Mirielle Carvalho
Ex-repórter do JOTA em São Paulo. Atua na cobertura política e jurídica do site do JOTA. Formada em Jornalismo pela Universidade Anhembi Morumbi.

Um mês após ter encaminhado à Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) o pedido de registro de sua vacina contra a dengue, a Butantan-DV, o Instituto Butantan iniciou a produção do imunizante em dose única. Mesmo ainda sem o aval positivo da agência reguladora de saúde, a expectativa do instituto é que sejam fabricadas neste ano cerca de 1 milhão de doses da Butantan-DV. O instituto aguarda para março o aval da Anvisa.
Se aprovada, a vacina Butantan-DV será a primeira do mundo em dose única contra a dengue. Além das doses previstas para o ano de 2025, o Butantan espera entregar ao Ministério da Saúde cerca de 100 milhões de doses do imunizante ao longo dos próximos três anos.
“Estamos muito entusiasmados com isso. Será uma mudança de paradigma, mas eu acho que o grande impacto (da vacina do Butantan) na dengue vai começar a surtir efeito em 2026”, disse Esper Kallás, diretor do Instituto Butantan.
Diante do cenário de incidência de dengue no país, a pasta adquiriu 9,5 milhões de doses de vacina Qdenga para 2025, desenvolvida pela farmacêutica Takeda. Contudo, a vacina está atualmente sendo ofertada no Sistema Único de Saúde (SUS). somente ao público de 10 a 14 anos, que detém a maior concentração do número de hospitalizações em decorrência da dengue após o grupo da população idosa.
Segundo informações da pasta, ainda não há a previsão da ampliação da faixa etária do público-alvo no SUS. Nesta quarta-feira (22/1), em reunião do Centro de Operações de Emergência em Saúde (COE) para Dengue e Outras Arboviroses, a ministra da Saúde Nísia Trindade afirmou que não haverá vacinação em massa contra a dengue no Brasil em 2025.
Com a limitação na capacidade de entrega do número de doses por parte da fabricante Takeda, a provável aprovação e comercialização da vacina do Butantan pode suprir a escassez de imunizantes contra a dengue e ampliar a campanha de vacinação às demais faixas-etárias.
Na mesma reunião, Trindade reiterou a possibilidade de ampliação do público-alvo da vacina caso a Butantan-DV seja aprovada pela Anvisa. "Temos que esperar a aprovação. A aprovação parte dos estudos clínicos e define qual é a faixa etária que há evidências. Não posso antecipar, apesar dos artigos publicados, porque depende da aprovação da Anvisa. Lembrando que não há indicação para vacinação acima dos 60 anos", afirmou a ministra.
Os ensaios clínicos da vacina, segundo o Instituto Butantan, demonstraram 79,6% de eficácia do imunizante no tratamento de casos de dengue sintomática, e uma proteção de 89% contra dengue grave ou com sinais de alarme. Os estudos também indicaram eficácia e segurança prolongadas por até cinco anos.
“É um dos maiores avanços da saúde e da ciência na história do país e uma enorme conquista em nível internacional. Que o Instituto Butantan possa contribuir com a primeira vacina do mundo em dose única contra a dengue mostra que vale a pena investir na pesquisa feita no Brasil e no desenvolvimento interno de imunobiológicos”, afirmou à época o diretor do Butantan.
Se aprovada, a vacina será fabricada no Centro Bioindustrial do Butantan, que foi inspecionado e teve suas instalações aprovadas pela Anvisa. Após a análise pela agência, o instituto deve encaminhar a vacina para aprovação de preço na Câmara de Regulação de Mercado de Medicamentos (CMED). Depois disso, a Conitec avaliará a sua incorporação ao SUS.
Como o Ministério da Saúde tem se preparado para o cenário da dengue em 2025
Como medida para se antecipar ao período de incidência da dengue no país, o Ministério da Saúde começou a lançar planos de ações para mitigar os riscos e evitar o aumento de casos e óbitos em decorrência da doença.
De acordo com a pasta, por conta do aumento de casos no Brasil durante os próximos meses, muitas vezes ocasionados por conta das questões climáticas, deve haver um investimento de R$ 256 milhões no fortalecimento da vigilância das arboviroses
Uma das medidas para mitigar os riscos da dengue foi a instalação do Centro de Operações de Emergência em Saúde (COE) para Dengue e Outras Arboviroses, no dia 9/1. Outra alternativa para ampliar as medidas de combate à dengue foi o lançamento do Plano de Contingência Nacional para Dengue, Chikungunya e Zika.
O Ministério da Saúde também tem coordenado diversas ações em todo o território nacional para o controle das arboviroses. Entre as principais iniciativas destacam-se a ampliação do uso de tecnologias de controle do vetor; expansão do método Wolbachia, de 3 para 40 cidades; borrifação residual intradomiciliar (BRI-Aedes) em áreas de grande circulação, como creches, escolas e asilos; e implantação de insetos estéreis em aldeias indígenas.