Thales Falek

Rafael Arcuri

Em um cenário em que o agronegócio brasileiro busca demonstrar sua sustentabilidade frente a <a href="https://www.gov.br/pt-br/noticias/meio-ambiente-e-clima/2021/10/brasil-vai-demonstrar-a-sustentabilidade-do-agronegocio-na-cop26">questionamentos</a> internacionais, um debate se acende: a incorporação da cadeia produtiva do cânhamo no país. O Brasil tem potencial para abraçar essa alternativa sustentável, geradora de emprego e capaz de abrir novos mercados, ou corre o risco de ser eclipsado por <a href="https://www.metropoles.com/brasil/diante-de-empresarios-na-china-enviado-do-governo-cutuca-o-agro-brasileiro">críticas</a> internas e externas que questionam sua postura no setor agropecuário?  
A recente <a href="https://www.gov.br/agricultura/pt-br/assuntos/noticias/na-china-ministro-carlos-favaro-defende-projeto-brasileiro-para-transicao-sustentavel">visita do ministro da Agricultura</a>, Carlos Fávaro, à China, defendendo um projeto brasileiro de transição sustentável no agronegócio, contrasta com as críticas proferidas pelo <a href="https://www.canalrural.com.br/noticias/politica/lamento-o-ruido-diz-presidente-da-apex-sobre-falas-na-china/">presidente da Apex</a>, também em território chinês, que apontou problemas no agro brasileiro. Essa dualidade de discursos é representativa das controvérsias no cenário nacional sobre a aplicação da cannabis no agronegócio.  
O cânhamo, planta da mesma família da cannabis, mas sem efeito psicotrópico, possui uma ampla gama de <a href="http://agriculture.ec.europa.eu/farming/crop-productions-and-plant-based-products/hemp_en">aplicações industriais</a>, desde a produção de fibras para tecidos e materiais de construção até a obtenção de óleos e derivados para uso na indústria alimentícia, cosmética e farmacêutica. Por esse motivo, ele é utilizado em praticamente todos os países desenvolvidos.  
A Europa, por exemplo, já explora esse mercado há <a href="http://agriculture.ec.europa.eu/farming/crop-productions-and-plant-based-products/hemp_en">décadas</a>, com resultados significativos no campo da inovação e do desenvolvimento sustentável, e <a href="https://agriculture.ec.europa.eu/farming/crop-productions-and-plant-based-products/hemp_en">utiliza</a> essa cultura para produção de têxteis, materiais de construção e alimentos. Nos Estados Unidos, esforços têm sido feitos para desenvolver uma cadeia de fornecimento <a href="https://tsdesigns.com/building-a-domestic-hemp-supply-chain/">doméstico</a>, enfrentando gargalos <a href="https://www.heartland.io/sustainability-news/heartland-industries-cracks-the-industrial-hemp-supply-chain-bottleneck/">logísticos</a> de escala, armazenamento e processamento, e desenvolvendo uma estrutura que englobe desde a produção de sementes até a venda de <a href="https://highgradehempseed.com/blog/how-the-hemp-supply-chain-works/">produtos finais</a>.  
O Canadá tem se destacado no cenário internacional como um <a href="http://www.pwc.com/ca/en/industries/cannabis/pwc-cannabis-series-chapter-8-supply-chain-management.html">líder</a> na produção e comercialização de cânhamo, impulsionado por um marco regulatório claro e investimentos em pesquisa e desenvolvimento. A indústria canadense de cânhamo concentra-se principalmente na produção de <a href="http://newfrontierdata.com/cannabis-insights/canadas-lessons-for-north-americas-hemp-grain-market/">grãos</a> de cânhamo, com crescente interesse no aproveitamento das fibras da planta para aplicações industriais. O país conta com <a href="http://unctad.org/system/files/non-official-document/UNCTAD-Herrick_Fox-Hemp_in_USA_and_Canada.pdf">infraestrutura</a> de processamento e distribuição bem estabelecida, além de mecanismos para garantir a qualidade e rastreabilidade dos produtos de cânhamo.
A indústria do cânhamo na Austrália tem experimentado um <a href="http://agrifutures.com.au/wp-content/uploads/2022/11/22-109.pdf">rápido crescimento</a> nos últimos anos, com foco na produção de alimentos, têxteis e materiais de construção. O país tem investido em pesquisa e desenvolvimento para expandir a cadeia produtiva do cânhamo e diversificar as aplicações da planta, incluindo a exploração de sua utilização na produção de <a href="http://www.aumanufacturing.com.au/aussie-hemp-industrys-high-ambitions">bioplásticos</a> e outros materiais sustentáveis. A indústria australiana tem trabalhado em estreita colaboração com instituições de pesquisa e órgãos reguladores para estabelecer <a href="http://www.healtheuropa.com/australias-growing-industrial-hemp-industry/99504/">padrões de qualidade</a> e garantir a segurança dos produtos de cânhamo.  
No Brasil, a adoção de uma cadeia produtiva do cânhamo, sustentável e eficiente, demandaria investimento em pesquisa e desenvolvimento de tecnologias agrícolas, além de capacitação de produtores e mão de obra especializada, assim como uma rede logística eficiente, que permita o escoamento e a comercialização dos produtos derivados do cânhamo.   
No entanto, o agronegócio brasileiro já enfrenta diversos problemas e dificuldades que podem impactar a cadeia produtiva como um todo. Um dos principais desafios é a <a href="http://summitagro.estadao.com.br/noticias-do-campo/entenda-a-cadeia-produtiva-do-agronegocio/;%20agrodex.com.br/informativos/24/artigo-os-desafios-da-cadeia-produtiva-fatores-cruticos">logística</a>, que envolve o transporte, armazenamento e distribuição dos produtos agrícolas – até hoje nossa malha ferroviária é ínfima quando comparada ao resto do mundo. A falta de infraestrutura adequada e a distância entre as áreas de produção e os centros consumidores geram custos elevados, perdas e ineficiências no setor. A <a href="http://seculoxximinas.com.br/fgv/saiba-a-sua-importancia-na-cadeia-produtiva-do-agronegocio/;%20sophiauta.s3-sa-east-1.amazonaws.com/Agroneg%C3%B3cio/tcc+pdf+Marilda+Bezerra.pdf">sustentabilidade</a> ambiental é outro desafio enfrentado pelo agronegócio brasileiro, que precisa conciliar a expansão da produção com a preservação dos recursos naturais e a redução do impacto ambiental, incluindo questões como desmatamento e emissões de gases de efeito estufa.  
Outro ponto importante a ser considerado são as <a href="http://sophiauta.s3-sa-east-1.amazonaws.com/Agroneg%C3%B3cio/tcc+pdf+Marilda+Bezerra.pdf">questões sociais</a> relacionadas à cadeia produtiva do agronegócio, como a concentração de terras e a desigualdade no acesso a recursos e crédito, que dificultam a inclusão e o desenvolvimento de pequenos e médios produtores.  
Especificamente para o caso do cânhamo, é muito importante a construção de uma imagem positiva do cânhamo no país, dissociando-o da maconha e destacando seus benefícios econômicos, sociais e ambientais. A indústria do cânhamo pode ser uma aliada na <a href="https://www.embrapa.br/busca-de-publicacoes/-/publicacao/933999/sustentabilidade-no-agronegocio-brasileiro">busca</a> por práticas mais sustentáveis no agronegócio brasileiro, o que pode fortalecer a imagem do país no cenário internacional.   
O setor agropecuário brasileiro tem se posicionado como sustentável e eficiente, buscando reforçar sua <a href="https://www.noticiasagricolas.com.br/noticias/agronegocio/345035-fpa-agropecuaria-nacional-e-sustentavel-gera-emprego-e-abre-mercados.html#.ZD6YHnbMKWA">imagem positiva</a> no cenário internacional. Diante das críticas externas, o setor destaca a preservação de vegetação nativa, leis ambientais rigorosas e expansão da produção sustentável, reiterando a importância de basear a percepção do agronegócio em dados oficiais e científicos, em vez de ideologias.  
Por isso, a cadeia produtiva do cânhamo surge como uma ferramenta para o agronegócio brasileiro em sua busca por sustentabilidade, contribuindo para a diversificação da matriz produtiva, a geração de emprego e o fortalecimento da imagem do país no cenário internacional. Porém, para que essa implementação seja bem-sucedida, é necessário enfrentar os desafios citados, como as barreiras legais, investimento em pesquisa e desenvolvimento de tecnologias agrícolas, capacitação de produtores e mão de obra especializada e estabelecimento uma rede logística eficiente. Talvez 2023 seja o ano no qual o Brasil dará seus primeiros passos para um casamento estratégico entre o agro tradicional e o cânhamo industrial.

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JOTA

Indústria do cânhamo pode ser uma aliada na busca por práticas mais sustentáveis no agronegócio

A cadeia produtiva do cânhamo e o agro brasileiro

Indústria do cânhamo pode ser uma aliada na busca por práticas mais sustentáveis no agronegócio brasileiro