Etienne Jacintho

Comecei a semana disposta a escrever neste espaço uma crítica sobre “Fargo”, a série. Os dias foram passando, o sol brilhando e senti uma vontadinha de ser um pouco imprevisível. Isso porque é razoavelmente fácil falar sobre uma série que já deriva de um filme cult; que tem atores premiados no elenco por suas atuações geniais; que possui enredos marcantes, recheados de humor negro. E, pensando nisso tudo, a semana passou com dias cheios de calor e atividades com as crianças em férias, passeios, praias... E, à noite, a tela repleta de neve, de sangue e de mais neve. Não combina muito, não é? Pois então, numa noite de preguiça, eis que o meu dedo escorrega no teclado do computador e clique! Não resisti ao trailer de algo trash, brega e completamente fora do circuito de qualquer premiação: o remake de “Dinastia”. 
O primeiro episódio é a coisa mais cafona que vi ultimamente. E olha que não tenho preconceitos na hora de fuçar algo novo. Não sei nem por qual item começar a lista dos absurdos de “Dinastia”, mas vou tentar. E então, você, que ainda não perdeu o interesse em ler esse texto, mesmo sabendo que se trata de uma crítica sobre uma série nada extraordinária, pode decidir se vai encarar ou não. Vamos aos fatos:
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<li>Caso você tenha entre 35 e 45 anos, provavelmente vai se lembrar de Grant Show, um ator que não é lá um grande espetáculo, mas tinha charme lá nos anos 1990. Era ele o intérprete de Jake, o bonitão que morava no condomínio “Melrose Place”, uma espécie de spin-off de “Beverly Hills 90210” ou “Barrados no Baile”, como preferir. Jake apareceu em “Barrados” como o namorado mais velho de Kelly (Jennie Garth). Mas cabe aqui um alerta para quem era fã de Jake: Grant está, hoje, bem longe de ser aquele moço garboso, digamos assim, que seduziu Kelly e outras mocinhas nas séries do produtor Aaron Spelling. Em “Dinastia”, ele é Blake, o patriarca da família Carrington, que possui uma multibilionária empresa de combustíveis.</li>
<li>A melhor atriz da série, Elizabeth Gillies, é uma daquelas artistas-mirins americanas, que estrearam em programas de emissoras infanto-juvenis em que cantam, dançam, interpretam, saracoteiam e servem de exemplos para uma legião de adolescentes, até que são flagradas fazendo algo que fere a tradição e os bons costumes – vide Hilary Duff, Lindsay Lohan, Vanessa Hudgens... Ela interpreta Fallon, a filha de Blake, que faz de tudo para irritar o pai após ser preterida pela madrasta na vaga de CEO da empresa familiar. O aniversário de 25 anos de Fallon é o evento mais terrivelmente de mau gosto que já vi. Dá vergonha alheia pensar que alguém pode, de verdade, fora da ficção, achar uma festa daquelas algo muito bacana. Tem champagne servida por garçons em trajes mínimos e corpo pintado de dourado; frutas pintadas de dourado; bolo de três metros de altura e muitas camadas; chuva de papel dourado na hora de soprar as velhinhas. E por aí vai. </li>
<li>Os diálogos poderiam estar em uma novela mexicana ou colombiana daquelas bem melodramáticas. Ou mesmo em tramas infinitas americanas como “Days of Our Lives”. Algumas piadinhas parecem saídas de “A Praça É Nossa”, principalmente as que envolvem Fallon e o motorista da família, Michael Culhane (Robert Christopher), com quem, obviamente, ela tem um caso. A riquinha, filhinha de papai, que transa com o subalterno. Original, não? Aliás, Culhane é o “pegador” da série e, em menos de 10 capítulos, já tinha ficado com três riquinhas. Ou seja, não sei como ele arruma tempo para trabalhar!</li>
<li>O enredo não dá para ser levado a sério. Vou tentar resumir aqui sem muitos spoilers: Blake, o patriarca, casa-se com uma reles mortal venezuelana, funcionária de sua empresa, chamada Cristal Flores (Nathalie Kelley). Além do matrimônio, a moça ainda ganha a corrida para ser CEO e deixa a nova enteada, Fallon, irritadíssima. As duas começam a travar uma briga bem ao estilo pastelão, que tem até vazamento de vídeo de sexo e assassinato de ex-amante. Fallon, então, se junta a Jeffrey Colby, que vem de uma família rival – o pai, que está na cadeia, odeia Blake –, e começa uma empresa concorrente a Carrington Atlantic. Blake também tem um filho, Steven, gay assumido. Claro que ele namora pessoas que não são confiáveis, às vezes usa drogas e é tido como ovelha negra da família. Bem estereotipado, não? Steven acaba dormindo com um moço, Sammy Jo, que vem a ser sobrinho de sua nova madrasta, Cristal Flores. E, sei lá como, Sammy passa a morar na mansão dos Carrington. Sammy tem uma mãe, Iris, que foge de bandidos na Venezuela e também vai parar na mansão ao pedir ajuda à sua irmã, Cristal, cujo nome verdadeiro é Celia Machado. Com o tempo, descobre-se que Cristal/Celia assassinou o pai de Sammy, um homem violento. Também depois de um tempo, descobre-se que esse homem está vivo. Hein? Pois é... Esse é um resumo só dos primeiros capítulos.</li>
<li>Em “Dinastia”, porém, nem tudo é sofrível. James McKay está bem na pele de Steven Carrington, talvez o único personagem que parece ser mais humano, sem maniqueísmos e exageros em relação às verdadeiras intenções de suas ações. Suas falas são, por vezes, genuinamente bem engraçadas. Steven faz rir, mas não é de nervoso, como outros membros das famílias Carrington e Colby. </li>
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“Dinastia” é um entretenimento e ponto, assim como “Jane the Virgin”, ou “Gossip Girl”, “The O.C.” Apesar de brega e exagerada, a série ganhou temporada completa de 22 episódios. Produzida pela CW, a atração é distribuída pela Netflix, que apresenta novos episódios toda quinta-feira.

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JOTA

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