Basilia Rodrigues

A composição do Supremo Tribunal Federal mudou, mas parece 2012, ano do julgamento do mensalão, com nomes e rostos sendo os mesmos na plateia de defensores. Os advogados de José Dirceu, Marcos Valério, João Paulo Cunha e Duda Mendonça que se revezaram em reportagens e defesas na AP 470 hoje estão de volta aos holofotes atuando na defesa de presos da Operação Lava Jato. Além de alguns dos principais defensores de um caso serem os mesmos do outro, os crimes descritos nos dois processos se repetem: corrupção, lavagem de dinheiro, formação de quadrilha e evasão de divisas.
Depois de conseguir tirar o título de chefe da quadrilha de Dirceu, o advogado José Luiz de Oliveira Lima agora defende a tese de que o empresário Erton Medeiros, diretor da Galvão Engenharia, foi vítima de extorsão. A construtora alega que cedeu aos pedidos de pagamento de propina de funcionários da Petrobrás para não perder a oportunidade de assinar vultosos contratos com a estatal. A delação premiada pode abater alguns anos da pena dos executivos presos, caso eles sejam condenados. No caso mensalão, o ex-ministro da casa civil José Dirceu sempre negou fazer parte de um esquema de corrupção. Mas acabou condenado a 7 anos e 11 meses, foi solto depois de cumprir 1 ano e 5 dias de prisão e garantir o direito de progressão da pena.
<h4>Sem ilações ou críticas ao jogo político, restam coincidências entre o mensalão e as investigações da PF sobre a Petrobras.</h4>
Mineiro, o advogado Marcelo Leonardo defendeu o operador do mensalão, Marcos Valério. O publicitário foi condenado à maior pena de todo processo: cerca de 40 anos. No caso da Lava Jato, o advogado fala em nome de Sérgio Mendes, diretor da Mendes Júnior, um dos últimos executivos a se entregar à Polícia Federal nesta semana em que a nova etapa da operação foi deflagrada. Na porta da superintendência da PF no Paraná, Marcelo Leonardo, também disse que o cliente foi alvo de extorsão. "Ele admitiu ter pago 8 milhões de reais em propina para Alberto Yousseff", revelou o advogado à imprensa.
O ex-presidente da Câmara dos Deputados, João Paulo Cunha, do PT, foi condenado a 6 anos e 4 meses, já passou 9 meses e 16 dias na prisão, e tenta cumprir o restante da pena em liberdade. Ricardo Pessoa, presidente da UTC Participações, chamado nas investigações da Lava Jato de "chefe do clube", tem o mesmo advogado, Alberto Toron. O executivo teve a prisão temporária convertida em prisão preventiva nessa terça-feira (18/11). Toron disse que o cliente iria responder todas as perguntas da polícia e minimizou a troca de e-mails entre o empresário e o doleiro Yousseff. "Eles tinham negócios em comum. Isso é natural", afirmou o advogado.
Figura conhecida em julgamentos no Supremo Tribunal Federal, o advogado Antônio Carlos de Almeida Castro, o Kakay, foi um dos poucos defensores que conseguiram convencer o plenário que julgou o Mensalão a inocentar seu cliente. No caso, o marqueteiro Duda Mendonça foi absolvido porque a defesa explicou que ele não manteve valores superiores ao permitido no exterior na data estipulada pelo Banco Central. Ele poderia ter sido condenado por sonegação fiscal já que não declarou imposto de renda mas essa acusação não estava no processo.
Hoje, Kakay vê falhas de competência do juiz federal, Sérgio Moro, na condução do processo da Lava Jato. Contrário ao uso da delação premiada neste processo, ele alertou o doleiro Yousseff de que não atuaria no processo caso ele fechasse acordo com o Ministério Público e a Polícia Federal. O nome de Kakay voltou a aparecer depois que ele contou ter se encontrado, em Paris, com Fernando Bahiano, acusado de ser o operador do PMDB no esquema. O objetivo era consultar o criminalista sobre o que ele achava dos desdobramentos da Lava Jato.
Quem também poderia completar esse rol de advogados seria o defensor do ex-deputado José Janene, do PP, morto antes do julgamento do mensalão. Em denúncia, o MP afirma que para ocultar parte do dinheiro recebido do mensalão, cerca de R$ 1,6 milhão, Janene usou serviços de Yousseff.
Diferentemente de seus clientes no Mensalão, os advogados têm agora em mãos um caso em que os acusados não perderam tempo e concordaram em contar detalhes do esquema para a Justiça, com receio de condenação.
O comportamento dos clientes tem se refletido no dos defensores, mais abertos a entrevistas para a imprensa com o objetivo de associar o tom de transparência às revelações dos investigados. Nunca se viu tantas delações premiadas tanto de pessoas físicas quanto de empresas, o que nesse caso é chamado de acordo de leniência. O próprio Procurador Geral da República, Rodrigo Janot, reconheceu nesta semana. "O fenômeno que está acontecendo é que quanto mais pessoas vêm e procuram o MP para falar outras se sentem incentivadas de vir também", constatou.

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JOTA

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