Leonardo Barém Leite

O que significa essa transição? Qual é o caminho de um para o outro? O que muda para você, para sua equipe, para a sua empresa com essa mudança? O leitor que ocupar uma posição em departamento jurídico de empresa (“in-house counsel”) geralmente conhece bem os seus desafios diários. Mas será que tem pensado bem na sua carreira, e em “todos” os passos a seguir?
Essa “provocação” do titulo fez sentido para você? Repetindo - O que muda de uma posição para a outra? Se (ou quando) você for convidado para essa transição, saberá como reagir e responder? Começando pelo mais simples... A expressão “General counsel” significa algo para você? Será mesmo que você conhece bem a realidade, os desafios, as batalhas, a responsabilidade, as competências exigidas, e a pressão que envolvem essa posição?
Sabedor do que isso significa e do “tamanho” do desafio (e da responsabilidade), pense no seu caso específico - Você já tem essa posição, ou gostaria de ocupá-la um dia? E se for uma meta, como você está se preparando (de verdade!!) para alcançá-la? Imagine que um dia você receba esse convite, dos sócios/acionistas da empresa em que trabalha atualmente, ou de um “headhunter”. E “agora”? O que você pensaria e responderia? O que faria? Estaria preparado?
No nosso País (e mesmo no ambiente corporativo), infelizmente, ainda tem sido muito comum que os executivos somente pensem numa determinada posição e no que ela significa, assim como na preparação especifica e nos desafios, quando já chegaram a ela. Pouco ou nada se planeja de fato... Pouco ou nada se prepara de verdade.
Caso você não seja ainda o “conselheiro geral” da sua organização (expressão que pode significar muito mais do que gerente/diretor/vp jurídico), mas considere um dia ter essa função, precisa conhecer muito bem o contexto do desafio (para que de um lado decida se quer chegar a essa posição, e de outro para que elabore um plano, um projeto nesse sentido).
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Você sabe bem o que está envolvido nessa posição? Sabe mesmo? Você tem certeza disso?
O “Conselheiro Geral” é a pessoa de confiança do “negócio”, e que ajuda a analisar cenários, riscos e oportunidades, do ponto de vista empresarial (com embasamento jurídico de altíssima qualidade, com muita experiência e vivência). E que, com isso, ajuda a tomar decisão e a gerir riscos, auxiliando ainda nos momentos de crise. A responsabilidade é tremenda!
Quando você for convidado para essa posição (se for um de seus objetivos de carreira), é fundamental que você já saiba muito bem o que isso significa, e que esteja preparado (primeiramente para a própria tomada de decisão).
E, em qualquer cenário, é fundamental que você tenha muito claro o momento (e o rumo) da sua vida, pessoal e profissional, para que consiga considerar, também, se esse convite está em linha com o seu objetivo de carreira (como um todo), ou não. Essa posição, se você um dia tiver a opção, seria o seu “meio de carreira”, o objetivo final, a última posição, por quanto tempo? O que viria depois? Qual é o seu projeto de vida? E como essa possível posição se integraria ao projeto?
Poucos advogados corporativos, especialmente os “internos” nas empresas, preocupam-se efetivamente com a sua carreira (em sua plenitude). E a planejam com certo detalhe. Especialmente os colegas mais jovens, que têm uma preocupação maior com a atualidade, com o “hoje”, demonstram grande foco nos seus objetivos de estilo e de qualidade de vida, assim como focam em sonhos, conforto, conquistas materiais, mas poucas vezes refletem, efetivamente, sobre o futuro. Como o imaginam, e o que precisam fazer para que a realidade (no futuro) seja mais ou menos como um dia pensaram?
Para vários colegas, a carreira é uma mera “subida de escada”, com um andar após o outro. E, frequentemente, sem que fique muito claro em qual escada se quer subir - e até qual degrau. As posições e os desafios são quase que “andares” naturais que a vida vai apresentando às pessoas, em função das oportunidades que vão surgindo, e de algumas insatisfações que aparecem (claro!!); mas sem muito planejamento efetivo.
Curso e títulos, experiências profissionais e de vida, imagem no mercado, exposição, competências complementares, escolhas pessoais, estilo gerencial, e várias outras questões podem ser chave na sua carreira -  e se você não tiver tudo isso muito claro, pode vir a ser refém dos resultados. Lamentavelmente, muitos colegas consideram apenas a posição atual, os desafios do momento e do cargo, ou no máximo da posição seguinte, considerando apenas o curto e o curtíssimo prazos. E, nesses casos, pouco ou nada planejam da vida pessoal e da profissional, com  o objetivo claro de carreira.
Frequentemente, portanto, advogados corporativos são chamados a assumir a posição geral (tornando-se “general counsel”), sem saber muito bem do que se trata (no detalhamento real da posição – até para saber se de fato a querem e se para ela estão efetivamente preparados). E muitas vezes até se desesperam nesse momento. Alguns chegam a procurar qualificação gerencial e complementar para esse desafio, apenas quando já estão no cargo. Preparação para algo que já se tem??? (pois é.... Acontece muito!!)
Propomos, então, neste breve artigo, uma reflexão importantíssima sobre o próprio desenho do cargo em tela, e sobre a carreira do advogado corporativo. Considerando, por exemplo, em que medida esses dois conceitos se cruzam (ou não) para você.
O advogado corporativo quer ser um “general counsel”? Todos o serão? Todos os excelentes advogados serão “head”? O que é isso? Seria bom? Como e o que devem fazer para me tornar um? E para não correr o risco de ser? E se o colega não for isso, o que pretende ser? Há algum tempo as carreiras deixaram de ter padrões, mas se pudermos abusar da boa vontade do leitor e propor (com uma certa “licença poética”, e para fins desta proposta de reflexão) que todo advogado corporativo tenha o sonho, e o objetivo, de ser um dia o “general counsel”... O que seria isso? O que de fato essa pessoa faz? Que desafios ela tem? Como é a pressão? Como ela se preparou para isso? Quais são as competências adicionais (à do excelente advogado corporativo) que serão exigidas desse profissional? Por quanto tempo, e em quantas e quais empresas ela trabalhará?
Reflita com base na sua posição atual - A sua carreira está “apontando” para essa direção? Você gostaria de ser “general counsel”? Quando? Está se preparando para isso de que forma? Você está realmente trabalhando nesse sentido? O que você tem feito e estudado, com esse foco específico?
Corriqueiramente, vemos colegas que acreditam que quando o seu chefe se aposentar, ou deixar a empresa por qualquer outra razão, o seu colaborador imediatamente abaixo dele será o sucessor natural. Será?? Isso é cada vez mais raro...
Esse pode ser um tremendo erro. Poucas vezes, no mundo real atual, isso ocorre. E mais, podem haver vários concorrentes internos, sendo que a posição é única. Um excelente advogado sênior, talvez até um excelente gerente jurídico, pode não ser o profissional “ideal” para a posição seguinte. Ou pode não estar preparado quando a “vaga” for aberta. Ou pode ter competências apenas técnicas, que obviamente não serão suficientes. Caso seja esta a sua posição atual, você poderia realmente responder se está de fato preparado para o próximo passo? Caso não esteja, quando pretende correr atrás do que falta? Você sabe o que está faltando?
Um dos pontos mais importantes a pensar, e a considerar, é o estoque de competências que cada fase da vida profissional exige, em especial a “gangorra” dos “technical skills x soft skills”.
As competências (“skills”) técnicas costumam ser fundamentais no inicio da carreira corporativa, mas via de regra são as “leves” ou “comportamentais” que determinam o sucesso na fase mais madura.
As questões técnicas continuarão as ser fundamentais ao longo de toda a vida profissional, e será preciso que a pessoa se mantenha totalmente atualizada, geradora de resultados, e com a sua “empregabilidade em alta”, mas tudo isso será considerado simplesmente “básico”.
Outra questão importante é a própria experiência de vida, as chamadas “horas de voo”, que não podem ser compradas em nenhum livro ou curso, mas que precisam ser conquistadas ao longo de uma carreira bem pensada e estruturada. Ciente dessa realidade, o profissional precisa pensar um pouco mais (e mais cedo) em sua carreira, e nos seus objetivos. E, neste caso, o que significa ser o “general counsel”.
Se for esse o objetivo, será preciso que ele de fato se prepare para quando a oportunidade aparecer (não cairá do céu, e nem será um mero passo natural na carreira), mas caso não seja, será preciso que um “plano B” seja traçado desde logo (até mesmo para rejeitar a posição).
Sabemos que muito pouco nas nossas vidas é controlado por nós mesmos, pois os fatores externos que as influenciam são muitos. Em função disso, ao menos aqueles pontos que podem ser um “pouco controlados", precisam ser muito bem “cuidados”.
A carreira do profissional urbano “médio” (se considerarmos uma expectativa de vida, que em alguns casos, já chega perto dos 90 anos), certamente precisará (ao menos para a maioria de nós, que além de gostar de trabalhar, precisará de fundos para arcar com as suas despesas) ter uma duração em torno de 60-70 anos. Essa carreira “extremamente longa”, está sendo bem pensada e planejada? Em termos pessoais e de sonhos, ou apenas do ponto de vista financeiro? Como está o seu planejamento pessoal? E o familiar? O que você imagina que terá vontade, e condições, de fazer, daqui a (digamos) 30 anos? Ou 40 anos? Estará trabalhando ainda? Em que? Haverá demanda para alguém como você?
Em condições “normais”, você não apenas gostará de trabalhar (principalmente se gosta da profissão), como terá que fazê-lo. E como será o caminho? Quais serão as etapas? Quais os indicadores que o ajudarão a aferir o ritmo, a velocidade e principalmente a direção?
Se o seu objetivo for a posição do “general counsel”, como você planeja que seja a sua preparação para tanto? O que você terá que estudar, aprender, ser capaz de fazer etc? Está atualmente se aproximando ou afastando dessa meta? Será mesmo que você vai gostar disso?
E, daqui a alguns anos, será que essa posição ainda terá os mesmos desafios e serão as mesmas competências que serão exigidas para ocupá-la? O que você tem feito para descobrir tudo isso? Caso você conte com a boa vontade dos donos da empresa em que trabalha, ou queira estar na mira dos “headhunters”, como você está se preparando para isso (além do obvio!!)? Como o mercado descobrirá quem você é, e do que é capaz? Você não imagina que seja possível torna-se um “general counsel” apenas pela inércia, imagina?
E, caso seja chamado para esse desafio, não deixará para pensar no que isso significa apenas no momento do convite, certo? No mundo corporativo essas questões talvez sejam ainda mais desafiadoras do que na carreira dos demais profissionais. E, via de regra, os colegas pensam muito pouco nelas. E se pouco refletem, pouco planejam.
A revolução que vivemos desde os anos 1990, e que reformulou toda a concepção dos departamentos jurídicos das empresas, alterou completamente o perfil do advogado, seu estilo, suas competências, seus desafios... Ensinou a necessidade de conhecer de negócios (e do negócio), a lidar com riscos, a trabalhar em equipe, a pensar como empresário, e várias outras “novidades”.  Mas ainda são poucos os que de fato aprenderam a pensar a sua estratégia profissional pessoal. A sua própria meta.
Nesse contexto, poucos são os advogados que - realmente - compreendem a carreira (e não apenas a sucessão “natural” de cargos e de posições hierárquicas, e a “caixas” do organograma”).
Pensar a sua carreira, e com isso tentar planejá-la, é um desafio tão grande quanto urgente, mas um ponto é fundamental – o que muda quando você se torna o gestor geral da área jurídica na empresa? O que muda quando você se torna ´”general counsel”.
Um dos sinais mais sutis, mas também mais importantes, e que me fascinam desde os anos 1980 (quando “caiu a ficha” da gestão jurídica estratégica e moderna), é a própria palavra ou expressão, que no idioma anglo saxão é ainda mais significativa.
No início da carreira, geralmente os colegas advogados, nos países de idioma inglês, são majoritariamente chamados de “lawyer” ou “attorney” (embora existam outras expressões mais específicas em alguns casos). Com o tempo, muitos passam a ser chamados “counsel”. E, no contexto deste breve artigo, alguns, no ambiente corporativo, serão conhecidos como “general counsel”.
Impressiona, e estimula a pensar, a variação das palavras/expressões, que indicam, claramente, a mudança não apenas de “senioridade”, mas da própria atividade, da própria profissão.
Quando o advogado interno chega à posição de “general counsel”, é importante que perceba a sutileza e o recado. A empresa já não espera que ele seja um advogado (“lawyer” ou “attorney”), mas um “counsel”. E, no caso, o “general”.
Para o advogado corporativo bem sucedido, possivelmente (e isso é e precisa ser um projeto pessoal) a trajetória profissional lhe reservará a possibilidade de um dia ser confrontado com a posição do “general counsel”. O que significa isso? Considera-se extremamente importante que o profissional conheça muito bem essa figura, os seus desafios, as competências e as responsabilidades da posição, as pressões, o que dele se exige, etc. para que se decida, por exemplo, se ocupar essa posição é ou não uma meta.
Caso seja uma meta pessoal, como será a preparação para esse objetivo? E se não for? O que muda na sua carreira e no seu planejamento?
Esse é um dos vários tópicos que a moderna e estratégica gestão jurídica nas empresas vem estudando, e que tem evoluído bastante. Procure conhecer mais sobre a advocacia corporativa, seus desafios, as melhores práticas, e o que se tem feito de mais moderno no Brasil.

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JOTA

O que significa essa transição? Qual é o caminho de um para o outro? 

De “In-house counsel a general counsel”. E agora?

O que significa essa transição? Qual é o caminho de um para o outro?