Leonardo Barreto

O ano novo começou mais interessante do que se podia prever em dezembro. Pelas iniciativas que adotou até agora, pode-se dizer que o governo de 2016 é bem mais político do que o do ano passado. A saber:
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<li>Correção postural da presidente Dilma, com a adoção de tom mais aberto e conciliatório;</li>
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<li>Tentativa de desarmar o debate político partidário contornando o Congresso via sociedade civil. Nesse sentido, são importantes a reabertura do Conselhão e as reuniões feitas pelo ministro Nelson Barbosa junto aos atores econômicos para pedir-lhes apoio;</li>
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<li>Substituição da narrativa econômica, com o abandono do discurso de curto prazo, segundo o qual a retomada estaria logo ali, desde que o freio de arrumação do ajuste fiscal alcançasse termo e adoção de uma agenda de longo prazo, com medidas estruturais de controle de gastos e a reforma da previdência. Dessa forma, espera-se atrair a oposição por meio da proposta de ampliação do horizonte político, dado que os benefícios almejados seriam colhidos nos próximos governos.</li>
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<li>O governo decidiu não tratar mais do impeachment em público, dando-o como algo já superado. No entanto, nos bastidores, está trabalha freneticamente para retomar o controle da Câmara dos Deputados, tendo tido papel fundamental para reeleger o deputado Leonardo Picciani líder do PMDB e consequentemente influenciar a formação da comissão que analisará o pedido já nos próximos dias.</li>
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A responsabilidade inequívoca desta retomada política é a presença do ministro Jaques Wagner, que hoje exerce influência sobre Dilma.
<a href="https://www.jota.info/extra/dilma-rousseff-diz-ao-tse-que-nao-recebeu-dinheiro-da-lava-jato">+Jota: Dilma Rousseff diz ao TSE que não recebeu dinheiro da Lava Jato</a>
Entretanto, atitude nova não é suficiente para refazer um governo que acumulou um enorme passivo nos últimos anos e tem problemas crônicos de execução. (Nesse sentido que o senador Romero Jucá, em entrevista recente ao Estado de São Paulo, disse que “o que move o mundo não é intenção. O que move o mundo é ação”).
O fato do governo ter anunciado a intenção de apresentar propostas de reforma da previdência e de limites ao gasto público e não as minutas do projetos soou para muitos como um álibi para obter a CPMF. A suspeita é agravada pelo fato do PT ser abertamente contra mudanças das regras de aposentadoria, o que comprometeria sua viabilidade parlamentar, dado que outros partidos da base dificilmente bancariam seu custo político sem que o PT fosse seu principal fiador.
Por isso o senador Romero Jucá pontuou que o governo deve buscar uma sincronia entre ajustes estruturais, cortes de despesas e medidas de aumento de receita, falando claramente que a CPMF deve vir depois da readequação de despesas e não antes. Percebe-se falta de crédito político na praça permanece sendo a marca da segunda gestão de Dilma.
Além disso, deve-se ficar alerta para saber se a ausência de projetos, em contradição à abundância de intenções, está ou não denotando que a capacidade técnica do governo se esgotou.
Portanto, se o governo acerta em aumentar a disposição de fazer política, ainda é limitado por falhas de execução e pela desconfiança em razão dos erros do passado. Soma-se a essas dificuldades alguns outros riscos de curto prazo:
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<li>A crise tende a mudar de patamar com aumento do drama social e colapso de serviços públicos prestados por estados à beira da insolvência. Este é apenas um dos relógios contra os quais Dilma Rousseff tem que correr;</li>
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<li>Apesar de morno, o processo de impedimento de Dilma está aberto e pode ser aquecido pela conjuntura, como afirmou também Jucá. A dificuldade notória que o governo tem de se defender é um agravante;</li>
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<li>Decorrências da operação Lava Jato e a imprevisibilidade trazida pela entrada de Lula no centro das investigações. O PT exige uma postura de solidariedade de Dilma que ela simplesmente não pode entregar. Isso agrava a relação entre ela e sua base, já desgastada pelas diferenças em relação à política econômica.</li>
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Como os atores sociais e econômicos devem proceder frente a um governo que anuncia boas intenções, mas que está carregado de desconfiança?
A busca por apoio pode fazer o governo ceder em questões importantes para a melhoria do ambiente de negócios. É importante ter uma agenda pronta para apresentar nas rodadas de negociação que o governo está propondo (principalmente via Nelson Barbosa).
Deve-se agir como se quer que o mundo seja. Se não há certeza de que o governo recuperará sua capacidade de ação, também não há elementos que permitam apostar pela sua descontinuidade. Portanto, é prudente continuar buscando as possibilidades de interlocução na Esplanada e aproveitar o momento em que o Executivo busca apoio para colocar como contrapartida uma agenda pública pro-desenvolvimento de forma coesa, clara e articulada.

Dilma TSE

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JOTA

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