Análise

Decisão dos EUA deve atrasar retomada dos voos internacionais

Governo brasileiro precisa estar atento e agir rapidamente para garantir a sobrevivência do transporte aéreo no País

Imagem: Pixabay

A proibição anunciada pelo governo americano de entrada de pessoas que tenham viajado para o Brasil nos últimos 14 dias é a nova notícia negativa para o setor aéreo em tempos de pandemia. A decisão, claro, provoca um atraso na retomada dos voos internacionais entre Brasil e Estados Unidos, um importante mercado para as empresas aéreas de ambos países. A demanda já estava bastante reduzida desde o início da crise, tanto que em um determinado momento em abril só estavam sendo operados 9 voos semanais entre os dois países, 7 da United Airlines entre São Paulo (GRU) e Houston (IAH) e 2 da Azul entre Campinas (VCP) e Fort Lauderdale (FLL) ou Orlando (MCO).

Considerando esse novo cenário, em que nem brasileiros podem entrar nos Estados Unidos e nem Americanos podem entrar no Brasil, a tendência é que as companhias aéreas revejam seus planos de retomar os voos nas próximas semanas como vinham anunciando, além da possibilidade de novos cortes de voos, atualmente em torno de 12 por semana, com 3 voos da Latam Brasil entre São Paulo (GRU) e Miami (MIA), além dos outros 9 já mencionados acima.

De acordo com o presidente americano Donald Trump, a medida foi tomada após o Centers for Disease Control and Prevention (CDC) determinar que o Brasil está num momento crítico de transmissão do vírus, com mais de 300 mil casos confirmados, o que poderia colocar em risco a segurança do sistema de transportes e a infraestrutura dos EUA, bem como a segurança nacional do país.

A restrição, nos termos da proclamação do presidente, entra em vigor às 11:59 p.m. (eastern daylight time) do dia 28 de maio e não tem prazo para terminar. Há algumas exceções à proibição de entrada como, por exemplo, para residentes permanentes legais nos Estados Unidos, cônjuges estrangeiros de um cidadão americano ou cidadãos estrangeiros que viajem a convite do Governo dos Estados Unidos para fins de contenção ou atenuação do vírus, entre outras.

O anúncio não foi surpresa, considerando que o presidente dos EUA já havia mencionado essa possibilidade em algumas entrevistas recentes, bem como o fato de que os EUA já haviam restringido a entrada de pessoas vindo de outros países como China, Reino Unido e Iran.

Além disso, é importante lembrar que o Brasil, desde o final de março, já havia restringido a entrada no País de estrangeiros de qualquer nacionalidade, medida essa que foi prorrogada por mais 30 dias na última sexta-feira, 22 de maio de 2020, pela Portaria Interministerial nº 255/2020.

Em relação às três maiores empresas aéreas brasileiras, Azul, Gol e Latam, antes da crise todas operavam voos para os Estados Unidos. A Gol, no entanto, não opera as aeronaves grandes, de dois corredores, conhecidas como wide-body, podendo remanejar sua frota para outros voos. Azul e Latam, por outro lado, devem sofrer um impacto maior, pois operam essas aeronaves de grande porte e uma parte significativa dos voos internacionais oferecidos por essas empresas eram para os Estados Unidos.

É importante ressaltar ainda que todas essas decisões governamentais – fechando fronteiras e restringindo a entrada de pessoas em diversos países – confirmam a tendência anunciada por especialistas do setor aéreo e pela Associação Internacional de Transporte Aéreo (IATA) no sentido de que a retomada de voos no mundo deve se dar primeiro pelos voos domésticos e depois pelos voos internacionais.

Por fim, é preciso enfatizar a preocupação com o futuro do setor no Brasil. O que se percebe em outros países, inclusive nos Estados Unidos, é alguma forma de intervenção estatal para evitar o colapso da indústria como um todo. No mesmo sentido, o governo brasileiro precisa estar atento e agir rapidamente para garantir a sobrevivência do transporte aéreo no País. Sem companhia aérea não há aeroporto, não há empresas de serviço auxiliar de transporte aéreo, não há mobilidade, o turismo sofre, a arrecadação sofre e a economia sofre.