Eduardo Galvão

Em meio ao caos com perda de vidas, desemprego e recessão econômica, o mundo inteiro anseia por uma vacina que salve as pessoas, permita retomar a atividade econômica  e nos conduza de volta a (alguma) normalidade. E, como demanda gera oferta, outros países se lançaram numa corrida para o desenvolvimento de uma vacina contra a Covid-19.
Hoje, na vanguarda da corrida pela vacina estão Rússia, China, Índia e Inglaterra, que miram no mercado trilionário que se abre, mas também mantém um olhar sobre aspectos de política internacional envolvidos.
<a href="https://conteudo.jota.info/poder-contato"><img class="size-medium wp-image-292717 aligncenter" src="https://www.jota.info/wp-content/uploads/2021/01/jota-pro-poder.jpg" alt="" width="688" height="688" /></a>
O primeiro que trazemos é o soft power adquirido. Esse conceito significa a capacidade de liderar que não seja obtida pela força ou imposição. É a liderança de alguém que foi reconhecido naturalmente pelos seus pares como o mais apto a liderar o grupo. E aqui a demonstração de liderança surge do exemplo de quem conseguiu bons resultados nas suas ações. No caso, quem foi mais bem sucedido no enfrentamento da crise sanitária. É uma disputa política que carrega consigo uma disputa de ideologias e também de sistemas de governo.
Outro aspecto: vamos lembrar que vivemos numa época de guerra comercial entre Estados Unidos e China, líderes mundiais, um capitalista, o outro, comunista. Os americanos querendo manter sua hegemonia histórica e os chineses buscando relações, cooperação e alianças com países ainda em desenvolvimento mas que demonstram boa ascensão econômica e geopolítica. Nesse contexto, a vacina russa pode aparecer como uma solução neutra para países que não queiram desagradar um ou outro parceiro comercial.
<blockquote class="jota-article__eye">Os detentores da tecnologia ainda aumentarão seu poder de barganha para poderem levar às mesas de negociação questões comerciais ou militares que estavam paradas em impasses.</blockquote>
A China, por exemplo, tem a oportunidade de aplacar as tensões com seus vizinhos na questão da expansão territorial do seu mar do sul. O fato de as vacinas, em sua maioria (e é o caso das vacinas russa e chinesa) necessitarem de mais de uma dose, pode funcionar como fator de extensão de compromissos para longo prazo.
A China é um grande exportador mundial de bens de manufaturados e de consumo, especialmente em itens como equipamentos de transmissão, discos digitais, peças de máquinas de escritório, circuitos integrados e telefones. Seu interesse na retomada econômica dos demais países é muito forte. Não apenas para dar pujança para seus principais compradores, mas também para usar da influência política da vacina para conquistar mercados hoje atendidos por seus concorrentes, principalmente os Estados Unidos.
No cenário doméstico brasileiro, a força política da vacina não foi diferente. O presidente Jair Bolsonaro e o governador de São Paulo, João Doria, ambos demonstrando interesse na corrida presidencial de 2022, protagonizaram narrativas antagônicas dentro desse contexto. Bolsonaro havia depositado confiança na vacina britânica, enquanto Doria apostou na parceria com a China. Ambos (políticos e países) estão de olho nas oportunidades políticas que se abrem para uma aliança bem sucedida. No âmbito da disputa presidencial no próximo ano, a reputação adquirida pela condução (boa ou ruim) da saúde pelos governantes será um dos fatores relevantes para  popularidade e apoio político.
A busca por mercados e proeminência política levou a indústria farmacêutica a intensificar suas ações de lobby nos países prioritários, como o Brasil, reforçando suas áreas de Relações Governamentais com profissionais com qualificação técnica e política para dialogarem com o Poder Público. Esse estreitamento do diálogo permite que os governos tenham as melhores e mais atualizadas informações técnicas para decidirem as políticas públicas de enfrentamento da pandemia. E se os países fornecedores disputam pela liderança, a vacinação vem mais rápido.
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O episódio 48 do podcast Sem Precedentes faz uma análise sobre a atuação do Supremo Tribunal Federal (STF) em 2020 e mostra o que esperar em 2021. Ouça:
https://youtu.be/-hMj5lwWXEE
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lobby world

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A geopolítica da corrida pela vacina

Vidas, mercado e poder estão em jogo