
O Brasil conta atualmente com 562.206 médicos, 80,86% a mais do que em 2010, quando o país tinha 310.844 profissionais. Os dados constam no estudo da Demografia Médica no Brasil (DMB), divulgado na manhã desta quarta-feira (8/2). Produzida pela Associação Médica Brasileira e a Faculdade de Medicina da USP, a pesquisa indica que esse forte aumento “é reflexo direto da abertura de cursos e de vagas de graduação em medicina” ao longo dos últimos 13 anos.
O número de profissionais no país mais do que dobrou se comparado com o ano 2000, quando o Brasil registrou 219.896 médicos. Nesse mesmo período de 23 anos, a população geral do país cresceu cerca de 27%, o que indica que cresceu também o número de médicos por habitantes: em 2000, a taxa era de 1,41 médico por 1.000 pessoas; em 2010, a proporção foi para 1,63; e em janeiro de 2023, a densidade subiu para 2,60 profissionais por 1.000 habitantes.
As projeções feitas pelo estudo apontam que em 2035 o Brasil terá pouco mais de 1 milhão de médicos, uma proporção superior 4,4 profissionais por 1.000 habitantes.
Contudo, a pesquisa também destaca que mais da metade dos médicos (312.246) estão hoje concentrados nas capitais brasileiras, o que representa uma proporção de 6,13 profissionais por 1.000 habitantes. Há ainda desigualdades regionais consideráveis: no Norte e no Nordeste, a proporção de médicos em relação à população é inferior à média nacional, enquanto que no Sudeste, no Centro-Oeste e no Sul a densidade é maior.
- Sudeste: 3,39 médicos por 1.000 habitantes
- Centro-Oeste: 3,10 médicos por 1.000 habitantes
- Sul: 2,95 médicos por 1.000 habitantes
- Nordeste: 1,93 médico por 1.000 habitantes
- Norte: 1,45 médico por 1.000 habitantes
Essa desigualdade pode ser ainda maior quando analisados alguns estados brasileiros. Os que possuem maior densidade de médicos por 1.000 habitantes são o Distrito Federal (5,53), Rio de Janeiro (3,77), São Paulo (3,50) e Santa Catarina (3,05). As menores proporções estão no Pará (1,18), Maranhão (1,22) e Amazonas (1,36).
“A dispersão territorial de cursos de medicina é fenômeno recente. Somente a partir de 2018 as vagas totais no interior do país superaram as das capitais somadas às das regiões metropolitanas”, afirma o estudo.
Em seguida, pondera: “Ainda é pouco significativa a dispersão territorial ou “interiorização” de médicos, o que vinha sendo aguardado depois que inúmeros cursos de medicina foram abertos no interior. Pela projeção feita, o Brasil como um todo terá 4,4 médicos por 1.000 habitantes em 2035, mas a desigualdade pode até mesmo se intensificar, com mais profissionais se dirigindo para locais onde a concentração já é alta”.
Aumento de especialistas
A pesquisa também aponta que o número de registros de médicos especialistas cresceu 84,8% entre 2012 e 2022, de 268.218 registros para 495.716. “O acréscimo tem relação com a maior titulação e expansão da Residência Médica, mas também com a melhoria dos registros e dados acessados pelo estudo, principalmente adequações promovidas nas bases da CNRM e AMB”, afirma a pesquisa.
Convém ressaltar, porém, que um mesmo médico pode ter título ou ter concluído Residência Médica em mais de uma especialidade. Assim, o número de títulos em especialidades é maior que o número de indivíduos especialistas. Além disso, o número de registros também leva em conta os médicos registrados em mais de um CRM, autorizados a exercer a profissão em mais de uma unidade federativa.
Considerado somente o números de indivíduos, o estudou aponta que, em 2022, o Brasil chegou a 321.581 médicos com um ou mais títulos de especialista, o que representa 62,5% dos profissionais em atividade no país. Os demais médicos, 37,5%, não possuíam titulação em nenhuma especialidade, sendo classificados como generalistas.
Algumas especialidades, como Clínica Médica, Medicina de Família e Comunidade, Radiologia e Diagnóstico por Imagem, entre outras, dobraram em 10 anos. Há também aquelas especialidades que cresceram entre 80% e 100%, como Ortopedia e Traumatologia, Cirurgia Vascular, Endocrinologia e Metabologia, entre outras.
Mais médicas mulheres e desigualdade de gênero
A pesquisa também mostrou que as mulheres serão maioria na profissão a partir de 2024. O avanço das mulheres na medicina já vinha sendo observado pelo menos desde 2009, a partir dos dados de recém-graduados. Naquele ano a proporção ainda era de 59,5% de homens e 40,5% de mulheres na profissão.
No entanto, entre 2010 e 2022 o número de mulheres médicas quase dobrou, passando de 133 mil para 260 mil. Entre os homens, o crescimento foi mais lento, com acréscimo de 43%. Em 2022, a proporção foi de 51,4% de médicos e 48,6% de médicas. Para 2024, a projeção é de que 50,2% do total de médicos no país sejam mulheres.
Apesar desse avanço das mulheres na profissão, a desigualdade de renda entre os gêneros persiste, segundo o estudo. Conforme dados obtidos por meio de declarações junto à Receita Federal referente ao ano-base de 2020, as médicas brasileiras declaram rendimento médio anual 36,3% inferior que os profissionais do sexo masculino.