Paulo Dalla Nora Macedo

Nos últimos encontros do curso Presidentes do Brasil, promovido pela Escola Comum e apoiado pelo Política Viva, propus aos alunos que elaborassem uma Carta para o Futuro do Brasil. A ideia foi aproveitar o conhecimento adquirido nas mais de 30 horas de aulas e debates, com ex-presidentes e ex-ministros, para sistematizar a visão de outro futuro possível para o país. Na esfera mundial, os debates durante a COP 26 mostraram como a voz da juventude vai ecoar cada vez mais forte.
Havia ali, com o grupo de estudantes em escolas públicas, uma oportunidade única de dar visibilidade às opiniões dos que sofrem a dura realidade da nossa incompetência, como país, em proporcionar-lhes oportunidades compatíveis com suas necessidades e capacidades. Ou seja, jovens colocados em desvantagem apenas pela classe em que nasceram.
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A resposta que tive foi gratificante: 85 alunos (dos 100 que participaram do curso) aceitaram o desafio e, por intermédio de vários encontros virtuais, se engajaram em um debate que culminou na produção da carta, com a indispensável coordenação da equipe da Escola Comum. Esses 85 jovens representam todas as nossas regiões e aportaram visões a partir de grandes centros urbanos e de cidades menores. O conteúdo da carta foi totalmente concebido por esses jovens, por isso acredito que ele representa genuinamente os anseios de milhões de pares.
Foi uma alegria extra ter o texto endossado pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. Somou-se ao ex-presidente importantes lideranças escolhidas pelos jovens, como a ex-ministra Marina Silva e o ex-ministro Ciro Gomes. Além dos ex-ministros, nomes de ampla diversidade estão na lista dos nomeados pelos estudantes. Outras lideranças foram citadas pelos jovens, mas, infelizmente, não foi possível todas as assinaturas. À iniciativa também se incorporou o artista pernambucano Kilian Glasner, com a criação da obra que ilustra a capa do que os jovens nomearam apropriadamente de <a href="https://www.jota.info/wp-content/uploads/2021/11/carta-para-o-futuro-nossos-sonhos-para-o-brasil-de-2050.pdf">Carta para o Futuro — Nossos Sonhos para o Brasil de 2050</a>.
Ao longo do curso, testemunhei como os alunos despertaram para a importância da política e aprofundaram o entendimento dos desafios do Brasil, ao mesmo tempo em que os avanços que a democracia nos proporcionou nas últimas décadas eram registrados. Quando esses jovens tiveram a oportunidade de estudar detalhadamente as conquistas que o país teve no período pós-democratização, ficou claro para eles o papel da política em capitanear os nossos avanços civilizatórios pós-1988: desde uma moeda forte, passando pela consolidação de uma rede de suporte social e inclusão, até o aumento do acesso à educação.
A ex-ministra Marina Silva avaliou que nos falta uma “integração desses legados”. Mesmo com essa lacuna, tenho certeza de que esses ganhos superam os muitos erros cometidos: a democracia tem um saldo positivo no Brasil, e, mesmo com esse fato, ela nunca foi tão torturada como nos últimos anos. Entre os nossos erros, destaco a não priorização da busca de oportunidades iguais para todos.
Em tempos trevosos no Brasil, ter ajudado a viabilizar esse curso, participando de vários debates, foi um bálsamo que me despertou esperança com o nosso futuro, assim como os jovens me proporcionaram uma valiosa lição para um desenho de um país com oportunidades menos desiguais: o que é, disparado, a nossa mais ineficiente alocação de recursos.
É fato que a nossa história é péssima nesse ponto, e faz-se necessária uma autocrítica de todos. A tolerância ao projeto com catalogado ethos anticivilizatório, que vai de uma amoral e desarrazoada relativização a uma cumplicidade, soma passivo na nossa conta de degradação social de teto desde sempre escancarado. Por isso defendo que cobrar quem coteja (atenuando) esse projeto com qualquer outro, depois de três anos vivenciando-o, é uma obrigação cidadã.
É certo que não existe responsabilidade social sem responsabilidade fiscal, entretanto, tampouco apenas a responsabilidade fiscal garante investimento social e não coloca, automaticamente, o social na política econômica. E sem essa fusão, não endereçamos a herança maldita da desigualdade. O debate sobre um novo pacto social entrou na pauta mundial através de editoriais publicados no Financial Times e na The Economist, posicionamentos do Fórum Econômico Mundial e no Plano de Reconstrução Econômica de Joe Biden que tramita no Congresso dos EUA. No Brasil, de forma ampliada, não passamos do “teto, câmbio e juros”. Torço para ouvirmos os jovens e que entendamos a urgência e a centralidade desse debate para o Brasil do futuro.
Acesse <a href="http://www.escolacomum.org">www.escolacomum.org</a> para assinar e compartilhe o manifesto para ajudar a disseminar essa mensagem de esperança.

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