Etienne Jacintho

Destaque na última edição do Emmy Awards, a minissérie “Big Little Lies” tem início ao som de viaturas policiais. O crime, um assassinato, é o desfecho de uma série de ações que envolvem mães que vivem na cidade de Monterey, na Califórnia. São mulheres poderosas que, por trás das aparências, não têm vidas tão perfeitas assim. “Big Little Lies” traz uma morte, mas o desenrolar de sua trama faz com que o crime seja, digamos, um coadjuvante. O espectador não passa os sete episódios da série querendo saber quem morreu e quem matou – como acontece em atrações como “How to get away with murder”. Em “Big Little Lies”, o que o público quer mesmo é seguir o caminho de suas protagonistas, enquanto se depara com questões como violência doméstica, criação dos filhos, maternidade versus trabalho, bullying, traição e felicidade.
A minissérie é uma adaptação de David E. Kelley (“Ally McBeal”, “The Practice”, “Harry’s Law”) do best-seller homônimo da escritora Liane Moriarty. A produção, da HBO, ganhou 16 indicações ao Emmy e ganhou 8 delas, incluindo Melhor Série Limitada, Melhor Atriz (Nicole Kidman), Melhor Ator Coadjuvante (Alexander Skarsgard) e Melhor Atriz Coadjuvante (Laura Dern). As atrizes Reese Witherspoon e Shailene Woodley também concorreram na categoria Melhor Atriz. A HBO no Brasil já exibiu os sete episódios da minissérie, que está disponível para assinantes nas plataformas HBO GO e HBO On Demand.
A história começa com o tal crime, mas o espectador não sabe o que aconteceu. Ele terá de acompanhar todo o contexto da vida em Monterey até chegar ao desfecho da trama. Eis a situação: Jane Chapman (Shailene Woodley), mãe solteira e recém-chegada à cidade litorânea, leva seu filho, Ziggy, ao primeiro dia de aula na primeira série do ensino fundamental. A caminho da escola, conhece outra mãe, Madeline Mackenzie (Reese Witherspoon), que está com sua filha Chloe no carro. E assim nasce uma amizade entre as duas mulheres. Amizade esta que desafia a comunidade escolar, quando Ziggy é acusado de machucar o pescoço de uma colega ao tentar estrangulá-la. Acontece que a vítima é Amabella, a filha da poderosíssima Renata Klein (a sempre incrível Laura Dern).
Renata começa, então, uma perseguição social a Jane e seu filho. Madeline toma a briga para si. Neste contexto, o público passa a saber mais sobre a vida de Madeline e Jane. Por mais que Jane queira acreditar na palavra de seu filho que alega inocência, uma parte dela tem o pé atrás. Ziggy é fruto de um estupro e ela teme, por mais absurdo que seja, que o garoto tenha a maldade em seu gene. Jane segue sua vida, mas vive com medo. Ela sonha com vingança, tem uma arma, mas esse ímpeto não faz parte dela.
Já Madeline tem uma vida que todos considerariam boa. É bonita, rica, tem duas filhas, um marido amoroso e um trabalho que faz por amor. O problema? Bem, Madeline guarda rancor de seu ex-marido, mesmo 15 anos após a separação. Na visão dela, o ex-marido Nathan (James Tupper), que a abandonou e foi um péssimo companheiro, não merece a vida que leva. Ela não suporta o fato de ele ser casado com Bonnie (Zoe Kravitz), uma mulher mais jovem e supersexy, e ainda ser o preferido da filha adolescente Abigail, que decide sair da casa da mãe para viver com o pai. A inveja de Madeline tem interferido no relacionamento dela com seu atual marido, Ed (Adam Scott), o pai de Chloe.
Violência doméstica – A melhor amiga de Madeline é Celeste (Nicole Kidman). Essa, sim, tem uma vida de dar inveja a qualquer mortal. É perfeita. Celeste é linda. A casa dela é linda. O closet, então, nem vou falar dos pares de sapatos e dos vestidos maravilhosos...  O marido Perry (Alexander Skarsgard, o vampirão Eric, de “True Blood”) é lindo. Sua vida sexual é, aparentemente, linda. Seus filhos gêmeos são lindos.  Cadê o problema?
A questão é que a bela está presa, acorrentada, ao marido lindo. Ela sofre violência física, sim, mas o psicológico é o que mais a atinge. A advogada brilhante parou de trabalhar a pedido do marido. Ela não pode tomar nenhuma decisão sem consultá-lo antes, mesmo que ele esteja longe, a trabalho.  Mas ele a ama, certo? Ela não pode abandoná-lo, pois eles têm dois filhos e ele vai melhorar, acredite. Ele vai se tratar e tudo vai ser lindo e perfeito e blá, blá, blá. Perry faz esse jogo. E ela, cega, vai levando. Até que, aos poucos, alguns acontecimentos a fazem enxergar a verdade. O problema é que livrar-se dessas algemas não será nada simples.
“Big Little Lies”, apesar de ter sete capítulos que exploram bem essas complexidades das vidas das três protagonistas, deixa um pouco de lado os personagens mais secundários, mas que têm uma influência direta no crime que encerra a história.  Para quem gostar da série, vale a pena ir atrás do livro de Liane Moriarty – “Pequenas Grandes Mentiras, no Brasil editado pela Intrínseca –  e acompanhar mais de perto as questões que envolvem a vida de Abigail, Renata Klein e Bonnie.
Devido ao sucesso da minissérie, é possível que a autora escreva uma sequência para a história a pedido da HBO. Reese Witherspoon e Nicole Kidman estão pressionando para que haja uma segunda temporada. O diretor Jean-Marc Valeé acredita que não cabe uma sequência, pois cabe ao espectador imaginar o que pode ter acontecido na vida dessas mulheres após o ocorrido. No livro, a autora dá mais detalhes sobre os caminhos de cada uma das personagens, já que uma delas se apresenta à polícia como a autora do crime. Na série, esse e outros detalhes ficam à deriva, no mar da Califórnia, ou perdidos nas areias das praias de Monterey, onde essas mulheres incríveis e seus filhos passam um lindo dia ensolarado.

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JOTA

Série aborda temas como bullying, realização na maternidade, feminismo e violência doméstica

Big Little Lies: verdades nas pequenas grandes mentiras

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