Vez ou outra um alimento é eleito como o causador da obesidade ou de algum malefício à saúde. Lemos por aí uma infinidade de notícias elencando “a bola da vez”, desconsiderando dados científicos, informações nutricionais e excessos, primando por títulos alarmistas em vez de informação de qualidade. Há alguns anos, os dedos são apontados para o refrigerante e as bebidas açucaradas. E, além de os elegerem como vilões, ainda sugerem sobretaxá-los.
Difícil entender o motivo se os próprios dados do Ministério da Saúde deixam claro: não são os refrigerantes os causadores da obesidade. Nos últimos 14 anos, o país teve aumento de mais de 80% no índice de obesidade e, na contramão, a frequência do consumo regular de refrigerantes caiu pela metade, de acordo com a edição 2020 da Vigitel (Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico). Ou seja, esse estudo demonstra que não existe correlação direta entre consumo de refrigerantes e obesidade, uma doença complexa e multifatorial. Querer atribuir a responsabilidade pelo aumento nos índices de obesidade a um único produto é uma simplificação perigosa que nos afasta da real solução do problema.
Da mesma forma, a ideia da criação de tributos ou taxas específicas incidentes exclusivamente sobre um setor é ineficaz e discriminatória. O setor já sofre com uma carga tributária de 36,9% do preço de comercialização de seus produtos, uma das mais altas da América Latina. No México, por exemplo, a carga tributária subiu para 28% após o denominado “sugar tax”, bem diferente da já atual realidade de nosso país, e não surtiu efeitos no consumo. Pelo contrário, criou uma crise no mercado de trabalho mexicano ao eliminar 10 mil empregos diretos e fechamento de negócios de 30 mil pequenos varejistas em um ano.
Aliás, vários países já compartilharam suas experiências frustradas com a implementação de tal imposto. A Dinamarca introduziu-o em 2011 e o revogou em 2014 sem verificar redução na obesidade, mas com impacto na inflação e no desemprego. A Alemanha rejeitou mais de uma vez a proposta de imposto semelhante, pois verificou ser ineficaz. Na Austrália, a obesidade aumentou depois de adotado o imposto. Podemos imaginar o quão devastadora uma medida como essa pode se tornar no Brasil, ainda mais perante o cenário atual?
A obesidade no país não pode ser tratada com falácias, precisa ser encarada com seriedade. As 72 indústrias de bebidas não alcoólicas brasileiras representadas pela Associação Brasileira das Indústrias de Refrigerantes e de Bebidas Não Alcoólicas (ABIR), que recolhem anualmente R$ 13 bilhões em impostos e empregam direta e indiretamente mais de 2 milhões de brasileiros, nunca se furtaram ao diálogo e ao debate em prol de solução. E entendendo nosso papel nesse contexto, mesmo não sendo os vilões, trabalhamos com afinco para ser parte da solução.
Mesmo em tempos de pandemia, onde o setor foi considerado essencial evitando o desabastecimento da população com necessidade de adaptação em toda a sua cadeia, a indústria de bebidas não alcoólicas investiu alto em inovação, na reformulação e ampliação de seus portfólios, oferecendo opções em menores porções e com teores menores de açúcar, incluindo as opções sem açúcar. A ABIR também assinou um acordo voluntário e inédito com o Ministério da Saúde, em conjunto com outras associações setoriais de alimentos, para reduzir ainda mais o teor de açúcar dos produtos de suas associadas até o final do ano.
Alimentos não causam danos à saúde. Uma alimentação desequilibrada, sim. Estudo mundial do Instituto McKinsey demonstra que, entre as ações com menor custo e maior efetividade no combate à obesidade, estão os investimentos em educação, incentivo às práticas esportivas e a programas de manutenção de peso, além de campanhas pró-saúde.
O setor apoia e incentiva soluções nesse sentido. Juntos, governo, indústria e sociedade podem e devem caminhar para um estilo de vida cada vez mais equilibrado. Acreditamos que a educação e a informação baseada em ciência são nossas armas mais poderosas em qualquer cenário. Somente a união de forças nos levará às melhores soluções…