Apesar de o Instituto Butantan possuir 2,6 milhões de doses de CoronaVac a pronta entrega, pelo menos 12 estados e o Distrito Federal estão com a vacina em falta. Esse quantitativo seria suficiente para aplicar a primeira dose em toda a população entre 3 a 5 anos, segundo projeção oficial. Não há, porém, contrato assinado ou até mesmo negociação em andamento com o Ministério da Saúde.
Nesse cenário de escassez, capitais como Brasília, Belo Horizonte, Manaus, Recife e Boa Vista, por exemplo, não têm estoque ou já suspenderam a aplicação da primeira dose dessa vacina contra a Covid-19 em crianças a partir de 3 anos, mostra levantamento do JOTA. Crianças e pais ficam em compasso de espera enquanto a Covid-19 volta a avançar no Brasil.
O caso do Amazonas chama a atenção: só três dos 62 municípios — Iranduba, Manacapuru e Manicoré — têm CoronaVac disponível. Já no Mato Grosso do Sul, a situação é parecida: a Secretaria estadual de Saúde informou que a falta da vacina atinge 44 dos 79 municípios, o que representa 55,9% do total. Santa Catarina, por sua vez, cita escassez da vacina na “maior parte” dos municípios, sem detalhar quais.
Seis das 15 cidades de Roraima não têm estoque de CoronaVac na rede de frios. São elas: Bonfim, Cantá, Iracema, Mucajaí e Pacaraima, além da capital. A previsão é de que um novo lote chegue nesta semana.
O Rio Grande do Norte previa receber uma nova remessa do imunizante na última sexta-feira e Espírito Santo e Minas Gerais, nesta semana. O prazo dado ao Acre, ao Paraná e a Santa Catarina vai até o fim do mês.
A escassez de doses expõe crianças a um risco maior para a Covid-19 num cenário de avanço no número de casos, puxado, em parte, por novas subvariantes da Ômicron, como a BQ.1. Especialistas levantam a possibilidade de que a doença tenha dois picos por ano e não só um, no inverno, como a gripe.
Dados do Sistema de Informação da Vigilância Epidemiológica da Gripe (Sivep-Gripe), do Ministério da Saúde, mostram que pelo menos 28.646 crianças de 0 a 4 anos foram internadas por causa da Covid-19 no Brasil, com 1.432 óbitos.
Os números incluem registros de fevereiro de 2020, época do primeiro caso confirmado, a 6 de novembro, mas podem estar subnotificados, já que a pasta tem até 16 meses para incluir todos os registros.As estatísticas foram compiladas pela Rede Análise Covid-19.
Pará, Piauí, Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul informaram ter estoques normalizados para CoronaVac. O JOTA consultou todos os 26 estados e o Distrito Federal de quarta a sexta-feira para o levantamento. Ao todo, dez não retornaram os contatos da reportagem.
O outro imunizante liberado para o público mirim, a “Pfizer baby”, está com distribuição restrita a crianças com comorbidades de até 3 anos, conforme aval do Ministério da Saúde. São Paulo, Mato Grosso e Rio Grande do Norte apontam que o estoque dessas doses pediátricas é insuficiente para o público-alvo.
Em nota conjunta, as sociedades brasileiras de Pediatria (SBP) e de Imunizações (SBIm) pediram o início imediato da vacinação contra a Covid-19 de bebês a partir de 6 meses no Brasil. Segundo as entidades, a ressalva da pasta prejudica a viabilização de campanhas de imunização, sobretudo em locais de difícil acesso.
A liberação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e a recomendação da Câmara Técnica de Assessoramento em Imunizações do Programa Nacional de Imunizações (CTAI/PNI), porém, vão dos 6 meses aos 4 anos, sem distinção para doenças prévias. Procurada pelo JOTA, a Pfizer reiterou o posicionamento de não comentar negociações.
A preocupação de Covid-19 em crianças aumenta porque são muito escassas as opções de tratamento da doença para crianças no país. Só o antiviral Remdesivir, entre os seis medicamentos aprovados pela Anvisa, pode ser usado no público infantil. A indicação em bula, concedida na última segunda-feira, inclui bebês a partir de 28 dias e de 3 kg, com pneumonia e uso de ventilação. O aval se estende a crianças com pelo menos 40 kg, sem uso de oxigênio, com risco de agravamento.