Felipe Coffone

Paulo Samico

Não é uma novidade ver as organizações encorajando seus colaboradores a agirem como se fossem donos. Incentivam atitudes empreendedoras na gestão de projetos, buscam profissionais que sejam orientados a resultados e esperam que seus líderes, durante todo esse processo, estejam aptos a inspirar os liderados e, por consequência, forme sucessores dentro de casa.
As empresas que funcionam dessa forma são caracterizadas como organizações exponenciais[1], aquelas que crescem de forma ultra acelerada e de potência de base constante, em variadas frentes e em um espaço de tempo muito curto. É comum que essas organizações tratem suas áreas internas como startups, aplicando metodologias ágeis para entregas consistentes, constantes e que geram um resultado robusto ao longo de um ciclo.
E o Jurídico? Quando analisamos as organizações – sobretudo as grandes empresas, nacionais ou multinacionais –, conseguimos enxergar uma equipe de advogados pronta para entregas inspiradas nas novas formas de trabalho? Do estagiário ao diretor executivo, todos possuem mentalidade de dono, com iniciativas ligadas às boas práticas, tendo a agilidade como princípio e o pensamento criativo como processo de trabalho, para fomentar o crescimento?
Ao conversarmos com alguns colegas, de diferentes empresas, parece-nos que essa forma de pensar e agir ocorre com maior facilidade quando a liderança consegue aplicar com exatidão a gestão de mudanças[2] no time.
Assim, quando essa forma de pensar em determinadas áreas como se fosse uma startup sai do pensamento individual e atinge o pensamento coletivo, aquele time parece uma unidade quase autônoma do organismo empresarial. Em um primeiro momento, pode ser entendido como algo individualizado, talvez até prejudicial ao clima organizacional. Decisivamente não. Essa “equipe startup” torna-se capaz de pensar, agir e gerar resultados para um bem maior, o bem geral da organização. O coletivo é o destaque.
Para começar essa transformação no ambiente jurídico, é importante considerar a criação de uma área destacada, focada. Esse núcleo é criado a partir de uma nova forma de atuação dos times internos e requer uma mudança de mentalidade na forma de atuação. Para emplacar essa ideia, reunimos alguns tópicos que podem ajudar:
<h3>Jurídico não é centro de custo; é investimento</h3>
Um Jurídico que quer atuar como uma startup de fato não pode só consumir recursos. Na era de escassez que vivenciamos – financeira e de recursos humanos – é extremamente importante um plano de crescimento para geração de valor. Ao combinar com o board um determinado investimento na área, o executivo jurídico deve ter com clareza o retorno do investimento empreendido, com a mentalidade de sempre buscar um prognóstico positivo de lucro. Ninguém investe pensando em perder.
<h3>A visão empreendedora requer coragem</h3>
Aplique a gestão de mudanças no Jurídico para transformar uma área, um time, uma cultura ou uma mentalidade. Isso requer, como primeiro passo, ter coragem. Os obstáculos não são somente aqueles com aversão ao progresso e à inovação (a turma do “nós sempre fizemos assim”); o sabotador interno vai atuar como colaborador implacável para que não haja evolução. Quando os pensamentos destrutivos “não há tempo para isso”, “é arriscado demais”, ou “ninguém vai se interessar” surgirem, inspire-se naqueles que deixaram um legado e hoje são lembrados por suas ideias. A coragem é impulsionada ao convidar as pessoas para fazer parte dessa transformação. Crie um plano estruturado de forma colaborativa para mitigar riscos discutindo ideias e, sobretudo, ouvindo quem irá executá-las.
<h3>Possuir um time diverso é o primeiro passo para atingir resultados extraordinários</h3>
Montar uma equipe pode ser um grande desafio quando não utilizamos o conceito de D&amp;I como agente catalisador para a transformação. Busque pessoas diversas de formação, opinião, etnia, orientação sexual, enfim, grupos minoritários que carregam consigo um trunfo para compor uma equipe orientada a resultados. Essa vantagem é uma visão diferente de mundo. Embora este seja um artigo de opinião, apresentamos fatos com base em dados. 
Empresas inclusivas e diversas são 11 vezes mais inovadoras e têm funcionários 6 vezes mais criativos do que a concorrência, afirma o estudo "Getting to Equal 2019: Creating a culture that drives innovation" (Rumo à inclusão 2019: Criando uma cultura que estimula a inovação), uma pesquisa realizada pela Accenture[3]. Pessoas diversas possuem conhecimentos diferentes que complementam um time. E onde há respeito e aceitação das pessoas como elas são… Não precisa de muito esforço para entender que em lugares assim os colaboradores são mais criativos e estimulados a inovar todos os dias.
<h3>Contratar uma startup é fomentar a agenda ESG da organização</h3>
O eixo de responsabilização social da sigla mais comentada nos últimos anos passa necessariamente pelo compromisso com o desenvolvimento social. Quando um Jurídico contrata uma startup, ele fomenta uma cadeia de estímulo ao pequeno empreendedor, gerando novas oportunidades de negócios e ajudando a empresa a exercer sua função social de geração de emprego e renda. Startups possuem o oxigênio da inovação em suas atividades, pois precisam ser criativas para entregar produtos e serviços sem o orçamento considerável que os grandes fornecedores possuem. Esteja pronto para ter um atendimento ainda mais personalizado, entregas ágeis e focadas em resultado, bem como muita criatividade para atingimento das metas.
<h3>Ser eficiente requer consistência e persistência</h3>
Pensar grande, executar com disciplina. Para ter um Jurídico equivalente a uma startup, é importante buscar formas de se autofinanciar. E ter esse entendimento em uma organização é possível quando você passa a se enxergar como o seu maior investidor, demonstrando o quanto agrega em termos de benefícios para a empresa. E isso vai além dos processos ganhos e nos contratos renegociados em época de corte de orçamento. 
Melhore os processos, busque eficiências financeiras reais (depósitos judiciais é um bom exemplo, mas não o único), estabeleça papeis e responsabilidades para que cada área do Jurídico possa colaborar diretamente com os objetivos da organização. Combine - especialmente com a área de Finanças - que parte da economia gerada pelo Jurídico seja revertida em investimento no próprio Departamento. A estratégia cíclica de entregas e compensações vai motivar todos a atingir resultados ainda mais expressivos. Se houver um erro, adote a filosofia das startups de aprender rápido e melhorar rápido para escalar seus processos. Praticando a resiliência como um hábito do time, o Jurídico fica próximo de virar o “unicórnio” da organização, gerando ainda mais valor.
Valor. O último parágrafo não terminou com essa palavra por um acaso. Agir com o propósito de atrair valor para o Jurídico é essencial na busca por ações, processos e resultados mais eficientes. É aqui que surge a eficiência jurídica.
A área de eficiência jurídica não nasceu para ser somente um novo núcleo no Departamento. Ela é a área que conecta a estratégia corporativa com a estratégia do próprio Jurídico. É a unificação do Direito, do Design, da Controladoria, do LegalOps e uma verdadeira forma de transformação do ambiente jurídico em uma startup unicórnio que vira referência de entregas para toda a organização.
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[1] Termo cunhado por Salim Ismail, Yuri Van Gees e Michael S. Malone. Recomendamos ler o livro ''Organizações Exponenciais'', originalmente publicado em 2014 e distribuído no Brasil pela editora Alta Book. Recomendamos o artigo escrito pelo Prof. Dr. Luis Fernando Ascenção Guedes na Fundação Instituto Administração, a FIA, escola de negócios da Universidade de São Paulo (USP), disponível em: <a href="https://fia.com.br/blog/organizacoes-exponenciais/&amp;gt">https://fia.com.br/blog/organizacoes-exponenciais/&amp;gt</a>;. Acesso em 29/10/2022.
[2] Entender sobre a razão das transformações, o que será preciso mudar, potenciais riscos e quais os recursos necessários para o processo de modernização e implementação de novas tecnologias.Trecho extraído do texto  “#TrendingTopics para a modernização do Jurídico”, originalmente publicado pela Revista Análise Editorial, disponível em &lt;<a href="https://analise.com/opiniao/trendingtopics-para-a-modernizacao-do-juridico">https://analise.com/opiniao/trendingtopics-para-a-modernizacao-do-juridico</a>&gt;. Acesso em 29/10/2022.
[3] O segredo da inovação não está somente na tecnologia. A pesquisa realizada pela Accenture foi destaque de matéria realizada pela Época Negócios, com o título “Equipes diversas são mais inovadoras e criativas”, disponível em 
&lt;<a href="https://epocanegocios.globo.com/Empresa/noticia/2019/04/equipes-diversas-sao-mais-inovadoras-e-criativas-diz-estudo-da-accenture.html">https://epocanegocios.globo.com/Empresa/noticia/2019/04/equipes-diversas-sao-mais-inovadoras-e-criativas-diz-estudo-da-accenture.html</a>&gt;. Acesso em 29/10/2022.
O mesmo estudo foi citado pelo diretor de estratégia e consultoria da Accenture Rafael Bonini, ao afirmar que “empresas mais inclusivas para a comunidade LGBTQIA+ são mais inovadoras e atingem mais resultados”, acessível 
em publicação feita pelo Valor Econômico &lt;<a href="https://valor.globo.com/live/noticia/2021/07/01/empresas-inclusivas-para-comunidade-lgbtqia-sao-mais-inovadoras-diz-diretor-da-accenture-sembarreira.ghtml">https://valor.globo.com/live/noticia/2021/07/01/empresas-inclusivas-para-comunidade-lgbtqia-sao-mais-inovadoras-diz-diretor-da-accenture-sembarreira.ghtml</a>&gt;. Acesso em 29/10/2022

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JOTA

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