Leonardo Barém Leite

O mundo de hoje é bem mais complexo do que “o de antes”, e sabemos que muito disso decorre da liberdade que as pessoas têm conquistado de serem “elas mesmas”. E da ausência dos antes “confortáveis” padrões. A sociedade mais flexível e menos fechada ou padronizada começa a “ver” as pessoas como são (e como querem ser), abandonando muitas das regras e dos formatos obrigatórios de outrora.
Muito dessa nova realidade decorre de políticas públicas, de legislação afirmativa e inclusiva, de conquistas de grupos organizados. Mas deve haver também uma visão positiva disso tudo pela própria sociedade – por todos nós. Viver num mundo mais verdadeiro (do jeito que é) é melhor. Simples assim!
Tempos difíceis são os atuais, na visão de muitos. E de certa forma são mesmo, pois temos visto movimentos e movimentações extremistas, nacionalistas, protecionistas, segregativas, autoritárias  e tantas outras nos quatro cantos do mundo. De certa forma, “cada um luta pelo seu”, e em alguns casos corremos o risco de perder a noção do todo. Mas temos que combater os extremos e buscar a harmonia.
O aumento da expectativa de vida nos tem ensinado a conviver com a chamada terceira idade (e pode ser que em algum momento se crie o conceito de quarta idade), o respeito e a inclusão dos portadores de necessidades especiais mudou (e precisa mudar muito mais) as cidades, e muito mais tem “vindo” com a realidade “das ruas”, que nos mostra a diversidade de comportamentos, de opções sexuais, de “cores”, de “corpos”, de estilo de ser e de viver, de se vestir, de religiões, de posições políticas, de preferências, de origens, de conceitos de família etc. Muito menos pessoas e características precisam ser escondidas, e quase todo mundo pode ser mais verdadeiro.
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Essa nova realidade, que talvez seja chamada por alguns de “novidade” ou de “moderna”, ou até de conquista, talvez possa ser também chamada de sociedade real. Reconhecermos que essa diversidade de pessoas e de “tribos” nada mais é do que enxergarmos os indivíduos e os grupos como são, e de reconhecermos o seu direito de serem assim (como são), sem amarras artificiais e autoritárias.
E essa “nova” sociedade (mais aberta, flexível, verdadeira, inclusiva e plural) se manifesta em todos os lugares, momentos, situações e realidades, nas nossas famílias, nos círculos de amigos, nos relacionamentos profissionais, nos condomínios e clubes, nas ruas etc. E nas empresas também! Parte dessa aceitação do mundo real, e das pessoas como são pode ser facilmente confundido com o “politicamente correto” e pode ser trazido para as empresas apenas por questões legais ou por pressão do mercado, ou ainda para que se crie uma boa imagem (interna e externamente).
Nos departamentos jurídicos e nas empresas de forma geral, esses temas têm sido, felizmente, muito debatidos, e a questão é tão complexa quanto estamos todos despreparados para lidar com ela. A questão toda dificilmente “evoluirá” se for tratada apenas como uma questão de imagem, ou legal, ou até de tendência, sendo preciso que a aceitação do mundo real de fato se materialize.
Para advogados, talvez a primeira questão que venha à mente seja a jurídica, como as chamadas “Quotas”, as políticas de inclusão e congêneres, até mesmo de “compliance” ou de acordos coletivos, assim como de determinações globais ou regionais nas empresas. E há mesmo tudo isso. Mas talvez devamos ir bem além...
A diversidade (no ambiente corporativo) atualmente “aceita” e reconhecida precisa passar, rapidamente, à categoria de vantagem, de diferencial positivo, à medida em que os departamentos jurídicos e as empresas de forma geral passem a constatar que ganham (e muito) com isso.
O mundo real precisa entrar nas empresas pela porta da frente, e todos precisam ser efetivamente bem vindos, e até desejados, e não apenas por ideologia ou por consciência  social, e muito menos por obediência à legislação, mas pelo reconhecimento de que esse combate à unanimidade burra é salutar e benéfico a todos.
Pessoas são únicas, são indivíduos, e como tais únicos, mas tendem a se agrupar em “tribos”, com características específicas, sem que existam certos e errados, ou melhores e piores. São como são”. Essa diversidade ajuda (e muito!) a empresa a pensar de todas as formas, por todos os lados e ângulos, a considerar tudo o que for possível, a “pensar em tudo”, a tentar “ver tudo”. Prática não apenas salutar como inteligente e muito mais adequada ao mundo atual.
Como as pessoas agora não seguem mais padrões “únicos” para nada, e vivemos em um mundo plural, a maneira como as empresas se formam e agem, como se relacionam com seus mercados, com seu publico interno e externo, como tomam decisões, como fazem escolhas, as causas que abraçam, as suas posturas e atitudes etc. também são agora das mais diversas.
Se você concorda com essa linha de pensamento, e já percebeu que a diversidade é positiva, talvez deva refletir sobre como esse tema está sendo tratado e vivenciado no seu departamento? Na estruturação da equipe, no recrutamento, no desenho de posições, no mix de competências e nos demais aspectos que costumam ser considerados na sua área, como está sendo tratada a igualdade de oportunidades, ou até o incentivo à diversidade?
Pessoas de origens, religiões, cores, orientações, estilos, “escolas”, perfis diferentes são de fato presentes e efetivamente inseridas? Caso o sejam, essa questão é uma liberalidade ou apenas fruto de legislação, de consciência ou de imagem? A questão tem sido vista como positiva e como vantagem competitiva? Questões como a faculdade que as pessoas cursaram, os idiomas nos quais se comunicam, os bairros onde moram, os esportes que praticam, a arte que apreciam, seus temperamentos e personalidades, a forma como pensam e o que pensam, já é visto como diferencial competitivo e algo realmente estimulado?
Pessoas “diferentes” são realmente procuradas e contratadas? E quando ingressam na sua equipe, continuam tendo a liberdade de ser quem são? Diferenças de postura, de comportamento e de opinião são permitidas e até estimuladas?
Pessoas “diferentes” são chamadas a dar a sua opinião e a sua contribuição genuína nas questões jurídicas que enfrentam e na maneira como as decisões são tomadas e as estratégias definidas Questões como habilidades e temperamentos diferentes, estilos próprios, visões alternativas, podem ser determinantes de sucesso em tomadas de decisão, em estabelecimento de linhas de conduta, em processos de negociação, em estruturação de linhas de negócio e em quase tudo o que for trazido à análise e à participação do jurídico. Isso está ocorrendo na sua empresa?
Perceber que nem todos querem trabalhar necessariamente por mais dinheiro, que nem todos fazem questão de ter uma sala, que nem todos querem chegar ao mesmo lugar na carreira, que um colaborador pode ter mais interesse em horário flexível e outro em incentivo a atividades acadêmicas, enquanto um pode ter mais interesse em poder trabalhar em casa e ter mais tempo com a família e outro pode achar mais importante ter acesso a negociações em que se sinta mais inserido, dentre vários outros exemplos, precisam ser percebidas pelo gestor. Assim como reconhecer que a origem, a faculdade cursada, a visão de mundo de cada um pode ser mais adequada neste ou naquele momento, nesta ou naquela situação, e com este ou aquele objetivo.
Na sua realidade, ainda é a pessoa que precisa se adaptar á estrutura, ou a organização, o trabalho, as rotinas e os demais colegas de equipe também se preocupam com o ambiente todo e as necessidades e características de cada um? As pessoas podem mesmo ser como são, ou ainda há padrões “sugeridos”?
O seu departamento jurídico está realmente permitindo a diversidade, e até estimulando? Está percebendo que isso é não apenas natural como positivo? Ou apenas se preocupa em cumprir quotas ou em ser politicamente correto?
Situações artificialmente organizadas, especialmente quando se trate de pessoas, tendem a não ser sustentáveis e a não produzirem os melhores resultados.
Como é o seu departamento jurídico nesse sentido? E como funciona tudo isso nos escritórios de advocacia, nas empresas de consultoria e de auditoria (dentre outros parceiros) que a sua empresa contrata? Como esse assunto (como um todo e sob esses e outros prismas) está sendo tratado na sua empresa e no seu departamento?
Você está preparado e realmente vivendo a diversidade no ambiente corporativo?
Esse é um dos vários tópicos que a moderna e estratégica gestão jurídica nas empresas vem estudando, e que tem evoluído bastante. Procure conhecer mais sobre a advocacia corporativa, seus desafios, as melhores práticas, e o que se tem feito de mais moderno no Brasil.

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Diversidade no departamento jurídico

Exigência ou realidade?