Jota

O presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), considera que ele mesmo é a instituição Congresso Nacional ao atacar o procurador-geral da República, Rodrigo Janot. Investe-se do cargo para ameaçar o Ministério Público como uma estratégia de defesa, age com saudade do tempo em que bastava um telefonema de algum palácio para que uma investigação fosse indelevelmente engavetada.
Os tempos mudaram no Ministério Público. Ainda bem. Os tempos de alguma forma mudaram também no Congresso Nacional. No passado, o Supremo Tribunal Federal (STF) precisava da autorização prévia do Congresso para processar parlamentares acusados de crimes. Os tempos no STF igualmente são outros. Julgamentos públicos, televisionados, mais rápidos. Haverá cada vez mais transparência.
Mas o senador Renan Calheiros (PMDB-AL) parece estar preso ao passado. Talvez quisesse ter se reunido a portas fechadas com o procurador-geral da República e, num clima de segredo que a Constituição não admite, prometido apoio ao aumento salarial ao MP, pedido acesso às investigações sigilosas, feito ameaças políticas nas entrelinhas, promessas de retaliação que talvez surtissem efeito.
Os pedidos de abertura de inquérito, presume-se, basearam-se nos fatos amplamente divulgados após a deflagração da Operação Lava Jato. Levantar suspeitas sobre interferência do governo, com a inclusão ou exclusão de nomes, é jogar o Ministério Público como instituição na vala da política miúda.
É natural que um agente público demonstre indignação e proteste contra o envolvimento de seu nome num esquema de corrupção, seja porque sabe ser inocente, seja para tergiversar.
O senador, que cobrava ter sido ouvido previamente, terá ainda muito tempo para se defender da forma mais ampla possível. Se não houver indícios suficientes de seu envolvimento, não haverá denúncia. Se houver e ela for recebida pelo Supremo Tribunal Federal, ele responderá à ação penal.
As declarações enfáticas do senador Renan Calheiros podem comprometer a recondução ao cargo do procurador Rodrigo Janot, cujo mandato termina em setembro deste ano. A retaliação não terá sido apenas a ele, Janot. O petardo será lançado contra a instituição Ministério Público.
Afinal, se Janot não é reconduzido, quem será o novo procurador? Não é possível dizer que será obrigatoriamente alguém da simpatia dos investigados na Lava Jato. Terá o candidato ao cargo de assumir compromissos para ser aprovado pelo Senado? Conduzirá com independência as investigações? É preciso ter em mente a quem interessa um Ministério Público combalido: Somente àqueles com culpa no cartório.

16725518605_044e34cd81_k

https://images.jota.info/wp-content/uploads/2021/09/copy-of-jota-logo-high-cmyk.jpeg

JOTA

Presidente do Senado, Renan Calheiros (PDMB-AL), tenta usar cargo para emparedar Procurador Geral da República, Rodrigo Janot

A ameaça do coronelato ao Ministério Público

Presidente do Senado, Renan Calheiros (PDMB-AL), tenta usar cargo para emparedar Procurador Geral da República, Rodrigo Janot