Vanessa Campagnac

O setor público brasileiro precisa tomar decisões importantes todos os dias, decisões essas que afetam diretamente nossa população. Quanto investir na contratação de mais profissionais de saúde? Quanto dinheiro destinar para a educação em pequenos municípios brasileiros? Como mensurar a transferência de renda para a população mais vulnerável? Sem informações confiáveis, é impossível tomar boas decisões. Por isso, é tão importante que o Estado tenha dados precisos, atualizados e confiáveis. Sem eles, governos não são capazes de formular e manter políticas públicas que atendam às necessidades de sua população. 
Recentemente, foram divulgadas as informações do Censo 2022 – importante levantamento sobre nossa população, que dá o norte aos governantes sobre questões fundamentais. Os novos dados demonstram que estamos passando por uma transição demográfica significativa e, diante disso, os governos precisam refazer o planejamento de políticas públicas para atender nossa população de forma adequada.  
Uma das informações que mais chamam a atenção a partir dos resultados do Censo é que a população brasileira tem crescido em ritmo menos acelerado – a taxa média geométrica de crescimento anual é de 0,52% nos últimos 12 anos. O processo de mudança da composição etária da nossa população – que está envelhecendo – traz também enormes desafios, pois impacta diversas áreas das políticas públicas. Surgem, ao menos, duas questões importantes a partir disso: qual deverá ser o dimensionamento da força de trabalho no serviço público? E qual será sua alocação? 
Os governos precisam saber desde quantos médicos serão necessários para o atendimento dessa população idosa até como irão ajustar o cálculo da previdência social para essa nova composição populacional. Da mesma forma, também é necessário recalcular a quantidade de professores que terão de ser alocados no futuro, já que temos assistido ao estreitamento da base da nossa pirâmide etária. Essas são perguntas que só dados robustos podem responder. 
Outro ponto chamativo do Censo são as perdas populacionais verificadas em grandes cidades, como Rio de Janeiro, Salvador e Belo Horizonte, o que aponta uma movimentação de pessoas para cidades médias. Isso certamente vai impactar as políticas públicas desses municípios e, por isso, é tão importante que essas cidades médias se preparem para atender o novo contingente populacional. Da mesma forma, deve-se pensar o planejamento urbano para unidades federativas que ganharam mais habitantes – como Brasília, por exemplo, que viu sua população crescer 9,52% em 12 anos.  
O país conta hoje com uma gama importante de informações públicas, essenciais para guiar todo o ciclo das políticas públicas – incluindo planejamento, implementação, monitoramento e avaliação. No entanto, há ainda um longo caminho a ser percorrido. O baixo estímulo à pesquisa no Brasil nos últimos anos tem nos levado a um cenário no qual estudar e entender a própria população é considerado como um gasto, e não um investimento. 
Sem esse conhecimento, qualquer investimento feito às cegas – sem o foco e a noção de prioridade propiciadas por um bom diagnóstico – se torna um gasto ineficaz. Precisamos de mais pesquisas, com maior cobertura, com atualizações periódicas e transparência. Neste sentido, a <a href="https://republica.org/">República.org</a> – instituto criado com foco na gestão de pessoas no serviço público brasileiro – acaba de lançar a plataforma República em Dados. A ferramenta organiza e disponibiliza, de forma centralizada, uma multiplicidade de informações sobre gestão pública, ajudando pesquisadores, jornalistas e a população em geral a conhecerem melhor o serviço público brasileiro.  
Não estamos falando aqui somente de estatísticas frias, mas, sim, da vida das pessoas. Por isso, é fundamental que o país se empenhe na produção, armazenamento e disponibilização de informações sobre sua população, pois a gestão pública precisa contar com informações fidedignas e a população precisa ter a confiança de que pode ser visibilizada a partir desses números. Os Estados são – e precisam continuar a ser – os maiores produtores de dados.

dados e pesquisa

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JOTA

Gestão Pública precisa de informações fidedignas para que população tenha confiança de que pode ser visibilizada a partir desses dados

Estado deve investir em pesquisas e dados para combater desigualdades

Gestão Pública precisa de informações fidedignas para que população tenha confiança de que pode ser visibilizada a partir desses dados