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Ecossistemas de inovação como política pública

O LIFT Learning do Banco Central

ecossistemas de inovação
Crédito: Unsplash

Ecossistemas de inovação ou comunidades de startups, como o Vale do Silício na Califórnia, a Rota 128 em Massachussets, o Ecossistema de Florianópolis, o Ecossistema  Mineiro (San Pedro “Valley”) e outros, com sua imensa capacidade de gerar novas empresas revolucionárias, sempre foram foco de grande interesse: é possível copiar o que torna esses ecossistemas “mágicos”? Como o governo deve apoiar a criação/crescimento dessas comunidades?

Um conceito útil: a economia do conhecimento de Roberto Mangabeira Unger

Apesar da imensa quantidade de material escrito sobre esses ecossistemas ou comunidades, faltava uma teoria unificadora, um “guarda-chuva” conceitual que unificasse o que há de comum em lugares tão diferentes. O filósofo Roberto Mangabeira Unger, da Harvard Law School, oferece um modelo interessante em sua “economia do conhecimento”[1] ou, como aqui chamamos, arquipélago de inovação. Segundo Unger, a economia do conhecimento, mesmo nos países mais ricos, existe hoje somente em ilhas de excelência isoladas de grande parte da população. Essas ilhas são responsáveis pelo desenvolvimento de startups de alto potencial e produtos tecnológicos, bases da vida moderna, como motores de busca, mídias sociais, computação em nuvem, impressão 3D, carros autônomos, smartphones, computadores e outros

O trabalho na economia do conhecimento é feito em redes, não hierarquias. Esse tipo de trabalho avançado necessita de colaboração, autonomia, troca aberta de ideias. É um tipo de trabalho livre da rotina mecânica central ao antigo modo de produção industrial em massa (lembrar Charlie Chaplin em Tempos Modernos). O surgimento de arquipélagos da inovação depende de criatividade e espontaneidade, tendo-se, pela terminologia de Unger, a mente como imaginação em oposição à mente como máquina.

O fato de apenas pequenas porções da atividade econômica mundial ocorrerem na economia do conhecimento tem como consequência o aumento do trabalho precário e da desigualdade. Isto ocorre porque a minoria que desenvolve produtos tecnológicos (as Apples, Googles e Facebooks) recebe a maior parte dos benefícios em detrimento aos trabalhadores fora desta produção avançada. Estes fatos colocam em posição central o aumento do alcance da economia do conhecimento em políticas públicas de incentivo ao desenvolvimento econômico e diminuição de desigualdades.

Unger também apresenta como fundamental, para aumentar o alcance da economia do conhecimento (esse aumento é chamado pelo autor de “vanguardismo inclusivo”), uma reforma educacional que encoraje experimentalismo em vez da memorização e decoreba típicos do ensino tradicional. Só esse experimentalismo possibilitaria as habilidades necessárias para funcionar na economia do conhecimento.

Tornando concreto o conceito de economia do conhecimento

Apesar do conceito de economia do conhecimento ser útil como síntese, o autor não traz detalhes específicos sobre como chegar a esse avançado estágio de produção. O trabalho realizado em empresas como Google, Alibaba, Tencent, Baidu, Apple, Microsoft, Facebook e Twitter certamente se encaixam na descrição de arquipélagos de inovação, mas como, do ponto de vista de política pública, será possível estender esse tipo de trabalho avançado a um segmento maior da população?

Para tornar o conceito de economia do conhecimento concreto podemos, com alguma liberdade de interpretação, torná-lo aproximadamente equivalente ao processo de digitalização hoje em curso em vários segmentos da economia e acelerado pela pandemia. É o caso, por exemplo, do surgimento de novos negócios digitais, seja no mercado financeiro através das fintechs ou, ainda, com a aceleração do e-commerce, ambos baseados em tecnologias como computação em nuvem, inteligência artificial e internet das coisas.

Usando essa equivalência é possível estimar o grau de penetração da economia do conhecimento e o modo de produção avançado em vários países. Estudo recente da consultoria Mckinsey[2] mostra que, na Comunidade Europeia, apenas 12% da atividade econômica ocorre via digitalização, enquanto nos Estados Unidos esse valor chega a 18%.

Se mesmo as economias mais avançadas contam apenas com arquipélagos isolados operando na fronteira de produção, a situação deve ser ainda pior para países em desenvolvimento. Esta constatação dá senso de urgência a políticas públicas que incentivem o surgimento desses espaços de inovação no Brasil. Ao menos é o que indicam estudos de tantos outros professores da escola de Harvard, como o Daniel Isenberg[3], que colocam o poder público com a importante responsabilidade de protagonista neste processo.

O Programa LIFT Learning do Banco Central

Resta explorar como o desenho de políticas públicas pode, no cenário brasileiro, ampliar o alcance da economia do conhecimento. Um bom exemplo é o programa de fomento a ecossistemas de fintechs do Banco Central, o LIFT Learning.[4] Mais detalhes sobre a edição piloto do LIFT Learning, realizada pela Universidade de Brasília, UnB, e a Fundação de Apoio à Pesquisa do DF, FAPDF, pode ser encontrada aqui. Uma apresentação detalhada sobre os projetos desenvolvidos na edição piloto pode ser encontrada aqui https://indd.adobe.com/view/42384ea4-e280-4a9e-9f9d-1b0169adda32.

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[1] http://www.robertounger.com/pt/wp-content/uploads/2018/11/ECONOMIA-DO-CONHECIMENTO.pdf

[2] https://tinyurl.com/5x7dowwl

[3] Isenberg, D.J. (2010). How to start an entrepreneurial revolution. Harvard Business Review, 88(6), 40–50.

[4] https://www.gov.br/startuppoint/pt-br/programas/lift-learning