Karla Bertocco Trindade

Samanta S. Tavares De Souza

Carolina Niemeyer

Hoje em dia a maioria dos mercados é transformada de forma disruptiva pela inovação, e no saneamento isso não é diferente.
A solução para os problemas de saneamento básico do estado do Rio de Janeiro, já tão conhecidos também pelos brasileiros que não são do estado, passa, não apenas pelos estimados R$ 40 bilhões inúmeras vezes mencionados em estudos, projeções e matérias de jornais, mas também por uma abordagem e visão inovadora ao encarar velhos problemas.
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Nas semanas que antecedem o leilão marcado para o próximo dia 30, a atenção de todos os envolvidos concentra-se primordialmente em dois aspectos. De um lado, nos riscos da modelagem jurídica/econômica proposta: quantidade e qualidade da água produzida pela Cedae; coordenação entre os diferentes concessionários e a estatal; previsibilidade da atuação dos entes políticos e regulatórios; relação com comunidades vulneráveis e os substitutos do poder público lá instalados; e em como mitigá-los para atrair capital privado disposto a investir com custos competitivos e assumir os riscos e imprevisibilidades atreladas ao projeto. De outro, em acompanhar eventuais ruídos e pedidos judiciais de suspensão do leilão, extremamente comuns nas licitações de concessões, PPPs e mesmo nas privatizações dos mais diferentes setores da infraestrutura.
Propomos aqui um outro olhar. Aliada às boas práticas de implantação e operação dos serviços, e evidentemente a um custo de capital competitivo, a adoção de práticas inovadoras em suas propostas pode vir a diferenciar um competidor de outro no certame que se avizinha e pode ser o divisor de águas para que o projeto apresente os retornos esperados ao capital alocado.
A título ilustrativo, trazemos aqui algumas das soluções de inovação apresentadas na chamada pública de inovação realizada pelo Infrawomen, Infracast e pela Associação Brasileira de Engenharia Sanitária (ABES) no último dia 25 de março.
A chamada abrangeu quatro dos maiores desafios apontados pelos operadores do setor: (1) redução de perdas físicas e comerciais de água – na média o Brasil tem algo em torno de 38% de perdas, mas em determinadas regiões do Rio de Janeiro esse percentual supera a impressionante marca dos 70%; (2) eficiência energética, já que as despesas de energia dos operadores de saneamento são seu segundo maior custo (logo depois das despesas com pessoal), (3) soluções para regiões isoladas – já que parcela relevante dos brasileiros que não tem acesso à água potável ou a esgoto sanitário nem sempre está nas grandes regiões metropolitanas, ou se está, o acesso a regiões menos favorecidas também não é fácil e, por fim (4) gestão de resíduos, já que no ambiente da economia circular e com o foco no ESG é impensável que os investimentos feitos para resolver os gargalos do setor possam trazer como impacto adverso a geração de mais passivos ambientais.
<blockquote class="jota-article__eye">Todos os desafios listados tratam de questões que tem enorme impacto nas despesas operacionais e por consequência na avaliação da concessão e no retorno sobre o investimento.</blockquote>
Para as soluções de combate às perdas de água, participaram do Pitch, três startups que atuam com uso intensivo de inteligência artificial aliada à Internet das coisas, entregando informações cruciais para reduzir as perdas de forma efetiva. A vencedora da categoria, Smartacqua, atua nessa área, inclusive fora do Brasil, merecendo destaque também a Bluetech Liquid, que apresentou um modelo de reservatório de água para complementar o abastecimento nas pontas da rede - no geral lugares mais altos e com população mais vulnerável, tal qual muitas das comunidades cariocas, e que mais sofrem com a falta de água.
Na linha de eficiência energética, o destaque foi para a Fluxus, que propõe uma alternativa de conversão dos motores de energia elétrica para gás natural – insumo existente no Rio de Janeiro e que poderia ajudar a reduzir custos de energia, neutralizar emissões, dar mais estabilidade à prestação dos serviços nos locais que sofrem com quedas constantes no fornecimento de energia, e, principalmente, colaborar para minimizar o impacto do furto constante dos cabos de alimentação de energia das estações elevatórias de água e esgoto operadas pela Cedae. Segundo matéria do jornal Folha de São Paulo, publicada em 6 de abril de 2021, entre 2007 e 2014, 20% das estações elevatórias da CEDAE estavam paradas por conta de furto de cabos e bombas.
O desafio que tratou de inovação em soluções isoladas, usadas em regiões onde o modelo tradicional das grandes redes de abastecimento de água ou coleta de esgotos não funciona, ou não justifica o investimento, foi um dos mais concorridos. A vencedora, a startup Eisenia e suas simpáticas minhocas, trouxe uma alternativa para comunidades com manutenção fácil e barata, além de não gerar lodo no final do tratamento do esgoto. As soluções para água não foram esquecidas, com destaque para o Grupo de Estudos do Departamento de Saneamento (GEAPS) da Universidade Federal de Minas Gerais, que trouxe uma tecnologia de tratamento de água com reciclagem de membranas usadas, técnica utilizada para a limpeza dos rios da região após os eventos de rompimento das barragens.
Por fim, no segmento de resíduos, a Green Platform, solução já testada em São Paulo para rastrear os resíduos gerados com uso de blockchain, permite acompanhar o trânsito e o destino dos resíduos gerados, de forma que os mesmos não contribuam com a poluição difusa dos rios e córregos, encarecendo a coleta e o tratamento dos esgotos.
Diante do cenário desafiador que o maior projeto de concessão de infraestrutura do país impõe ao mercado de saneamento básico, a visão inovadora deve ser o grande diferencial para as empresas que vão assumir a Cedae já que na prática elas necessitam de soluções que impactem na melhoria da prestação de serviços, e bons resultados de  receitas e custos, liberando assim mais capital para aceleração dos investimentos, viabilizando a universalização dos serviços dentro do período contratualizado.
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O episódio 55 do podcast Sem Precedentes discute a crise militar e seu impacto no Supremo Tribunal Federal. Ouça:
https://youtu.be/WAU2xWiR5DQ
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JOTA

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