CMED

Indústria farmacêutica fatura R$ 69,5 bilhões em 2017, alta de 9,4%

Resultado foi puxado por vendas de produtos com preços altos (biológicos) e reduzidos (genéricos)

complexo industrial da saúde, estoques de medicamentos
Crédito: Pixabay

A indústria farmacêutica faturou R$ 69,5 bilhões em 2017, valor 9,4% superior ao ano anterior. A alta foi puxada pela venda de medicamentos genéricos e biológicos.

Das 214 empresas que atuam no mercado, 53 concentraram 83,8% das vendas (R$ 58,2 bilhões). No ano passado também foram comercializadas mais de 4,4 bilhões de caixas de medicamentos.

Os dados são do Anuário Estatístico do Mercado Farmacêutico (íntegra), divulgado nesta sexta-feira (23/11) pela Câmara de Regulação do Mercado de Medicamentos (CMED), órgão ligado à Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).

“A gente tem visto crescimento constante neste mercado, mesmo em período de crise. Há avanço importante de laboratórios nacionais e públicos. E avanço consistente de mercado de genéricos e biológicos”, disse Leandro Safatle, secretário-executivo da CMED.

Segundo o estudo, o grupo de medicamentos novos responde pela maior parte do faturamento da indústria (R$ 26,5 bilhões). No entanto, há queda “consistente no faturamento [deste segmento] nos últimos três anos”, ressaltou a agência.

A Anvisa também destaca avanço da quantidade de genéricos vendidos nos últimos três anos. Em 2015, representavam 30% do total de embalagens comercializadas. O percentual subiu para 32,4% em 2016 e 34,6% em 2017.

Os dois princípios ativos com maior faturamento no mercado brasileiro foram o Trastuzumabe (usado no tramamento de câncer) e o Adalimumabe (para artrite reumatóide, entre outros), ambos com faturamentos acima de R$ 500 milhões.

Já os princípios ativos mais vendidos são majoritariamente de preços baixos e de venda livre. No topo deste ranking está o Cloreto de Sódio, usado para várias indicações, comercializado em mais de 250 milhões de unidades.

Domínio por grandes empresas

No Brasil, o mercado farmacêutico é composto, em sua maioria, por grandes empresas, conforme mostra o ranking com as 10 empresas/grupos que mais faturaram em 2017, liderado pelo Grupo Sanofi/Medley/Genzyme.

Os laboratórios públicos Fiocruz e o Instituto Butantan estão na 8º e 19º posições, respectivamente, no ranking dos maiores laboratórios do país.

Desafio ao SUS

O faturamento com produtos biológicos foi o que apresentou maior crescimento em 2017 em relação aos anos 2015 e 2016. Segundo a Anvisa, cerca de 50% das compras (R$ 8 bilhões) no Brasil destes medicamentos são feitas por governos.

Safatle disse que o resultado sinaliza um desafio ao Sistema Único de Saúde (SUS). Isso porque as drogas biológicas, em geral, são usadas em terapias novas, de alto custo e que atendem a poucos pacientes, quando comparadas aos genéricos tradicionais.

O secretário-executivo diz que a tarefa da CMED é conseguir alinhar os preços de novas terapias registradas no Brasil com o que está sendo praticado no mundo. “Talvez seja o único bem industrial em que isso acontece. Precificar em parâmetros internacionais foi uma grande conquista”, afirmou.

Parte do acesso aos medicamentos de alto custo é feito por meio de decisões judiciais. Somente a União gastou R$ 1,02 bilhão com a judicialização da saúde em 2017. Apenas 11 medicamentos correspondem a 92% do valor (R$ 965,2 milhões).

“O medicamento de alto custo deixou a população toda hipossuficiente. Quem tem condições de pagar R$ 250 mil numa ampola? Todo paciente vai depender do Estado uma hora ou outra. Isso é um problema global”, alertou Safatle.