Francisco Petros

As crises corporativas originadas por fraudes, dentre as quais, denúncias de corrupção ou infrações às normas jurídicas se tornaram, infelizmente, parte do cenário da vida corporativa. Seus efeitos são substanciais sobre os negócios, mas também afeta todo o conjunto de stakeholders (partes relacionadas, formal ou informalmente).
Portanto, as empresas têm de estar preparadas para lidar com essa realidade. Cabe lembrar que a prevenção, via compliance, uma adequada governança corporativa e bons padrões e controles internos, é a melhor forma de se evitar crises. Todavia, estas acontecem...
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As consequências das crises corporativas se dão de muitas formas, mas aqui trato de dois aspectos: (i) investigações internas e (ii) adoção das correções necessárias ao restabelecimento do correto status quo ético, legal e de boas práticas corporativas.
No que tange às investigações internas realizadas por comitês (ou comissões) de investigação, é preciso registrar que muitas empresas temem adotar essa medida, acreditando que estas poderiam deixar ainda mais evidentes os fatos que, em verdade, os administradores gostariam de não ver revelados. Trata-se de verdadeiro engano.
As investigações internas, quando conduzidas de forma independente e tecnicamente sustentada, são instrumentos, por vezes “dolorosos” para as empresas, mas os resultados verificados em muitos casos recentes evidenciam que a dor vale a pena.
Em primeiro lugar, tais investigações internas permitem que a empresa possa “separar” das suas atividades operacionais corriqueiras a obtenção de informações e análise sobre malfeitos passados. Assim, a empresa investiga o que ocorreu e corrige seu rumo.
Em segundo lugar, a comunicação com as autoridades, sejam do Brasil, sejam do exterior, se torna mais transparente e fluida o que evita que o Poder Público tome medidas mais radicais para instruir as suas próprias investigações.
Melhor um Comitê de Investigação que medidas coercitivas por parte da polícia e de outras autoridades. Atualmente o Poder Público já conta com o esforço da empresa para fornecer informações, dados e contextos sobre fatos, for vezes criminosos. A colaboração com as autoridades do país e do exterior é sinal de respeito da empresa pela Lei e causa para a redução de multas e outras penas.
Em terceiro lugar, as investigações internas dão luz aos anseios dos bons empregados e dirigentes das empresas, bem como, satisfação à sociedade, no geral, a maior vítima de graves erros e ilícitos perpetrados por empresas.
A direção das empresas, bem como, seus acionistas, ao apoiarem as investigações internas reduzem riscos e tem a concreta oportunidade de separar “o joio do trigo”: maus funcionários são afastados e, eventualmente, responsabilizados e a empresa tem a oportunidade de melhorar as suas normas de compliance, de controles internos e de governança corporativa.
Comitês de Investigação Independentes (com membros externos à empresa e que supervisionam as investigações conduzidas por advogados e empresas especializadas) quando diligentes e competentes promovem condições para que as remediações ocorram durante o processo investigativo e não após as investigações.
<blockquote class="jota-article__eye">Assim, cria-se um ambiente colaborativo entre os investigadores e a administração corporativa. É fundamental que os managers vejam as investigações como uma oportunidade e não como um problema.</blockquote>
De fato, os verdadeiros aspectos negativos para a empresa são os maus comportamentos em relação à corrupção, ao meio ambiente, ao meio social, aos funcionários, e assim por diante. As investigações são parte da solução, em verdade.
Por fim, é preciso que a função social da empresa seja o pano de fundo da análise desse tema. No mundo atual, os colapsos das empresas (de natureza microeconômica) influenciam muito além dos seus próprios negócios. Afetam, isso sim, toda a sociedade e a economia (natureza macroeconômica e macrossocial). É preciso cultivar um olhar humanista para não permitir que as tormentas das crises corporativas atinjam as portas de nossas próprias casas.

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JOTA

Os colapsos das empresas influenciam muito além dos seus próprios negócios, afetam toda a sociedade e a economia

Investigação interna de empresas: solução e não problema

Os colapsos das empresas influenciam muito além dos seus próprios negócios, afetam toda a sociedade e a economia