa dinâmica é o combustível das bolhas (boom) e dos pânicos (bust), essa dinâmica é o combustível das crises.
Portanto, para evitar enormes prejuízos à economia e à sociedade, é fundamental que os agentes atuem de forma ponderada, interpretando com uma pitada de sal tanto as melhores, quanto as piores notícias. Nesse exercício, nenhuma noção é tão valiosa quanto a tautologia de que “uma coisa é uma coisa e outra coisa é outra coisa”. 
A história recente é recheada de casos nos quais instituições financeiras tiveram suas prerrogativas questionadas pela opinião pública. Em alguns desses casos, percebeu-se que foram assumidos riscos excessivos, como na crise das hipotecas subprime nos EUA, que derrubou gigantes, como o Bear Sterns e o Lehmann Brothers. Em outros, fraudes na condução dos negócios foram descobertas, escancarando uma situação patrimonial frágil, até então oculta. Exemplos dessa natureza são bem conhecidos pelo público brasileiro e não precisam ser citados.
Existem ainda aqueles casos em que a instituição financeira não era gerida de forma hábil, ou se viu fragilizada por mudanças repentinas nas condições macroeconômicas, tal como aconteceu com diversos bancos estaduais e de médio porte após a estabilização monetária de 1994. Todos esses casos são uma coisa, porque dizem respeito a instituições que possuíam sérios problemas econômicos, ainda que antes despercebidos.
Outra coisa, contudo, são os casos em que instituições financeiras foram colocadas sob os holofotes da mídia e o escrutínio da opinião pública não por seus deméritos econômicos, mas por problemas reputacionais – ainda que eventualmente imaginários –, ora relativos às atividades que realizava, ora às pessoas físicas que compunham ou encabeçavam a organização. Foi assim com as acusações feitas nos EUA ao HSBC em 2012 pela leniência dos controles contra lavagem de dinheiro. Também foi esse o caso das acusações de condutas anticompetitivas por parte de traders de diversos bancos, a fim de manipular a taxa LIBOR – caso que já foi objeto de diversos termos de compromisso no exterior e que este ano chegou ao CADE. 
No Brasil, viu-se isso quando da decretação de prisão temporária de Daniel Dantas e outros diretores do Banco Opportunity, no âmbito da Operação Satiagraha, em 2008, por suspeitas de corrupção e lavagem de dinheiro. Mais recentemente, viu-se isso com a prisão preventiva de André Esteves, pela suspeita de tentar dificultar as investigações da Operação Lava-Jato. Nos últimos dias, vimos isso com a queda de 5% das ações do Bradesco mediante notícia do indiciamento do seu presidente, Luiz Trabuco.
Nesses casos, os problemas giram em torno de questões reputacionais – ainda que especulativas, reitere-se –, mas que não afetam a higidez econômico-financeira das instituições. Ainda que possa haver – e normalmente há – algum custo pecuniário para as instituições financeiras envolvidas nesses casos, o tempo tende a mostrar que não há justificativa para pânico dos investidores. Tanto foi assim que todas as instituições citadas nesses casos, inclusive o Banco Opportunity, sobreviveram a esses episódios e mantêm, até onde se tem notícia, solidez financeira.
De fato, é comum os agentes econômicos reagirem ao noticiário de maneira exagerada e irracional. Investidores do Opportunity, por exemplo, sacaram aproximadamente R$ 1 bilhão nas 48 horas que sucederam a prisão temporária de seus diretores. Muitos desses resgates resultando em prejuízos aos investidores, inclusive. Quando isso ocorre, parte do ativo precisa ser vendida às pressas, no que se destrói valor sem fundamento econômico e todos saem prejudicados. 
Para evitar esses lapsos de julgamento e os prejuízos que deles decorrem, é preciso que os investidores aprendam a compreender melhor os perigos de se agir com base no “espírito animal”, porque há tanta irracionalidade no excesso de confiança, quanto na sua absoluta ausência. É preciso, para usar o binômio investigado na ótima obra de Nate Silver, saber diferenciar o sinal do ruído. É preciso, portanto, olhar para episódios passados e diferenciar uma coisa de outra coisa. Disso depende a nossa maturidade econômica, disso depende a preservação de um sistema financeiro sólido e eficiente.

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JOTA

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