Luiz Orlando Carneiro
Foi repórter e colunista do JOTA
O contrabaixista-compositor capixaba Andrey Gonçalves, 41 anos, fixou-se nos Estados Unidos há oito anos. Fez mestrado como músico na Campbellsville University, Kentucky, e concluiu, em 2016, o curso de Jazz Studies na Universidade de Louisville. Atualmente faz doutorado na Universidade de Illinois Urbana-Champaign, onde também foi professor. Além destes títulos, atuou como sideman de músicos do porte do pianista Alan Broadbent e do guitarrista Frank Gambale. E ainda em orquestras sinfônicas do Illinois.
O introito é para recomendar Nocturnal Geometries (Kapishawa Music), o excelente álbum de estreia do sexteto liderado por Andrey, com os seguintes instrumentistas: Ethan Evans (trombone e arranjador), Robert Sears (trompete), Robert Brooks (sax tenor), Kurt Reeder (piano) e Andy Wheelock (bateria). Todas as sete faixas do CD (duração total de 47 minutos) são composições do baixista-líder. E todas elas têm arranjos bem “orquestrais” do trombonista Evans.
Na apresentação do disco, gravado em janeiro de 2019, Gonçalves escreveu: “Em 2016 e 2017, tive aulas de composição com o extraordinário trombonista e professor Jim Pugh na Universidade de Illinois. Foi um belo processo de aprendizado para expressar minhas ideias e expandir os caminhos harmônicos e melódicos de minhas composições”. Ele acrescenta que, durante um ano, geralmente à noite, no silêncio do quarto, não parou de compor: “Gostei do conceito geométrico das técnicas que estava estudando”, e “o silêncio noturno foi um elemento que nutriu minha criatividade durante os caóticos anos dos meus estudos de doutorado”.
Daí o título de Nocturnal Geometries, cuja setlist começa com Quadrad (5m25), de abertura e conclusão bem “orquestrais” do sexteto (como acima anotado), e solos do pianista Reeder – craque do teclado, com uma féerie harmônico-rítmica a lembrar o imortal McCoy Tyner (1938-2020) – e do trompetista Sears.
This is not a blues (7m15) pode não ser um blues harmonicamente típico (numa escala de dó, a bemolização das terças e quintas), mas é uma peça bem bluesy, a seção rítmica sempre alerta, e solos de todos (até do baterista Wheelock), menos do líder. Já Anne and the moon (6m) - uma balada com solo de mais de dois minutos do “chefe” Andrey Gonçalves – é dedicado a uma enfermeira (Luanna/ Moon +Ana) que o socorreu quando foi atropelado por uma moto, numa rua de Vitória (ES), em 2018, por ocasião de uma visita à família aqui no Brasil.
Na faixa mais longa do CD, a inicialmente reflexiva The tree of all inventions (9m10), o arranjo de Evans, em “crescendo”, realça, mais uma vez, a combinação do seu trombone com o sax tenor de Brooks, depois de uma introdução do pianista. Octatonic lullaby (6m05), conforme Gonçalves, começou como um exercício na escala octatônica (na qual as notas alternam intervalos de um tom inteiro e um semitom). Mas acabou sendo uma “canção de ninar” para a filha, dedilhada no seu contrabaixo.
Finalmente, Mancada (7m20), que o compositor chama de um “sambinha duro para fechar o disco”. Pois é a faixa mais animada do programa, com ótimos solos dos integrantes do sexteto, pontuados pela incansável bateria de Andy Wheelock. Como escreveu o baixista-líder Andrey Gonçalves, nas breves notas de contracapa do CD, a gravação foi “um grande momento de comunhão musical”, de “mundos diferentes unidos pelo mesmo beat, externando opiniões musicais, improvisando e criando um diálogo único de sons”.
(Ouvir as faixas de Nocturnal Geometries em: https://andreygoncalves.