Márcio Falcão

O Supremo Tribunal Federal (STF) começou, nesta segunda-feira (28), a realizar os primeiros interrogatórios de congressistas que são réus na Lava Jato. Foram ouvidos a presidente do PT e senadora Gleisi Hoffmann (PR) e o deputado Nelson Meurer (PP-PR).
Marido da senadora, o ex-ministro Paulo Bernardo também falou à Justiça. Os depoimentos foram tomados pelos juízes auxiliares do ministro Edson Fachin, que trabalham nos casos sobre o esquema de corrupção da Petrobras. Meurer tentou adiar o interrogatório, sob o argumento de que precisava produzir novas provas. Fachin entendeu que o pedido era intempestivo (fora de prazo) e que a prova solicitada não é realmente necessária ao processo.
Agora, as duas ações penais dos parlamentares entram na reta final. Fachin pedirá que as defesas e o MP se manifestem sobre novos pedidos de produção de provas por exemplo.
Há expectativa no STF de que pelo menos o caso de Gleisi e Paulo Bernardo seja levado a julgamento até o fim do ano, quando os ministros da 2ª Turma decidirão se condenam ou absolvem os petistas dos crimes de corrupção e lavagem de dinheiro.
Segundo a denúncia, enviada ao STF em maio, Paulo Bernardo pediu R$ 1 milhão ao ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa para abastecer a campanha de Gleisi ao Senado em 2010. O dinheiro teria sido entregue por um intermediário do doleiro Alberto Youssef a um empresário chamado Ernesto Kugler, ligado ao casal e que também é réu. A quantia teria sido repassada em quatro parcelas de R$ 250 mil. Para o MP, a propina teria sido paga diante do papel de relevância dos dois no PT.
Gleisi foi ministra da Casa Civil no governo de Dilma Rousseff entre junho de 2011 e fevereiro de 2014. Ela também aparece em outras delações, como na Odebrecht. Durante o processo de impeachment, a senadora foi uma das principais líderes que comandou a defesa da petista no Congresso. Paulo Bernardo foi ministro do Planejamento no governo Lula, de 2005 a 2011, e das Comunicações já no governo Dilma, de 2011 a 2015.
O casal nega as acusações e diz que o MP induziu o STF ao erro para o recebimento da denúncia, uma vez que há várias contradições nos depoimentos dos delatores. A defesa acredita na absolvição do casal.
Depois de ser ouvida por quase uma hora, a senadora afirmou que a acusação contra ela foi politizada. "Acho que tem alto grau de politização (na denúncia). Quando fui denunciada, havia muita influência do Judiciário e do Ministério Público. Ele (o procurador-geral da República, Rodrigo Janot) fez uma denúncia e foi premido pela opinião pública", disse.
"Neguei o que estão me acusando: corrupção passiva e lavagem. Nunca tive relação com Paulo Roberto Costa. Não tem nenhuma prova, e já estou sendo julgada e condenada. Eu não precisava pedir dinheiro para minha campanha de 2010. Sou vítima de perseguição política em razão de Alberto Youssef e de seu advogado, que foi assessor de Beto Richa. Não tem prova desse dinheiro chegando a mim", completou.
Ao deixar o interrogatório, o ex-ministro Paulo Bernardo  disse que a acusação do MP contra ele e sua mulher na Lava Jato "não é verdadeira" e não tem elementos para se sustentar. Paulo Bernardo disse que não solicitou R$ 1 milhão ao ex-diretor da Petrobras a campanha de Gleisi Hoffmnan ao Senado. O ex-ministro disse ainda que a PF não encontrou indícios de reuniões ou contatos dele com Paulo Roberto. 
 
Já o deputado Nelson Meurer e seus filhos Nelson Meurer Jr. e Cristiano Augusto Meurer são acusados pela suposta prática dos crimes de corrupção passiva e lavagem de dinheiro. De acordo com a denúncia, entre 2006 e 2014, em Brasília (DF), Curitiba (PR), São Paulo (SP) e Rio de Janeiro (RJ), na condição de integrante da cúpula do Partido Progressista (PP) e em conluio com o deputado federal José Janene (já falecido), o doleiro Alberto Yousseff e Paulo Roberto Costa, Meurer teria contribuído para a indicação e manutenção de Costa na Diretoria de Abastecimento da Petrobras com a finalidade de se beneficiar das vantagens ilícitas provenientes de contratos de empreiteiras com a estatal.
Segundo o MPF, teriam sido feitos pelo menos 161 repasses ao PP no valor de R$ 357,9 milhões, em contrapartida à sustentação de Costa no cargo, estratégico para o recebimento da propina.
Também conforme a denúncia, parcela considerável desses valores teria sido paga pelas empreiteiras por meio de contratos de prestação de serviços fictícios celebrados com empresas de fachada de Alberto Youssef, responsável por administrar um verdadeiro "caixa de propinas" do PP, o que teria ocorrido com pelo menos 180 pagamentos, no valor total de R$ 62,1 milhões.
De acordo com o MPF, Nelson Meurer teria recebido pelo menos R$ 29,7 milhões, correspondentes a 99 repasses mensais de R$ 300 mil.
A defesa do deputado argumenta que Meurer foi líder do PP na Câmara entre janeiro e agosto de 2011, e não poderia ser responsabilizado por fatos supostamente ocorridos entre 2006 e 2014.  Da mesma forma, a defesa sustentou que a denúncia atribui a Meurer "um protagonismo que nunca existiu" e que, nos acordos de delação premiada, Paulo Roberto Costa e Alberto Youssef teriam deixado isso bem claro.
A identificação de Meurer no contexto dos fatos, sua posição e participação no suposto esquema criminoso de desvio de verbas da Petrobras também não teriam sido apontadas pelo Ministério Público, no entender do advogado.

réus

https://images.jota.info/wp-content/uploads/2021/09/copy-of-jota-logo-high-cmyk.jpeg

JOTA

Gleisi e Meurer serão ouvidos por juízes auxiliares de Fachin. Ações penais entram na reta final

STF começa a interrogar congressistas réus na Lava Jato

Gleisi e Meurer serão ouvidos por juízes auxiliares de Fachin. Ações penais entram na reta final