Bárbara Lobato

*Atualizada às 13h10
O nome da ex-ministra Erenice Guerra, que sucedeu a presidente Dilma Rousseff na Casa Civil, faz parte do acordo de delação premiada firmado pelos executivos da empreiteira Andrade Gutierrez com a força-tarefa da Lava Jato. Os termos estão sob análise do Teori Zavascki, do Supremo Tribunal Federal, que pode homologar o acordo nos próximos dias.
Os executivos Elton Negrão de Azevedo e Otávio Marques de Azevedo, réus na Lava Jato, deixaram do Complexo Médico-Penal em Pinhais, na Região Metropolitana de Curitiba, no início de fevereiro deste ano após prestarem colaboração premiada com os procuradores do Ministério Público Federal. Eles foram presos durante a  14ª fase da Operação Lava Jato.
A ex-ministra Erenice, que ficou à frente da Casa Civil entre abril e setembro de 2010, é suspeita de intermediar contratos superfaturados da usina de Belo Monte. O leilão da usina durou sete minutos e foi vencido com deságio de 6,02% sobre o preço inicial de R$ 83 por MWh, no dia 20 de abril de 2010.
Antes de assumir a Casa Civil, Erenice era a número 2 da Pasta. Ela foi nomeada para a secretaria-executiva em 2005, quando Dilma Rousseff deixou as Minas e Energia para substituir José Dirceu no Planalto.
Além de ser citada também no acordo de delação premiada do ex-senador Delcídio do Amaral, informações documentais apresentadas pelos empresários da Andrade dão robustez às citações, de acordo com diferentes investigadores que falaram com o JOTA sob sigilo.
Após a homologação do acordo dos executivos da Andrade Gutierrez, o ministro pode retirar o sigilo das delações, tornando-as públicas, ou avaliar que a divulgação das informações pode gerar impacto social e manter o sigilo.
Ex-ministra é suspeita na operação Zelotes
A ex-ministra da Casa Civil é alvo de operação em curso da Polícia Federal, a Zelotes. Em dezembro de 2015, Erenice prestou depoimento à Polícia Federal sobre os contatos entre o escritório de advocacia dela e o JR Silva Advogados, de José Ricardo da Silva, um dos investigados da operação, que já foi conselheiro no Conselho Administrativo de Recursos Fiscais (Carf).
A Polícia Federal apura indícios de corrupção e sonegação fiscal de empresas na atuação do Conselho, órgão ligado ao Ministério da Fazenda.
Documentos públicos consultados pelo JOTA também vão na direção das informações que constam da delação dos executivos da Andrade Gutierrez.
O governo federal fechou, em agosto de 2010, acordo com 11 construtoras para construção da Hidrelétrica de Belo Monte, no Rio Xingu. Entre elas, figuravam as três maiores empreiteiras do País: Odebrecht, Camargo Corrêa e Andrade Gutierrez - que saiu derrotada no leilão, mas terminou por fazer parte do consórcio construtor da usina, o Consórcio Construtor de Belo Monte. Este consórcio, o CCBM, foi contratado pela vencedora do leilão, a Norte Energia.
À época da assinatura do contrato ficou definido que a Andrade Gutierrez definiria toda a execução da obra. Outras empreiteiras, também arroladas na operação Lava Jato, fizeram parte do consórcio da obra: OAS, Queiroz Galvão, Mendes Júnior e Galvão Engenharia.
Uma das principais obras do PAC (Plano de Aceleração do Crescimento), a construção da usina de Belo Monte começou sob forte polêmica com ambientalistas e representantes de comunidades indígenas em junho de 2011, quando foi liberada a última autorização do Ibama, a licença de instalação.
O empreendimento foi oferecido ao mercado na modalidade A-5, o que significa que em cinco anos deveria fornecer a energia contratada pelo poder público. A União remunera o consórcio pela eletricidade fornecida, o que só acontece depois que a usina estiver pronta, gerando energia para o Sistema Interligado Nacional (SIN).
Durante a etapa de construção, o consórcio Norte Energia recebeu um financiamento de R$ 22,5 bilhões do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). O empréstimo foi aprovado em novembro de 2012 - sendo R$ 7 bilhões repassados pela Caixa e outros R$ 2 bilhões pelo BTG Pactual, cujo ex-presidente Andre Esteves foi detido na Lava Jato sob suspeita de planejar, em conjunto com o ex-senador Delcídio do Amaral, a fuga do ex-diretor da Petrobras Nestor Cerveró. A detenção de Esteves foi revogada pelo Supremo Tribunal Federal em dezembro, que o deixou em prisão domiciliar sob o compromisso de medidas cautelares, como comparecimento em juízo.
Procurada, a Norte Energia informou que não se manifestaria por desconhecer o teor do acordo de delação premiada dos executivos da Andrade Gutierrez. O JOTA não conseguiu localizar a equipe de defesa de Erenice Guerra.

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JOTA

Ex-ministra teria atuado em contratos de Belo Monte

Executivos da Andrade Gutierrez citam Erenice Guerra em delação na Lava Jato

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