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Índice avalia saúde mental do brasileiro: mulheres, trans e desempregados pontuam menos

Preocupação financeira é um elemento importante para a maioria da população, segundo o Instituto Cactus-Atlas de Saúde Mental

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Crédito: Gladystone Fonseca/Unsplash

Mais ansiosos e mais deprimidos: em março de 2022, um mapeamento da Organização Mundial de Saúde mostrou um crescimento de 25% na prevalência de ansiedade e depressão em meio a população global após a pandemia. Diante desse cenário, pensando em formas de dimensionar como anda a saúde mental dos brasileiros, Instituto Cactus e Atlas Intel desenvolveram um índice da saúde mental no país.

A primeira edição, publicada nesta sexta-feira (4/8), mostra que 62% dos brasileiros não usam serviços de apoio à saúde mental e só 5% relataram fazer psicoterapia – um terço dos que disseram tomar medicação de uso contínuo. Em média, em um índice que vai de zero a 1000, a saúde mental dos brasileiros no primeiro trimestre de 2023 ficou em 635 pontos.

O levantamento foi feito por meio de um questionário online em que foram ouvidas 2.248 pessoas, de todas as regiões do país. A ideia dos pesquisadores é que o índice seja atualizado semestralmente, servindo de referência para a elaboração de políticas públicas e pesquisas acadêmicas.

“Sem dados sistematizados e atualizados sobre saúde mental a gente não consegue dimensionar a demanda e priorizar esforços e recursos. Saúde mental é uma pauta individual, mas também deve ser vista de forma estrutural e social”, diz Luciana Barrancos, gerente executiva do Instituto Cactus, entidade filantrópica que promove saúde mental no país.

Cruzando os dados, os pesquisadores perceberam que gênero, orientação sexual, renda, situação profissional, relações familiares e prática de esportes foram os fatores com maior associação com a saúde mental dos entrevistados – positiva ou negativamente.

Os homens obtiveram uma pontuação maior do que as mulheres, com índice médio de 672 pontos, frente aos 600 pontos delas. Já a população trans apresentou um dos índices mais baixos entre todos os grupos demográficos, 445 pontos, frente aos 638 dos indivíduos cisgênero. Quanto à sexualidade, os heterossexuais marcaram 665 pontos, contra 576 dos homossexuais.

A renda também é um fator de grande importância para a saúde da população brasileira. Pessoas desempregadas pontuaram 186 pontos menos que os assalariados. O mesmo fenômeno se repete ao comparar pessoas de renda mais baixa com pessoas de renda mais alta: indivíduos que ganham acima de R$ 10 mil chegam a 737 pontos, enquanto aqueles que ganham até R$ 2 mil marcam 576 pontos.

O estudo também descobriu que alguns comportamentos estão associados com um índice de saúde mental mais elevado, como manter relações saudáveis com familiares e amigos e praticar atividade física. O índice de quem não pratica atividade física ficou em 580, chegando até 722 para o grupo que se exercita três ou mais vezes por semana.

“A gente espera que essa pesquisa consiga colocar a agenda de saúde mental no centro do debate e nas prioridades de políticas públicas, na agenda do setor privado e também do terceiro setor”, diz Barrancos.