João Villaverde

Renata Amaral

Quem sai de carro de Brasília para viajar a Belo Horizonte percorre 740 km, uma experiência que costuma levar 9 horas. Entre Boa Vista, capital de Roraima, e Georgetown, capital do país vizinho Guiana, a distância é um pouco menor, 680 km, mas o tempo de viagem é muito maior: mais de 12 horas dirigindo. A razão é simples: há trechos inteiros, de centenas de quilômetros, que estão sem qualquer pavimentação, e o cruzamento de rios, na Guiana, se dá por pontes de madeira. Não precisa ser assim. Roraima, nosso estado mais ao norte, e a Guiana têm tamanhos populacionais semelhantes (cerca de 800 mil habitantes), e podem transacionar muito mais do que fazem hoje.
Este é o trabalho das rotas de união promovido a partir do <a href="https://www.jota.info/tudo-sobre/ministerio-do-planejamento">Ministério do Planejamento e Orçamento</a> (MPO), sob liderança da ministra Simone Tebet, por determinação do presidente Lula. Integrar nosso país com nossos vizinhos é um mandamento constitucional que, a partir de agora, passa a ser política pública com impacto real sobre os territórios de fronteira. Com as cinco rotas de integração sul-americana já desenhadas no MPO a partir da escuta ativa realizada com os nossos 11 estados de fronteira (AC, AM, AP, MT, MS, PA, PR, RO, RR, RS e SC), temos um foco bem definido de onde os esforços conjuntos podem ser aplicados — no Brasil e em nosso continente.
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A reunião da Comunidade do Caribe (Caricom) nesta semana é um ponto fundamental para essa agenda das rotas de união sul-americana.
A integração entre a Guiana, país que mais cresce no mundo, e nosso território – a partir de Roraima – pode ser mais eficiente do que é hoje. Este é justamente o foco da Rota 1, que chamamos de “Ilha das Guianas”, em nossa agenda. Esta rota contempla a integração multimodal (rodovias, portos, aeroportos, infovias e hidrovias), energética e cultural entre quatro estados brasileiros (AM, AP, PA e RR) e nossos vizinhos ao norte. Para além do incremento ao desenvolvimento social e econômico da região, a Rota 1 tem o potencial de ligar diretamente o Brasil ao Caribe.
A melhoria da BR-174, importante via rodoviária em Roraima, está prevista no Novo PAC e auxiliará dramaticamente o escoamento da produção do estado e também dos bens que vêm desde Manaus (AM). De Boa Vista é possível pegar outra rodovia federal, a BR-401, até Bonfim, na fronteira com a cidade de Lethem, na Guiana, e dinamizar serviços numa rota que, ao entrar no país vizinho, tem tudo para gerar mais afluxo de turistas junto com o comércio entre países.
O Brasil exportou US$ 327 milhões a Guiana no ano passado, em máquinas, equipamentos e instrumentos mecânicos, mas apenas 0,02% a partir de Roraima (60% foram pelos portos do Rio de Janeiro). Nossas importações da Guiana chegaram a US$ 1 bilhão em 2023, concentradas em petróleo.
A construção de uma ponte sobre o rio na fronteira entre Guiana e Suriname também está no radar. De acordo com conversas que temos mantido com os governos, há busca ativa para o financiamento deste projeto. A exportação de produtos brasileiros, especialmente os perecíveis, se beneficiaria de uma conexão por via terrestre de Roraima ao Suriname, passando pela Guiana.
Os acordos comerciais também podem ser revisitados. Há dois exemplos simples: enquanto as batatas brasileiras estão sujeitas a 40% de tarifa de importação, as batatas do Reino Unido pagam apenas 5% para entrar na Guiana; enquanto o suco de maracujá europeu entra no Suriname com tarifa zero, o mesmo suco de origem brasileira é tarifado em 15%.
A união, a partir das rotas desenhadas pelo MPO, permitirá afastar de nosso continente aquela sensação descrita pela personagem Ata, criada pela incrível escritora guianense Oonya Kempadoo: “Esse sentimento de estar entre extremos, sendo nem um nem outro”.

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JOTA

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A rota de união amazônica e caribenha

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