Leonardo Barém Leite

Umas das “brincadeiras” que se fazia com advogados, sobre as “vocações” consideradas para a escolha da carreira, era a baixa afinidade com a aritmética (com a “matemática).
Naturalmente, tratava-se de um preconceito, e, claramente, de uma “brincadeira”, pois sabemos que advogados que realmente se apaixonam pela profissão - e que de fato são profissionais destacados - assim o são por muitas outras razões, e bem mais profundas e importantes do que essa.
Sem “contar” (e já abusando do trocadilho) que advogados sempre “fizeram contas”, seja com relação aos prazos, seja com relação aos diversos percentuais relativos a custas e taxas, e mesmo no que se refere aos próprios assuntos a eles confiados, que muitas vezes são sim ligados a cálculos, valores etc.
De outro lado, sabemos que outras carreiras e áreas (as chamadas exatas”, por exemplo) são mesmo mais afetas, diretamente, aos cálculos, sendo essa uma das razões do grande número de engenheiros na área financeira das empresas.
Ainda que alguns (ou vários) advogados talvez não gostem, ou preferissem não “viver entre os números”, a verdade é que todos temos sim que conviver com os cálculos, e com os números.
Há algum tempo poderíamos pensar que o advogado “padrão” fosse o profissional mais afeto ao discurso, à oratória, assim como à leitura, à redação, bem como fosse o que sempre lutasse pela Justiça e pelo Direito.
Quero crer que tudo isso ainda seja verdade, e que o conhecimento jurídico, a busca pelo “correto e justo”, a valorização dos princípios que aprendemos na graduação em direito, assim como a experiência acumulada ao longo de décadas ainda tenha o seu lugar. Mas temos que aceitar e reconhecer, que já não é “bem assim”.
Empresas, mesmo as éticas e corretas, trabalham para obter resultados, lucros, e é esse o seu objetivo e o seu idioma.
Conceitos e práticas ligados ao respeito à lei, à ética e à cultura do correto, passando pela boa governança corporativa, pela sustentabilidade, e mais recentemente pelo binômio “integridade/compliance” são e precisam ser verdades e realidades nas empresas. Temos que acreditar nisso e lutar para que seja sempre real. Mas ainda assim, os números terão o seu lugar de destaque.
A questão toda, portanto, efetivamente precisas ser recolocada, pois poucos advogados (se é que existiam) pensariam, há algumas décadas, que a gestão jurídica nas empresas seria tão ligada a cálculos como é atualmente.
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De forma alguma estaríamos sequer pensando em reduzir a profundidade e a seriedade da gestão jurídica corporativa estratégica apenas a “cálculos”, como se máquinas, robôs e “softwares” pudessem de fato fazer isso sozinhos.
Sabemos ser evidente que a gestão envolve extremo conhecimento do negócio, excelência jurídica, enorme capacidade de gestão, visão empresarial e estratégica do que lhe é alocado, experiência e várias outras competências, mas que de fato a capacidade de utilizar os “cálculos” no seu trabalho vem aumentado, vem...
Já abordamos, em outros artigos, que o cerne da gestão jurídica estratégica atual é a gestão de riscos, e só por esse prisma já teríamos que usar “as contas” para entender os cenários e “calcular” variáveis, probabilidades, efeitos, percentuais etc. – e, com isso, os próprios riscos e as famosas equações de custo x benefício.
Grande parte do que se espera do gestor do jurídico corporativo está de fato baseada em “contas”, em cálculos, nas probabilidades, nos potenciais de impacto, na relação custo x benefício, além das provisões, das perspectivas...
Atualmente, vivemos a cultura do famoso “mais com menos”, como já abordamos em outros artigos, e a pressão pelos custos, de um lado, e pelos resultados, de outro,  gera a necessidade de calcular sempre, avaliando sempre o que “vale” a pena.
Talvez o “ideal” e o “certo” fosse considerar mais do que apenas as “contas”, e em muitos casos ainda se consegue, mas o que mais tem ocorrido é vermos a cultura dos cálculos.
Muito desse movimento deriva da própria realidade de alguns gestores corporativos que se reportam a executivos financeiros, que por sua vez querem uma comunicação “no seu idioma”.
Gráficos, planilhas, cálculos e previsões passaram a fazer parte do dia a dia do advogado corporativo, que hoje em dia só tem uma chance para permanecer “no jogo”, adaptar-se.
Temos que passar sim a entender de números, de matemática, de “contas”, de “cálculos” e assim por diante, pois é o idioma da empresa e é a forma como se avalia resultados, e com base no que se toma decisão.
Em quase todos (para não dizer todos) os assuntos que chegarem ao seu conhecimento, e sobre os quais precise atuar ou se pronunciar, estarão “embutidos” conceitos como “quanto custa”, qual é a chance disso acontecer”, “qual é o impacto de fazermos assim ou assado”, e muito mais.
Decisões como ingressar ou não em juízo, contestar ou não certas demandas, “brigar” ou não por direitos, defender ou não certos princípios e teses, seguir por este ou por aquele caminho, correr ou não aquele risco, passam, cada vez mais, pelas famosas ”contas”.
A cultura, a experiência e o conhecimento jurídicos precisam continuar norteando o trabalho do advogado corporativo, que cada vez mais precisa viver intensamente esse mundo misto e complexo que congrega o que o próprio termo indica a “advocacia” e a realidade “corporativa”.
Fazemos contas sim, e a todo momento, e com base nos cálculos, nas projeções, nas probabilidades, nas perspectivas, nas alternativas, e nas informações que tivermos, tentaremos estabelecer cenários, para a tomada de decisão – das mais simples às mais complexas. 
Tanto isso é verdade que já temos lutado, desde meados dos anos 1990, pela reformulação do ensino e da “grade” jurídica no País, para que já na graduação em direito, os estudantes tenham (ao menos como opção) treinamento real e profundo nessa nova realidade, que passa em grande parte pelo domínio dos números.
Aos que não tiverem essa aptidão nata, e que não tenham conseguido esse conhecimento de outras formas, temos apenas uma sugestão – aceite, adapta-se, e aprenda....
Os caminhos são vários, mas em muitos casos uma das melhores alternativas é o famoso “MBA”, que ajudará não apenas a entender mais e melhor o mundo corporativo, como também ajudará na questão da “matemática” e das “contas”.
Gerir um departamento jurídico atualmente não é apenas isso, mas passa sim por “fazer contas”....
Esse é um dos vários tópicos que a moderna e estratégica gestão jurídica nas empresas vem estudando, e que tem evoluído bastante. Procure conhecer mais sobre a advocacia corporativa, seus desafios, as melhores práticas, e o que se tem feito de mais moderno no Brasil.

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JOTA

Gráficos, planilhas e cálculos passaram a fazer parte do dia a dia do advogado corporativo

Gerir um Departamento Jurídico é "fazer contas"

Gráficos, planilhas e cálculos passaram a fazer parte do dia a dia do advogado corporativo