Diego Pereira

Débora Diniz, pesquisadora brasileira e professora da UnB, vive falando para os seus alunos, ouvintes e seguidores: “Precisamos fazer as perguntas corretas. Perguntar é mais importante do que obter respostas”.
Na sua busca por perguntas complexas, de aparência simples, Dom Phillips teve sua morte sentenciada porque “perguntou demais”, “o que não deveria”, “o que não lhe cabia investigar”. Perguntava ele: “Como salvar a Amazônia?”.
Há limites impostos a perguntas dentro da ciência?
Ressalto: o que ele fazia era ciência, era uma pesquisa de campo, era a busca da verdade a partir da apuração dos fatos que lhe saltavam aos olhos e na boca alheia. Da parte de <a href="https://www.jota.info/justica/mpf-denuncia-3-pessoas-por-mortes-de-dom-phillips-e-do-indigenista-bruno-pereira-22072022">Dom e do indigenista Bruno Pereira </a>havia método, havia ética, havia escuta, havia provas e havia tantas outras perguntas derivadas daquela primeira.
Da outra parte havia bala, havia crueldade, havia a certeza da impunidade da terra que pisa na lei. Havia sobretudo respostas: imediata, sem dialética, na base da força e da covardia de quem nega o diálogo.
Muitos podem dizer: mas Débora Diniz não ensinou que há perguntas que não podem ser feitas. Defendê-la-ia afirmando que implicitamente essa pergunta já foi feita em sua vida, afinal, ela está exilada após ameaças de morte justamente por fazer perguntas que “não deveriam ser feitas”. Então, a sua afirmação de que a pergunta deve ser bem feita implica também fazer perguntas que nos impõem um risco inerente de quem questiona, interrompe, aprofunda e analisa. Típico das ciências, inclusive a jornalística.
Como salvar a Amazônia, antes de virar uma afirmação, deve atravessar necessariamente a seara das interrogações. Mas para isso é necessário coragem ao fazer pesquisa em um país que persegue e mata quem produz ciências.
Enquanto isso, a pergunta “como salvar a Amazônia?” se transforma em metáfora de um livro sem autoria; um caminho percorrido pela metade; a sombra de um objeto sem sujeito investigativo.
O Brasil que quer salvar a Amazônia somente conseguirá fazê-lo com o auxílio da ciência, afinal, é aqui que a dialética imposta pela circularidade do pensamento trará as perguntas necessárias à preservação da biodiversidade, ao combate ao desmatamento, às diminuições de desigualdade e, sobretudo, no combate à violência dentro da floresta.
Para isso, entretanto, é necessário seriedade política, orçamento público para as ciências e tecnologias e valorização dos sujeitos que investigam conhecimento no país.

Amazônia

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JOTA

Antes de virar uma afirmação, tema deve atravessar necessariamente a seara das interrogações

Como salvar a Amazônia?

Antes de virar uma afirmação, o tema de "como salvar a Amazônia" deve atravessar necessariamente a seara das interrogações