Gesner Oliveira

Está em análise, pelo governo, uma possível expansão da capacidade do aeroporto de Congonhas, em São Paulo. Tal expansão pode significar dezenas de voos a mais por dia no aeroporto. No entanto, sabe-se que não há mágica no setor aéreo. Qualquer elevação do número de voos em um aeroporto já reconhecidamente sobrecarregado depende necessariamente de investimentos na sua infraestrutura, sob pena de colocar em risco a conectividade das empresas e a qualidade do serviço prestado aos passageiros.
O aeroporto de Congonhas constitui o principal ativo dos 11 a serem leiloados na sétima rodada das concessões da <a href="https://www.jota.info/tudo-sobre/anac">Anac</a>, prevista para ocorrer no próximo dia 18. Ao que tudo indica, a ideia da expansão da capacidade em debate é elevar a receita potencial da concessionária com o aeroporto, o que significaria lances maiores para o governo na licitação do bloco SP-MS-PA-MG, cujo contrato já tem valor estimado em torno de R$ 11,6 bilhões.
Ocorre que debates como esse exigem justificativa técnica, e não política. Isso porque há uma série de riscos ligados ao aumento da capacidade do aeroporto sem a necessária contrapartida de investimentos que, se não resolvidos, têm o potencial de gerar um caos em Congonhas. Dentre estes riscos, vale destacar o agravamento do atraso por tráfego aéreo, maior sobrecarga da infraestrutura disponível devido ao excesso de demanda e o aumento do ruído nas redondezas do aeroporto.
Atualmente Congonhas já é um dos aeroportos brasileiros com pior índice de atraso por tráfego aéreo. Em alguns casos, o tempo entre o fechamento de portas do avião e a decolagem chega a 50 minutos, além de quase meia hora de taxi out. Ademais, por se situar no meio da cidade, o aeroporto conta ainda com horário de funcionamento reduzido, fechando entre 23h e 6h da manhã. Qualquer problema meteorológico que impeça pousos e decolagens já costuma “empurrar o problema para o dia seguinte”. Com mais voos por dia, tais problemas só tendem a piorar, gerando mais custos para as empresas aéreas — e esses custos podem recair sobre o novo concessionário, além de mais filas e cancelamentos para os usuários.
Outro risco evidente é de agravamento da sobrecarga da infraestrutura disponível. Atualmente o aeroporto já sofre com a escassez de posições de estacionamento, de parada de aeronaves e ônibus para transportar passageiros. Mais voos por hora vão demandar mais ônibus, caminhões abastecedores e vans para tripulação, ou seja, o tráfego de veículos dentro do aeroporto deve aumentar. Isso tende a elevar o tempo médio de circulação, o que impactará nos custos operacionais das empresas e, consequentemente, nos preços das passagens. Para além dos atrasos internos e passagens mais salgadas, os passageiros ainda sofrerão com mais trânsito nas imediações do aeroporto.
Congonhas foi o quarto aeroporto mais movimentado do país em 2021. Em 2019, período anterior à <a href="https://www.jota.info/tudo-sobre/covid-19">pandemia da Covid-19</a>, chegou a movimentar mais de 22 milhões de passageiros, conforme dados do Sistema Hórus da Secretaria Nacional de Aviação Civil (SAC). Não à toa, as salas de embarque estão frequentemente cheias. Estima-se que com a expansão da capacidade haja um aumento de ao menos 500 passageiros circulando nas salas de embarque. O paulistano já é conhecido por “gostar” de filas, imagine com a decisão de expandir a capacidade de forma precipitada.
Por fim, vale destacar o risco de aumento do ruído. O volume de tráfego atual já ultrapassa 55 decibéis, dez níveis acima do índice permitido pela Lei 16.402/2016, a chamada <a href="http://legislacao.prefeitura.sp.gov.br/leis/lei-16402-de-22-de-marco-de-2016">Lei do Programa Silêncio Urbano (Psiu)</a>, de modo que associações de moradores de bairros das zonas oeste e sul da capital paulista já têm se mobilizado de forma contrária.
A mitigação destes riscos passa necessariamente por mais investimentos na infraestrutura do aeroporto de Congonhas, onde historicamente o fluxo de passageiros cresceu muito mais do que os investimentos realizados. Vale ressaltar que tais contrapartidas já fazem parte do plano da licitação, mas não vão ocorrer da noite para o dia. Espera-se que as autoridades responsáveis não passem o “avião” na frente dos bois e respeitem o sincronismo que se exige entre a realização de investimentos e o aumento da capacidade do aeroporto, sob pena de gerar um caos, em prejuízo de todos.

Aeroporto Congonhas

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JOTA

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