Anderson Röhe

<p>A atual cruzada infligida pelo presidente <a href="https://www.jota.info/tudo-sobre/donald-trump">Donald Trump</a>, com o propósito de proteger a indústria e economia doméstica norte-americana, vem impondo não só tarifas alfandegárias aos demais países, mas um cenário global de incertezas e instabilidade. E como fica a situação do Brasil dentro da disputa entre dois de seus maiores parceiros comerciais?</p>
<p>Ainda que o <a href="https://economia.uol.com.br/noticias/redacao/2025/04/02/tarifas-trump---reacoes-brasil.htm">“tarifaço” de Trump tenha aplicado a alíquota mínima de 10% aos produtos brasileiros</a>, a medida nos preocupa pois, embora gere um alívio de imediato, tende a afetar quase <a href="https://static.poder360.com.br/2025/04/Mdic-MRE-nota-taxacao-EUA-2-abr-2025.pdf">“todas as exportações brasileiras de bens para os EUA”</a> a médio e longo prazo.</p>
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<h3>Posição do Brasil como um habitual negociador</h3>
<p>A política externa brasileira tem tradicionalmente adotado uma posição conciliadora nos conflitos, <a href="https://static.poder360.com.br/2025/04/Mdic-MRE-nota-taxacao-EUA-2-abr-2025.pdf">aberta ao diálogo</a>. Logo, diante desse cenário, não seria diferente. Na tentativa de reverter ou ao menos minimizar os impactos do chamado “Dia D”, <a href="https://g1.globo.com/politica/noticia/2025/03/31/diplomatas-brasileiros-viajam-aos-eua-para-tentar-negociar-alternativas-ao-tarifaco-de-trump.ghtml">diplomatas brasileiros chegaram a viajar aos Estados Unidos</a> visando antecipar a negociação desse aumento tarifário.</p>
<p>A tratativa era a de adotar uma <a href="https://static.poder360.com.br/2025/04/Mdic-MRE-nota-taxacao-EUA-2-abr-2025.pdf">política da reciprocidade</a> como padrão a ser seguido daqui pra frente diante de taxações adicionais por qualquer bloco ou país, visto que a situação assimétrica como está tende a comprometer o futuro das relações Brasil-EUA – este que é o “<a href="https://economia.uol.com.br/noticias/redacao/2025/04/02/tarifas-trump---reacoes-brasil.htm">segundo principal parceiro comercial do Brasil</a>”.</p>
<h3>Disputa comercial como oportunidade estratégica</h3>
<p>Considerando o posicionamento brasileiro pela reciprocidade, bem como o retrospecto de suas relações diplomáticas, junto ao seu papel proativo no comércio internacional, percebe-se que este raro momento pode servir de oportunidade estratégica para o Brasil, visto que “<a href="https://economia.uol.com.br/noticias/redacao/2025/04/02/tarifas-trump---reacoes-brasil.htm">abre janela para a entrada em novos mercados</a>", mas desde que o pais <a href="https://economia.uol.com.br/noticias/redacao/2025/04/02/tarifas-trump---reacoes-brasil.htm">“amplie acordos bilaterais e regionais”</a>.</p>
<p>Sendo <a href="https://static.poder360.com.br/2025/04/Mdic-MRE-nota-taxacao-EUA-2-abr-2025.pdf">defensor do multilateralismo</a>, como alternativa o Brasil pode também <a href="https://g1.globo.com/politica/noticia/2025/03/27/tarifaco-de-trump-lula-afirma-que-taxara-produtos-dos-eua-se-recurso-a-omc-nao-funcionar.ghtml">recorrer a mecanismos internacionais como a Organização Mundial do Comércio (OMC) caso as tratativas bilaterais não derem certo</a>, a fim de promover a resolução pacífica do conflito; isto é, <a href="https://noticias.uol.com.br/colunas/jamil-chade/2025/04/02/trump-abre-guerra-comercial-afeta-brasil-e-poe-economia-global-em-alerta.htm">sustentada não em imprevisibilidade e imposições unilaterais</a>, mas por um sistema <a href="https://static.poder360.com.br/2025/04/Mdic-MRE-nota-taxacao-EUA-2-abr-2025.pdf">baseado em regras</a>.</p>
<p>Logo, ao mesmo tempo que desafia a ordem multilateral e o livre mercado, dois dos pilares do comércio internacional, a disputa comercial também oferece ao Brasil a chance de diversificar e consolidar novos mercados. Se o país souber fortalecer os laços comerciais com a Ásia, Europa e África poderá minimizar os riscos da instabilidade atual e aproveitar as oportunidades advindas desse conflito.</p>
<h3>Agronegócio brasileiro: o setor beneficiado em um contexto bilateral hostil</h3>
<p>Face às sucessivas taxações nas quais a China vem sofrendo, enquanto <a href="https://noticias.uol.com.br/internacional/ultimas-noticias/2025/04/07/china-manifestacao-trump-tarifas.htm">responde reciprocamente com tarifas retaliatórias sobre os produtos norte-americanos</a>, <a href="https://noticias.uol.com.br/internacional/ultimas-noticias/2025/04/07/china-manifestacao-trump-tarifas.htm">Pequim não demonstra ceder à pressões, ameaças</a> e intimidações. Pelo contrário, <a href="https://epocanegocios.globo.com/mundo/noticia/2025/04/china-vai-esperar-ate-que-trump-seja-forcado-a-negociar-dizem-especialistas.ghtml">usa a paciência como tática a fim de que o inimigo recue e seja forçado a negociar</a>.</p>
<p>Ao mesmo tempo, volta seus olhos para o Brasil, parceiro com quem possui um histórico de confiança e benefícios mútuos. Vale recordar que <a href="https://ibrachina.com.br/apoio-do-brasil-foi-fundamental-para-a-entrada-da-china-na-organizacao-mundial-do-comercio/">o apoio do Brasil foi fundamental à entrada da China na OMC, este que é o “principal órgão internacional de regulamentação comercial</a>”</p>
<p>Dentre os setores da economia atingidos, portanto, <a href="https://operamundi.uol.com.br/politica-e-economia/financial-times-brasil-grande-vencedor-na-guerra-comercial-de-trump/">o agronegócio brasileiro surge como possível beneficiado dentro desse embate EUA e China</a>. Isso porque a administração Trump tem encontrado dificuldades para levar seu plano adiante, já que enfrenta pressões internas até mesmo do agro estadunidense, setor que tem feito críticas às tarifas comerciais impostas.</p>
<p><a href="https://noticias.uol.com.br/colunas/jamil-chade/2025/04/04/agro-dos-eua-alerta-trump-que-brasil-sera-maior-beneficiado-do-tarifaco.htm">As entidades do agronegócio alertam então que a guerra comercial pode favorecer concorrentes, como o Brasil</a>, especialmente <a href="https://operamundi.uol.com.br/politica-e-economia/financial-times-brasil-grande-vencedor-na-guerra-comercial-de-trump/">a exportação de grãos e carnes para os mercados europeu e chinês</a>, consolidando-o como “principal fornecedor de alimentos para o país asiático”.</p>
<h3>'Tarifaço' dos EUA abre caminho para a China</h3>
<p>A polarização capitaneada por Trump toma proporções maiores quando o protecionismo estadunidense envolve não só a China, mas arrasta aliados como a União Europeia (UE) para dentro de um <a href="https://g1.globo.com/economia/noticia/2025/04/08/tarifas-de-104percent-entram-em-vigor-na-china-diz-secretario-da-casa-branca.ghtml">conflito generalizado</a>.</p>
<p>Cenário este que pode gerar efeito contrário ao esperado, <a href="https://iclnoticias.com.br/tarifaco-pode-acelerar-acordo-mercosul-ue/">a exemplo da aceleração dos trâmites do Acordo Mercosul-União Europeia</a>, e de facilitar a reconfiguração de uma nova dinâmica na ordem internacional, já que <a href="https://www.cartacapital.com.br/politica/nao-vai-dar-certo-a-nova-reacao-de-lula-ao-cavalo-de-pau-dos-eua-sob-trump/">inverte a lógica vigente e acaba ruindo o livre-mercado que os EUA ajudaram a disseminar</a>.</p>
<p>À medida que a escalada do protecionismo estadunidense pode vir a beneficiar e não prejudicar o peso da China no comércio global, o posicionamento do Brasil é colocado em xeque. Em termos práticos, isso significa que, embora o conflito comercial aparentemente favoreça mais que prejudique a relação sino-brasileira, a parceria Brasil-EUA permanece significativa, não podendo o Brasil prestigiar um parceiro em detrimento de outro.</p>
<p>Dentro da mesma lógica, ainda que a China tenha respondido à altura, sendo uma das <u>primeiras grandes economias a reagir com retaliação tarifária </u><a href="https://www.lemonde.fr/en/international/article/2025/04/04/china-responds-to-trump-s-tariffs-with-trade-measures-and-a-wto-lawsuit_6739839_4.html?">sobre as importações dos EUA”</a> e <a href="http://www.china.org.cn/business/2025-04/08/content_117812291.htm">acionar formalmente a OMC</a>, essa batalha comercial <a href="https://static.poder360.com.br/2025/04/Mdic-MRE-nota-taxacao-EUA-2-abr-2025.pdf">deflagrada unilateralmente</a> não demanda que o Brasil escolha um dos lados do conflito. Mesmo porque tende-se a uma maior aproximação dessa relação em momentos de crise, a exemplo do que ocorreu em 2018, em um contexto semelhante à elevação da taxação dos EUA sobre a China, quando esta passou a comprar ainda mais produtos agrícolas do Brasil, <a href="https://economia.uol.com.br/colunas/graciliano-rocha/2025/04/11/china-ja-acelera-compra-de-soja-brasileira-em-meio-a-escalada-das-tarifas.htm">sobretudo exportações de soja. </a></p>
<h3>Limitações à resposta ao 'tarifaço'</h3>
<p>Uma visão mais favorável a Brasil e China do que aos EUA, contudo, não é absoluta, visto que nós <a href="https://www.cnnbrasil.com.br/economia/macroeconomia/retaliacao-da-china-tarifa-contra-os-eua-beneficia-o-brasil-entenda/">podemos ser beneficiados em volume de comércio, mas não de preço.</a> Algo semelhante pode ser dito em relação aos chineses pois, <a href="https://www.washingtonpost.com/world/2025/04/08/trump-china-tariff-war-escalation/">embora procurem demonstrar que estão na vantagem mesmo com a escalada do tarifaço de Trump</a>, <strong>existem limites e restrições à resposta chinesa</strong>: primeiro, seu objetivo final deveria ser o caminho da negociação, ao invés de também ficar escalonando a retaliação, uma vez que “<a href="https://www.washingtonpost.com/world/2025/04/08/trump-china-tariff-war-escalation/">a China exporta muito mais para os Estados Unidos do que importa, o que significa que Pequim não pode igualar as tarifas de Trump dólar por dólar</a>”; em segundo lugar, porque sua economia não está totalmente recuperada, em decorrência de alguns resquícios da pandemia, tais como “<a href="https://www.washingtonpost.com/world/2025/04/08/trump-china-tariff-war-escalation/">queda do mercado imobiliário, consumo fraco e alto desemprego entre os jovens</a>”.</p>
<p>A China, portanto, “<a href="https://www.washingtonpost.com/world/2025/04/08/trump-china-tariff-war-escalation/">tem muito a perder com uma guerra comercial em espiral</a>”, já que são mais “assimetricamente vulneráveis” do que os EUA frente a uma escalada crescente. Em síntese, implica dizer que <strong>qualquer taxação acima de 100% é proibitiva para ambos</strong>, visto que <strong>inviabiliza comércio entre os dois países</strong>. Pois enquanto um procura ganhar sobre o outro, custe o que custar, anulam-se os possíveis ganhos, não havendo vencidos nem vencedores ao final das contas.</p>
<p>Em um <strong>jogo de soma zero</strong> – como parece ser esse o conflito – o mais provável é que, <u>chegando-se a um impasse insustentável de idas e vindas</u>, <a href="https://www.poder360.com.br/poder-internacional/secretario-de-trump-fala-em-acordo-com-a-china-em-algum-momento/">“<strong>em algum momento”</strong> aconteça um acordo entre as duas potências</a>. Decisão esta que é urgente para ambos, posto que com o maior entrave à entrada de produtos estrangeiros nos EUA, outros países e blocos econômicos irão procurar mercados alternativos para direcionar seus produtos.</p>
<p>Como a economia chinesa está ancorada em consumo e na força de suas exportações, a China também não pode se dar o luxo de perder grandes mercados como o estadunidense, visto que atualmente são simbióticos e interdependentes. Tanto são interligados que procura avançar com <a href="https://www.poder360.com.br/poder-economia/china-avanca-com-estrategia-para-reduzir-importancia-do-dolar/">as estratégias de digitalização e internacionalização de sua moeda (RMB), no intuito de sua economia ficar cada vez menos dependente e atrelada ao dólar</a>.</p>


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JOTA

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