Alexandre R. Silva

Há muito se diz que o principal problema do setor de pesquisa e desenvolvimento no Brasil é a falta de verba. Os investimentos públicos no setor têm diminuído drasticamente, chegando, em 2022, ao patamar de 38% dos recursos disponíveis há oito anos, segundo levantamento do Observatório do Conhecimento. A falta de investimento é, de fato, um problema grave, resultado da ausência de uma política de Estado assertiva e contínua de incentivo ao setor. Ainda assim, acredito que os problemas da produção acadêmica brasileira vão muito além da falta de investimento. 
Quando se fala em desempenho ou eficiência da produção acadêmica de um país, uma das métricas mais utilizadas é o investimento em pesquisa e desenvolvimento em relação ao PIB. Nessa métrica, o Brasil é um dos países que mais investe em pesquisa e desenvolvimento na América Latina. Em 2018, dedicamos cerca de 1,16% do PIB para o setor.
Contudo, o investimento em relação ao PIB não é o único indicador. Para entender a eficiência do investimento é importante saber a relação desses investimentos com a produção de artigos citados e patentes registradas. O pesquisador do Ipea Luiz Ricardo Cavalcante desenvolveu um indicador que calcula o número de documentos citados produzidos a cada US$ 1 milhão investido. O autor calcula que o Brasil, em 2018, produziu 3,76 documentos citados a cada US$ 1 milhão investido em P&amp;D – isso representa um terço da produção da Austrália (11,37) e metade do índice da China (7,18).
O mesmo indicador pode ser utilizado para medir a eficiência média do pesquisador, calculando o número de documentos citados produzidos pelo número de pesquisadores (no caso brasileiros, em sua maioria contratados pelo governo). Nesse indicador, o Brasil também performa mal, com metade da produção do México e da China e um pouco mais de um terço da produção dos Estados Unidos e do Canadá.
Além de entender a eficiência dos investimentos e a produtividade dos pesquisadores, é importante entender a eficiência tecnológica do investimento em P&amp;D. O autor elaborou um indicador a partir da quantidade de patentes produzidas a cada US$ 1 milhão investido pelo setor privado. Nesse indicador, o Brasil, em 2018, produziu 37 patentes por milhão investido – isso representa 12% da performance de Alemanha e Coreia do Sul, e um quinto da produção de países como México, China, Austrália e Canadá.
Esses dados demonstram claramente que o problema da pesquisa e desenvolvimento do Brasil vai muito além da falta de investimento. A baixa produtividade dos pesquisadores, somada à baixa produção de artigos citados, mostram que temos uma academia pouco produtiva, de baixo impacto e isolada do cenário internacional. Além do necessário aumento nos investimentos no setor, é preciso redesenhar o ecossistema de incentivos estruturais e institucionais para a seleção e priorização de pesquisas e pesquisadores de alto impacto. É preciso criar mecanismo de incentivo a produtividade e a produção acadêmica relevante, conectada com o contexto internacional. No próximo artigo desta série, exploramos como é preciso criar espaços e regimes para a experimentação no financiamento e na organização da pesquisa no Brasil para encontrar os caminhos para uma maior eficiência do nosso investimento na geração de conhecimento.

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JOTA

É preciso redesenhar o ecossistema de incentivos para a seleção e priorização de pesquisadores de alto impacto

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Além do necessário aumento no investimento em pesquisa, é preciso redesenhar o ecossistema de incentivos estruturais e institucionais