Etienne Jacintho

Há crimes que causam comoção e até ganham repercussão maior do que final de campeonato esportivo. Quem não acompanhou os rumos do caso da morte da menina Isabella Nardoni, em 2008, e do assassinato dos pais de Suzane Von Richthofen, em 2002? Nos dois casos, a mídia se empenhou em cobrir, discutir e mostrar tudo sobre a investigação: perícia, testemunhas, linha do tempo... Depois, mais mobilização nacional, com a cobertura dos julgamentos dos réus e as prisões dos culpados. Todo o País sabia o que estava acontecendo. Todos tinham uma opinião. Todos condenaram os suspeitos antes mesmo do julgamento. 
Agora, o que acontece quando o suspeito é famoso? Quantas pessoas custaram a acreditar que um goleiro do Flamengo encomendaria o assassinato de uma ex-namorada? O caso do desaparecimento da modelo Eliza Samudio parou o Brasil por envolver um jogador de futebol e por ser cercado de mistérios – que, aliás, permanecem até hoje. Não encontraram o corpo da jovem. Chegaram a afirmar que ela tinha sido devorada por cães, mas não se sabe o que aconteceu. Mesmo sem um corpo, Eliza foi declarada morta. Bruno confessou participação no crime e está cumprindo pena. 
Bruno era um esportista conhecido no Brasil, mas não um ídolo nacional. Lá nos Estados Unidos, um crime causou um rebuliço por envolver um dos maiores jogadores de futebol americano de todos os tempos. O.J. Simpson é um ídolo americano no mesmo nível de Pelé para os brasileiros. E, em 1994, ele foi acusado de matar a ex-mulher, Nicole Brown e o amigo dela, Ron Goldman. Os Estados Unidos pararam para acompanhar o julgamento do esportista. 
Com tantas evidências periciais que apontavam O.J. Simpson como autor do crime, parecia impossível criar uma defesa para ele. Foi montada uma equipe de advogados que recebeu o apelido de “dream team”, por reunir os melhores nomes daquele país.  Advogados brilhantes e acostumados a casos de repercussão nacional em que precisam lidar com a mídia e usá-la a seu favor. Na promotoria, uma advogada que não queria ser estrela, só fazer justiça a partir das provas reunidas pela perícia policial. 
No tribunal, enquanto a promotoria mostrava as descobertas da investigação, a linha do tempo e as provas de DNA, a defesa atacava a polícia de Los Angeles com denúncias de racismo – naquela época, a polícia da Califórnia e a comunidade negra estavam num embate. Para piorar, a defesa descobriu provas de que o policial responsável pela coleta da maior parte das evidências da perícia, e principal testemunha da promotoria, era praticamente um nazista. E então, o tribunal se transformou num palanque para se discutir questões raciais e não mais o assassinato de duas pessoas. 
O julgamento se arrastou por 11 meses e o júri demorou apenas 4 horas para chegar a um veredito. Esse tempo é o foco da série “American Crime Story: The People vs. O.J. Simpson”, que já foi ao ar no FX e chega ao Netflix. A série que arrematou diversos prêmios Emmy e Globo de Ouro, conta com excelentes atuações e mostra o espetáculo armado por trás da prisão e julgamento de O.J. Simpson. Em 10 episódios, a atração mostra a pressão da mídia sobre os advogados de defesa e promotores e a exploração pessoal dos envolvidos, que se tornaram celebridades, mesmo sem querer. 
O julgamento de O.J. foi a primeira temporada de “American Crime Story”, que já tem mais três temporadas garantidas e abordará os desdobramentos do furacão Katrina, que atingiu os Estados Unidos em 2005; o assassinato do estilista italiano Gianni Versace, em Miami, em 1997; e o escândalo sexual do presidente americano Bill Clinton, revelado em 1998. A segunda e a terceira temporadas devem ir ao ar somente em 2018. 
Enquanto isso, na Grã-Bretanha...
Investigação de um crime real também é o foco da série “The Investigator: A British Crime Story”, em cartaz na Netflix. A atração aborda o desaparecimento de Carole Packman, em 1985. O suspeito é o próprio marido, Russell, que afirma que a mulher fugiu para outro país por não aguentar sua situação matrimonial, pois ele levou a amante para morar com a família. O marido, porém, foi preso por assassinato e até os dias de hoje diz ser inocente.
<a href="/wp-content/uploads/2017/02/british-crime-story.jpg"><img class="aligncenter wp-image-68676 size-full" src="/wp-content/uploads/2017/02/british-crime-story.jpg" alt="british crime story" width="635" height="300" /></a>
A filha do casal, Samantha, não se conforma em não saber o que houve com a mãe, cujo corpo nunca foi encontrado, e contrata um detetive para descobrir mais informações e convencer o pai a falar sobre o desaparecimento de Carole. Em quatro episódios, o investigador Mark Williams-Thomas reconstrói os acontecimentos que precederam o sumiço de Carole e os fatos que se seguiram, com foco em Russell e Patricia, a amante. Fraudes, mentiras, golpes e encenações são alguns temperos dessa trama.
Porém, diferentemente de “American Crime Story”, “The Investigator” não aborda o julgamento nem entrega um desfecho fenomenal. O desaparecimento de Carole não tem solução. É como o caso da menina Madeleine McCann, que desapareceu em 2007, em Portugal, e nunca foi encontrada. Até hoje, o caso ainda ganha cobertura da mídia quando uma nova pista aparece. Assim como Madeleine, Carole  Packman pode até estar viva, quem sabe?

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JOTA

Suspeitos não admitem culpa em American Crime Story: The People vs. O.J. Simpson e The Investigator

Histórias de crimes

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