Carlos Eduardo Carneiro Saba

Há menos de uma década, a presença de um gestor de operações em um <a href="https://www.jota.info/tudo-sobre/departamento-juridico">departamento jurídico</a>, especialmente no Brasil, era rara. Hoje, entretanto, a <a href="https://www.jota.info/tudo-sobre/inovacao">inovação</a> e o uso da tecnologia são partes vitais na busca por excelência jurídica.
Ao mesmo tempo, quando da migração da BBS para uma internet rudimentar, a função de um bom advogado era bem diferente. Os grandes líderes eram vistos como oráculos para seus clientes, consultores que pensavam e construíam, não apenas operavam.
<h3><a href="https://www.jota.info/produtos/poder%20?utm_source=cta-site&amp;utm_medium=site&amp;utm_campaign=campanha_poder_q2&amp;utm_id=cta_texto_poder_q2_2023&amp;utm_term=cta_texto_poder&amp;utm_term=cta_texto_poder_meio_materias">Tenha acesso ao JOTA PRO Poder, uma plataforma de monitoramento político com informações de bastidores que oferece mais transparência e previsibilidade para empresas. Conheça!</a></h3>
Com menos disponibilidade de informação, o trabalho era mais artístico e preciso. Mas, com o tempo, tudo virou SLA, KPI e outras siglas que medem produtividade e eficiência de custos. Nesse ritmo acelerado, muitas vezes nos perguntamos: estamos realmente pensando ou apenas agindo continuamente?
Para o filósofo e ensaísta sul-coreano Byung-Chul Han, vivemos em uma sociedade do cansaço. Porém, como Domenico de Masi profetizou, o ócio criativo é essencial. A tecnologia surge como uma forma de maximizar a eficiência e recuperar a sanidade, permitindo focar na criação, no pensamento, na arte. A tecnologia pode tornar abundantes os recursos mais escassos – e essa é a nossa salvação, para voltarmos a ser seres pensantes e não meramente operativos.
Hoje, todo departamento jurídico estruturado entende a importância da inovação, seja por meio de um time dedicado ou não. No entanto, esse processo exige cuidados. Compartilho abaixo alguns aprendizados ao longo da minha jornada.
<h3>A solução é do cliente, não sua</h3>
Em outros tempos, a oferta de soluções prontas para o jurídico era escassa exigindo desenvolvimento dentro de casa. Para citar um caso, umas das várias iniciativas foi quando tentamos criar uma solução inovadora para gestão contratual, que permitiria ao cliente gerenciar prioridades e acelerar as respostas por a um custo conhecido.
O SLA seria definido com base na disponibilidade real da equipe, o cliente entenderia o valor do trabalho, teria protagonismo na priorização e a despesa seria alocada corretamente como um custo da transação. Contudo, os clientes não compraram a ideia.
Entenderam que o jurídico estava transferindo sua responsabilidade para eles e que se tratava de um sistema digno da Nasa. Meses de trabalho foram abandonados, e a lição aprendida foi clara: uma solução jurídica precisa atender às necessidades do cliente, não apenas do jurídico. Ouvir o cliente e formar alianças estratégicas é essencial.
<h3>Não existe herói na inovação</h3>
Tal como o historiador holandês Rutger Bregman defende, o ser humano é inerentemente social. Assim, ninguém inova sozinho. Um bom time jurídico não é suficiente; é preciso uma cultura de inovação. Este processo é mais fácil em empresas de tecnologia ou startups, mas também é possível em empresas tradicionais.
Muitas vezes, o jurídico é inclusive um catalisador dessa mudança cultural. Trabalhando em uma organização que valoriza o empreendedorismo e a colaboração, conseguimos mudar a mentalidade dos advogados quanto ao uso de tecnologia. Adotamos metodologias ágeis e um modelo holocrático, onde as lideranças são situacionais e os grupos se organizam em torno da expertise. Hoje, criamos soluções que não apenas melhoram a governança, mas também suportam os clientes em suas tarefas não jurídicas.
Por exemplo, a ferramenta Contract Lifecycle Management (CLM), com recursos que permitem que clientes usem minutas automatizadas, diminuindo a dependência do jurídico, otimizando negociações e a gestão de obrigações contratadas. É uma solução já conhecida e amplamente ofertada no mercado, mas quem ainda não a implementou está perdendo uma oportunidade.
<h3>Inovar por inovar? A importância de um masterplan</h3>
Vivemos em uma sociedade acelerada, onde a tecnologia avança em ritmo frenético. Com tantas soluções no mercado, é fácil se perder na tentativa de adotar tudo ao mesmo tempo. Porém, é crucial priorizar. Uri Levine, cofundador do Waze, nos lembra que devemos nos apaixonar pelo problema, não pela solução. Isso dá propósito à inovação, e propósitos atraem apoiadores, orçamentos e recursos.
Já falamos que nunca se deve inovar sem ouvir a dor do cliente e esse é o ponto de largada para então criamos um plano estratégico, buscando desde grandes transformações aos chamados quick wins que motivem a continuidade do processo de inovação.
Um exemplo simples foi a criação de um QR Code nas defesas trabalhistas que direciona a uma plataforma de acordos, facilitando negociações. Outro exemplo foi a inserção de uma condição resolutiva em procurações, que deve ser checada online antes de ser aceita, solucionando o problema de revogação.
Identificada a dor, partimos para a cocriação da solução, envolvendo áreas satélites. Lembre-se que o departamento jurídico de nenhuma empresa é uma ilha isolada. Mesmo com o seu próprio orçamento, é imprescindível ganhar o apoio de stakeholders-chave, construir o masterplan considerando as necessidades de seus clientes e engajá-los em um estágio inicial.
Embora muitas soluções já existam no mercado, é essencial não esperar pela perfeição – ela não existe. E, ao final, medir o sucesso é imprescindível. A capacidade de fazer mais com menos nunca terá fim. E essa é a melhor parte. Não se frustre se algo que você implementou hoje se tornar obsoleto amanhã – isso vai acontecer. Busque por soluções que permitam fácil substituição e integração, e mantenha a vigilância constante sobre novas oportunidades de eficiência.

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