Paulo Fernando Pinheiro Machado

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"Não conheço nenhuma fórmula para o sucesso. Mas, ao longo dos anos, observei que alguns atributos de liderança são universais e que muitas vezes consistem em se encontrar maneiras de encorajar as pessoas a combinarem seus esforços, talentos, insights, entusiasmo e inspiração para trabalharem em conjunto."
<footer class="jota-article__quote-cite">Rainha Elizabeth II</footer>
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Na Grécia Antiga, Heráclito de Éfeso (535 a.C.-475 a.C.) notabilizou-se por fundar uma tradição filosófica baseada na fragilidade e na inconstância do cosmos. “A única constante na vida é a mudança”, argumentava o mestre pré-socrático. A profundamente sentida passagem da rainha Elizabeth II no último dia 8, lamentada no mundo inteiro, talvez seja um exemplo eloquente de que a tradição cética iniciada por Heráclito esteja essencialmente equivocada. Elizabeth II encarnou o ideal de uma chefe de Estado precisamente pela sua constância. Fizesse sol ou fizesse chuva e lá estava ela, cumprindo com o seu dever, sempre a sorrir, apesar de tudo, apesar de todos e apesar do fim inevitável que aguarda a todos nós.  
Por ocasião do seu aniversário de 21 anos, a então princesa Elizabeth fez um pronunciamento televisionado à nação britânica, no qual declarou que a sua “vida inteira, seja longa ou seja curta, será dedicada ao seu serviço e ao serviço da nossa grande família imperial à qual todos pertencemos”. E ao longo dos 75 anos subsequentes da sua vida ela fez exatamente isso, sem vacilar um único momento e sem jamais demonstrar qualquer traço de impulsos menores, como a vaidade ou a arrogância. Uma vida inteira dedicada a humildemente servir o seu povo. Trata-se, cara leitora, de um dos maiores exemplos de abnegação e de espírito público da história mundial contemporânea.  
Ao liderar pelo exemplo, a rainha Elizabeth II tornou-se o epítome da chefe de Estado que atua acima e além das paixões políticas. Ao longo do seu reinado, ela contou um assombroso número de 179 primeiros-ministros de diversos países da Commonwealth britânica. Apenas na Grã-Bretanha foram 15, dos quais o primeiro fora ninguém menos do que Winston Churchill. A rainha Elizabeth II cumpriu à risca o seu papel constitucional de Estado, não se imiscuindo em assuntos políticos menores nem em filigranas da administração cotidiana. Elizabeth, contudo, não se omitiu quando a gravidade do assunto envolvia questões maiores, de interesse para a humanidade em geral, como quando, na sua tradicional mensagem de Natal de 1983, denunciou a desigualdade global ou quando mostrou-se favorável a sanções contra o regime de apartheid na África do Sul. 
A prudência, a sabedoria em conduzir os assuntos de Estado, entretanto, não era a única das virtudes da rainha Elizabeth II. A magnanimidade era outra delas. Elizabeth teve a grandeza de, em prol da paz e da união nacional, superar dores históricas e pessoais e buscar a concórdia dos opostos. A rainha, em gesto inédito e de valor simbólico extremo, curvou-se diante do memorial do massacre de Amristar, na Índia, causado por tropas britânicas. A mesma conduta fora por ela repetida no Jardim da Lembrança, em Dublin, ocasião em que honrou aqueles que pereceram lutando pela liberdade da Irlanda. A atitude de magnanimidade da rainha abriu espaço para os Acordos de Sexta-Feira Santa, que selaram a paz nas Ilhas Britânicas. “A história não pode ser reescrita, por mais que às vezes desejemos o contrário”, declarou, ao encarar o passado colonial britânico. Coragem, ao lado da prudência e da magnanimidade, era também uma das virtudes características de Elizabeth II.  
O historiador britânico Simon Schama, em <a href="https://www.ft.com/content/7dcec97c-2b7b-41c2-80cc-38df81dab54f">uma belíssima eulogia publicada pelo Financial Times</a>, ressaltou a constância no espírito de serviço público que fez com que Elizabeth II encarnasse o ideal de chefe de Estado. “Através de quaisquer circunstâncias, não importa quão difíceis, de amargas divisões e de turbulências imprevisíveis, ela conseguiu, quando mais importava, ser a personificação idealizada da nação”, resumiu Schama.   
E foi precisamente essa firmeza de caráter, essa tranquilidade diante da adversidade, essa constância na humildade em servir ao povo e à nação que elevou Elizabeth II acima das divisões étnicas e dos embates políticos, unindo os que estavam separados e tornando-a um modelo, um ideal a ser emulado por todos os chefes de Estado do mundo contemporâneo. A comoção global expressada pela passagem de Elizabeth II mostrou que ela não fora a rainha do Reino Unido apenas, mas que, de alguma forma, ela encarnou o ideal de liderança de todos nós. God bless the Queen.

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JOTA

A rainha Elizabeth II como modelo ideal de chefe de Estado

God bless the Queen

A rainha Elizabeth II não fora a rainha do Reino Unido apenas, de alguma forma ela encarnou o ideal de liderança de todos nós