Mônica Thaís Souza Ribeiro

Aretta Gomes

As crises ambientais que ameaçam o futuro da humanidade, limitam o acesso aos recursos hídricos e comprometem a segurança alimentar em diversas regiões do mundo, agora também têm refletido na saúde mental das pessoas, sobretudo das mulheres. O problema, intitulado pela comunidade científica de ansiedade climática, é uma condição psicológica de medo relacionado com a gravidade da crise ambiental, a incerteza do que pode acontecer com o planeta, e à falta de políticas públicas efetivas.
Desde 1997 quando foi criada a Rede de Gênero e Desastre (Gender Disaster Network – GDN), diversos estudos demonstram como as mulheres estão mais vulneráveis em situações de desastres ambientais, como enchentes, pandemias, rompimento de barragens e outras tensões sociais, uma vez que elas são responsáveis por assumir as tarefas produtivas e reprodutivas para manterem suas famílias vivas e, em geral, com a dependência de recursos naturais que estão ameaçados por eventos climáticos.
A exemplo do que aconteceu na pandemia da Covid-19, o International Rescue Committee<a href="#_ftn1" name="_ftnref1">[1]</a> realizou uma pesquisa global de gênero no Covid e foi possível observar como os impactos das medidas de isolamento social afetaram a saúde mental e física das mulheres com o aumento de violência doméstica.
Cleonice Gonçalves, empregada doméstica de 57 anos, primeira vítima fatal da pandemia no Brasil, é um exemplo de mulher que precisou arriscar sua vida no trabalho. Durante a semana ela morava com seus empregadores na zona sul do Rio de Janeiro e enfrentava mais de 120km para ir para casa aos finais de semana.
Para que o Brasil alcance respostas satisfatórias para os problemas ambientais, se faz urgente ouvir e promover a participação equitativa das mulheres nos processos de tomada de decisão. Elas detêm a competência para atuarem como agentes de mudança, para sugerir e criar junto ao poder público medidas de adaptação à nova realidade ambiental, tendo em vista os seus conhecimentos tradicionais para o uso da terra e dos recursos essenciais.
As pescadoras e ribeirinhas afetadas diretamente por desastres ambientais, por exemplo, devem estar no centro dos debates para colaborar com propostas a partir de suas demandas e experiências, e para que emancipem e ampliem suas vivências. As vítimas anuais de enchentes e inundações nos grandes centros urbanos, as mulheres afetadas pelos desastres de barragens de Mariana e Brumadinho até as mulheres (re) afetadas por barragens em Morada Nova de Minas-MG, são exemplos de vozes a serem amplificadas em busca de caminhos para a construção de políticas públicas que deverão gerar informação, prevenção, reparação e resposta às crises e desastres.
<h3>Aquecimento Global</h3>
Dentre os maiores desafios enfrentados pela população mundial, está a mudança climática causada pelo aquecimento global do planeta, devido à intensificação do efeito estufa. Como consequência, o aquecimento global pode causar o aumento na ocorrência de eventos climáticos extremos como furacões, inundações, secas e grandes incêndios, e podendo alcançar pontos de inflexão no sistema climático como o derretimento das calotas de gelo polar.
Para limitar o aquecimento no planeta nos próximos anos é necessária uma cooperação global na adoção de políticas que diminuam a emissão de Gases de Efeito Estufa (GEEs) para a atmosfera. Uma solução possível seria a reestruturação da matriz energética, com a redução da queima de combustíveis fósseis por meio da utilização de combustíveis alternativos como o hidrogênio verde e biocombustíveis nos modais de transporte e da utilização de fontes de energia renováveis como a eólica e solar, em prol da natureza, do meio ambiente e consequentemente, da vida das pessoas.
<h3>O Brasil no cenário político mundial</h3>
O atual governo tem demonstrado compromisso com a agenda de proteção ambiental. Em novembro de 2022, antes mesmo de tomar posse, o presidente <a href="https://www.jota.info/tudo-sobre/lula">Lula</a> esteve na<a href="https://www.jota.info/tudo-sobre/cop27"> COP27</a> – Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas, e ratificou o compromisso do Brasil “em não medir esforços para zerar o desmatamento de nossos biomas até 2030”.  Destacou ainda a necessidade de cobrar recursos financeiros de países ricos e a aliança com países da América Latina. A ministra de Estado do Meio Ambiente e Mudança do Clima do Brasil, <a href="https://www.jota.info/tudo-sobre/marina-silva">Marina Silva</a> esteve no Fórum Econômico Mundial de Davos e firmou compromisso com a democracia e a sustentabilidade.
A violência doméstica, a vulnerabilidade familiar, a sobrecarga nas dinâmicas familiares estão entre os diversos desdobramentos causados em situações de desastres, motivos pelos quais é imprescindível e inegociável a inclusão das mulheres, em participação democrática e equitativa, na construção de políticas públicas.
A gravidade das consequências da desigualdade de gênero nas políticas restou mais que comprovada por meio de estudos da ONU mulheres e dos relatórios que acompanham o desempenho do Brasil para alcançar os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável sobre Igualdade de Gênero.
<h3>Novos desafios</h3>
A partir da reconexão entre meio ambiente e as mulheres, as políticas públicas ambientais devem voltar-se para as peculiares do nosso país e suas vulnerabilidades. Dentre os passos importantes para reduzir o impacto dos problemas ambientais na vida das mulheres, estão as políticas públicas de acesso à programas de incentivo à independência, programas de proteção efetiva de combate à violência doméstica e o acesso à água potável e segurança alimentar.
É urgente mitigar os impactos historicamente acumulados na vida de várias gerações de famílias, como disse a Deputada Federal e ativista indígena Célia Xekirabá: “somos a extensão da terra: o que dói nela, dói em nós também”.
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<a href="#_ftnref1" name="_ftn1">[1]</a> <a href="https://www.rescue.org/report/global-rapid-gender-analysis-covid-19">https://www.rescue.org/report/global-rapid-gender-analysis-covid-19</a>
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JOTA

Desastres ambientais e desigualdade de gênero: vulnerabilidades e impactos na vida das mulheres

Ansiedade climática e desigualdade de gênero

Desastres ambientais e desigualdade de gênero: vulnerabilidades e impactos na vida das mulheres.