Etienne Jacintho

AVISO: o texto contém spoilers
 
A primeira vez em que ouvi falar sobre 13 Reasons Why, série produzida pela Netflix, já imaginei a maratona que faria madrugada adentro para ver os 13 episódios, afinal, pela sinopse, parecia aquele tipo de atração altamente viciante. Uma garota morta, um depoimento em fitas cassetes para contar o porquê de seu suicídio, crimes enterrados, bullying e uma crítica à sociedade em que vivemos hoje. Realmente, parecia ser a estreia do ano. Só que não - apesar de muita gente defender que ela é.
Veja bem, a série não  é ruim. Está longe disso e, provavelmente, ganhará muitos prêmios. Ela só não é tão inovadora e excepcional como alardeavam por aí. Mas vale a pena parar para assistir à história de Hannah Baker (Katherine Langford), a adolescente de 16 anos que não aguenta a pressão do ensino médio - que elege populares e perdedores - e decide se matar. A voz dessa garota morta, ressoando em fitas cassetes, paira como um fantasma assustador na vida de 13 pessoas do colégio em que Hannah estudava. Um a um, Hannah vai nomeando os motivos pelo qual decidiu acabar com sua vida. Em uma espécie de jogo, ela dita as regras: todos os citados receberão as fitas para saberem o que fizeram de errado ou o que não fizeram para impedir que ela cortasse seus pulsos.
<a href="/wp-content/uploads/2017/05/13razoes2.png"><img class="aligncenter wp-image-78304 size-large" src="/wp-content/uploads/2017/05/13razoes2-1024x576.png" alt="" width="900" height="506" /></a>
Cada episódio foca uma dessas pessoas que contribuíram para sua morte. E o espectador acompanha tudo pelos olhos e lembranças não só da morta, mas também de um de seus colegas, o sonhador Clay Jensen (Dylan Minnette), que é um dos últimos a receber e escutar as gravações. Diferentemente de seus colegas, Clay não tenta esconder as fitas ou fingir que elas nunca existiram. Hannah, tanto em vida como em morte, abalou demais a existência de Clay, que tentará trazer à tona alguns acontecimentos e fazer justiça pela garota que ele tanto amou.  Escrevendo assim, pode parecer uma série piegas sobre vingança, mas não é. Clay busca um jeito de desenterrar crimes e ajudar vítimas como a própria Hannah, mas neste processo, ele próprio tem de encarar seus medos, preconceitos e indignações.
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Apesar de vermos Hannah mais pelos olhos de Clay, a série também coloca luz sobre os pais da moça, que decidem processar o colégio por ter feito vistas grossas para os problemas da adolescente. Eles querem provar na Justiça que a filha sofria bullying e os diretores, professores e conselheiros não se importaram. A mãe, Olivia Baker, é interpretada por Kate Walsh (a dra. Addison de Grey's Anatomy e Private Practice). Ela está disposta a fazer com que as instituições de ensino passem a ter políticas melhores para proteger seus alunos. Mal sabe ela que o bullying nem era o maior dos problemas de Hannah. Há revelações muito mais duras e difíceis de lidar.
13 Reasons Why começa bem, mas tem um meio de temporada um pouco cansativo, em que a trama parece ser só mais uma atração para adolescentes. Dá até um pouco de preguiça de ver Hannah sofrendo por questões aparentemente banais. Bacana é que, pouco depois, as questões banais são a porta de entrada para conflitos realmente pertinentes, que atingem toda a sociedade hoje em dia. A série aborda o machismo que existe em cada um de nós de forma tão enraizada, fala de preconceito, homofobia e de diferentes tipos de violência. A atração coloca holofotes nas questões que afligem os adolescentes na sociedade de hoje, em que redes sociais transformam o bullying num problema que, muitas vezes, extrapolam os limites da escola. Em tempos de facebooks, instagrams e whatsapps, a trajetória de qualquer um está online.
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Os três episódios finais são bem fortes e o desfecho já dita o que esperar da segunda temporada, prevista para 2018. O que virá não será fácil de digerir, pois, certamente, veremos Columbine. Atiradores em escolas, por mais que tenham se tornado uma questão amplamente discutida nos Estados Unidos, ainda são atitudes incompreendidas. Outro ponto importante que deverá entrar em discussão na segunda temporada diz respeito à Justiça. Conseguirão os pais de Hannah responsabilizar a escola pela morte da moça? E um ponto ainda mais complexo: haverá como usar as fitas de Hannah em um processo criminal? Afinal, pode uma menina morta ser testemunha de um processo de estupro. Os depoimentos de Hannah seriam aceitos em um tribunal?  
13 Reasons Why tem mérito por trazer esses debates para dentro da casa das pessoas. Os adolescentes podem ver que seus atos têm sérias consequências. Os pais recebem um alerta de que é importante fazer parte da vida de seus filhos dando-lhes atenção e tempo. Hoje em dia os pais trabalham mais para dar uma vida confortável a seus filhos, passam muito tempo fora de casa e não conseguem acompanhar de perto a vida dessas crianças. A Hannah Baker que se matou era uma desconhecida para seus pais e eles não se perdoam por não terem percebido as mudanças no comportamento da filha. Educadores também percebem que têm um papel essencial na vida dos adolescentes e precisam estar atentos às necessidades desses jovens. A trama aborda essas questões sem ter um tom professoral e sem distanciar-se do universo juvenil. Esses adolescentes sofrem sozinhos e, também sozinhos, tentam resolver seus problemas. Mas eles são imaturos e, algumas vezes, seus conflitos não são coisas de criança.
<a href="/wp-content/uploads/2017/05/13razoes4.jpg"><img class="aligncenter wp-image-78306 size-full" src="/wp-content/uploads/2017/05/13razoes4.jpg" alt="" width="960" height="541" /></a>
13 Reasons Why não olha o adolescente de cima. Ela encara o adolescente. Na minha opinião, só falta um pouco de tempero. Ela poderia ser mais espirituosa, como Juno, o filme de 2007, dirigido por Jason Reitman e escrito por Diablo Cody. Isso daria um pouco mais de leveza e de tons às atitudes dos colegas de Hannah Baker. Somente Clay tem esses contornos. 
A série tem cenas pesadas de assédio e estupro. O suicídio de Hannah, mostrado sem filtro, sofrido e doloroso, foi filmado assim para não encorajar jovens. Em muitos países em que foi exibida, 13 Reasons Why foi classificada para maiores de 18 anos. Aqui no Brasil, é indicada para maiores de 16 anos. A atração também fez o número de ligações para entidades como o Centro de Valorização da Vida (CVV) aumentar. A ficção pode ter essa responsabilidade social. Pode impulsionar discussões e, como neste caso, encorajar jovens a buscar ajuda e não aceitar abusos e violências. Que venha o segundo ano - e que seja rico como essa temporada de estreia.

13razoes

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JOTA

Série aborda o machismo, fala de preconceito, homofobia e de diferentes tipos de violência

13 Reasons Why e as questões que afligem os adolescentes

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