Maiara Kruger

Por diversas vezes sou questionada pelos colegas advogados sobre qual o meu papel dentro de uma cooperativa de crédito. Se consigo ou não aplicar o Direito, afinal o que tem o Direito a ver com um ambiente onde se fala majoritariamente sobre atendimento ao cliente, operações de crédito, investimentos e venda de produtos e serviços financeiros? Bom, minha resposta é sempre: tem tudo a ver!
Atuo em uma cooperativa que faz parte de um sistema amplo para concessão de crédito. Nesta, como em outras organizações há uma multidisciplinariedade na construção de projetos e iniciativas onde há atuação direta do Legal Business Partner (parceiro de negócios jurídico).
Compartilho algumas atribuições: idealização de novos formatos de serviços e parcerias, parecer para a concessão de operações de crédito e gestão da cadeia de recuperação deste crédito, atuar em conjunto com a equipe de gestão de pessoas contribuindo com medidas para o bem estar e dirimir riscos de conflitos internos e processos trabalhistas, a participação na governança realizando aconselhamento jurídico, desenvolvimento de políticas internas, auxiliar a empresa a identificar os riscos legais e regulatórios, dentre outros.
O Legal Business Partner é o profissional jurídico que trabalha em colaboração com líderes de negócios e outras equipes para fornecer aconselhamento jurídico estratégico, colaborar com o planejamento e soluções para questões legais que afetam os negócios sempre analisando o contexto ao qual a empresa está inserida e quais são as melhores práticas relacionadas à ética, legislação e análise de dados para apoiar a tomada de decisão.
Para desempenhar este papel é importantíssimo que o advogado retire as "capas" colocadas pela faculdade, sociedade e pela mídia. O papel do Legal Business Partner é diferente do tradicional advogado interno, que normalmente trabalha em silos e presta aconselhamento jurídico apenas em questões específicas. Esse profissional, por outro lado, é um parceiro estratégico e atua como um consultor de confiança.
O termo "silos" é frequentemente usado para se referir a departamentos ou equipes dentro de uma organização que trabalham de forma isolada e não colaboram com outras partes da empresa. Em outras palavras, silos são estruturas organizacionais que impedem a comunicação e a colaboração entre diferentes equipes. E, em um contexto geral e tradicional, o profissional do Direito é treinado para analisar a lei em primeiro lugar, a jurisprudência em segundo e as lacunas existentes entre elas em terceiro. Porém, sabemos que a sociedade e as organizações evoluem em uma velocidade impressionante, a cada dia mais disruptiva. E a legislação acaba estando sempre alguns passos atrás, muitas vezes com entendimentos que destoam completamente da prática. Sim, praticar a lei e a ética são comportamentos inegociáveis, mas temos que atuar de forma a ir muito além disso.
Logo que iniciei minha jornada como jurídico interno, olhava para as intempéries do dia a dia e acreditava que o ‘não’, seria mais protetivo à organização a qual eu fazia parte e evitaria que eu saísse do meu mundo, aquele em que  o Código Civil era minha primeira aba de "favoritos" do navegador. O tempo foi passando e ao me dedicar ao networking e a multidisciplinariedade pude entender que, todas as áreas, experiências e conhecimentos na organização estão conectados e que tudo pode ser aprimorado, com respeito e humildade.
Para livrar-se dos silos, com o tempo, entendi que algumas competências precisam ser criadas:
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<li>Habilidade de comunicação: esta na minha opinião é a primeira habilidade que precisa ser exercitada. Conversar com o cliente, esta é em 75% dos casos a forma mais rápida e eficiente para entender e resolver uma situação, você vai enxergar o problema com a visão do usuário e de bônus, vai aprender mais sobre o assunto. Na escrita a comunicação precisa ser simples. Temos que lembrar que nossos clientes não são (na maioria das vezes) advogados e não vão entender o “juridiquês”, então não devemos dar a eles o trabalho de desvendar nosso parecer. Existem "N" formas de se falar a mesma coisa;</li>
<li>Conhecer o negócio do cliente: é importante entender profundamente a empresa, sua história e suas estratégias. Somos parte da empresa, dessa forma, precisamos, participar de seminários e treinamentos que não envolvam assuntos jurídicos (sim, aquelas que as vezes você pensa: o que eu estou fazendo aqui?) são estas oportunidades que lhe darão, ao longo do tempo, a experiencia para entender o quanto sua avaliação colaborativa fará a diferença;</li>
<li>Inovação: a inovação é uma habilidade muito importante para o Legal Business Partner, principalmente em um ambiente de negócios em constante mudança. A capacidade de inovar permite que o Legal Business Partner traga novas ideias e soluções para problemas legais e regulatórios que a empresa possa enfrentar, algumas aplicações da inovação: análise de dados para obter informações importantes e que contribuam para identificar novas oportunidades, bem como, resolução de problemas complexos utilizando metodologias ágeis;</li>
<li>Planejar: o planejamento é essencial e deve estar ligado diretamente ao planejamento estratégico da empresa. Este planejamento deve ocorrer correlacionado as demais áreas com uma abordagem que visa alinhar os esforços do Jurídico com as necessidades e objetivos das outras áreas da empresa. Após a participação da construção da estratégia geral, chega o momento de reunir-se com a equipe e planejar as ações do time. Determinando grandes objetivos e as ações para atingi-los, bem como qual membro da equipe será responsável e os respectivos prazos;</li>
<li>Gestão de pessoas: Além de operador do Direito, o Legal Business Partner precisa atuar como líder. E por isso, realizar gestão das pessoas deve ser uma competência desenvolvida, pois um time engajado, que constrói junto o planejamento cria protagonismo para atingir os objetivos. A gestão de pessoas inclui habilidades como: liderança, comunicação assertiva, feedback constante, resolução de conflitos, construção de plano de carreira alinhado ao momento em que se encontra cada membro do time, avaliação de desempenho e outras mais que vamos descobrindo no dia a dia, estudando o colocando as pessoas no centro.</li>
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Atuar como Legal Business Partner é gratificante. Além de operar o Direito, temos um pouco de nós em nossas organizações e para isso, precisamos ser agente de transformação. Não basta apenas olhar para a gestão ou para áreas da empresa e reclamar, por exemplo, daquele projeto que não sai do papel porque está pendente com a área X. É primordial analisar todos os desafios como oportunidades, e pensar, como posso contribuir para que isso seja feito de uma forma mais segura, inovadora e leve? Como jurídico, seremos quem conecta ou quem cria barreiras para o desenvolvimento? Habilitaremos os negócios da Empresa, criando oportunidades ou deixaremos o "não" que está ali, intrínseco falar mais alto?
De acordo com Simon Sinek<a href="#_ftn1" name="_ftnref1">[1]</a>, "o porquê é a raiz de tudo que motiva e inspira. É o motivo pelo qual fazemos o que fazemos". O propósito é um dos principais fatores que impulsionam as pessoas a realizar com êxito suas atividades, com motivação e engajamento. Essa visão se aplica especialmente ao papel do Legal Business Partner, que precisa ter um olhar multidisciplinar e um propósito claro e forte para atuar de forma estratégica e integrada à organização. Em suma, o sucesso do Legal Business Partner depende do alinhamento de sua atuação ao propósito da empresa e da sua capacidade de se adaptar às mudanças do mercado, de forma a agregar valor à organização e às pessoas envolvidas.
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<a href="#_ftnref1" name="_ftn1">[1]</a> SINEK, Simon. Comece pelo porquê: como grandes líderes inspiram pessoas e equipes a agir. 21. ed. São Paulo: Sextante, 2019, p. 49.

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JOTA

A função do Legal Business Partner na construção de uma rotina segura e ágil nas organizações

Desconstruindo silos e os transformando em pontes

Como a função do Legal Business Partner tem impactado na construção de uma rotina segura e ágil nas organizações?