Carolina Botelho

O <a href="https://www.jota.info/jotinhas/bolsonaro-exonera-ministro-de-minas-e-energia-e-adolfo-sachsida-assume-posto-11052022">novo ministro de Minas e Energia</a> chega para assumir a pasta em um momento conturbado para o governo. A cinco meses da eleição e depois de mais um militar sair de forma humilhante do cargo, o ex-secretário de política econômica de Paulo Guedes, Adolfo Sachsida, passa a ocupar a principal vaga do ministério tendo como uma de suas missões a responsabilidade de decidir também o destino de uma das mais poderosas instituições do país, a Petrobras.
No discurso de uma posse em que perguntas de jornalistas foram proibidas, o novo ministro agradece a nova posição que passa a exercer no governo, à sua família e a Deus e engata: “Tudo o que estou falando aqui tem o aval 100% do presidente <a href="https://www.jota.info/eleicoes/jair-bolsonaro-a-trajetoria-militar-e-politica-do-presidente-que-busca-a-reeleicao-13052022">Jair Bolsonaro</a>”. Sachsida se referia à promessa/ameaça (com sentidos opostos para os dois públicos-alvo) de privatização da companhia de óleo e gás brasileira, uma das maiores do mundo. Fake news. E ele sabe.
Para um observador desatento, o discurso não seria nada de mais. Entretanto, para quem analisa a dinâmica do governo até aqui, o cenário dessa posse foi tudo o que se espera de um bolsonarista que se comunica com seus pares. O evento foi milimetricamente esquematizado para fornecer elementos simbólicos caros a uma parte da base eleitoral do governo que se autointitula liberal. Havia palanque, havia celulares para a publicização do evento nas redes sociais, havia jornalistas da grande imprensa impedidos de questionar (razão pela qual o jornalismo existe), e, finalmente, também estava lá a já desgastada tríade do bolsonarismo a la Guedes: Deus, família e promessas/ameaças de privatização.
Essas palavras representam um tipo de isca que ainda funciona para alguns setores da elite econômica brasileira. Entretanto, o que pouco se questionou entre esses apoiadores é se há o conhecimento de que estamos a poucos meses do calendário eleitoral e que uma mudança como a da Petrobras demandaria um esforço monumental do Congresso em um momento em que eles estão se dedicando às suas campanhas. Esse grupo realmente acredita que os nobres legisladores que ora apoiam Bolsonaro sairão pelos corredores do Congresso juntando nomes aos votos pela privatização da maior empresa controlada pelo Estado brasileiro? Mas quem disse que o evento era para isso? A posse de Adolfo Sachsida nada mais é do que mais um palanque e peça de campanha para servir à reeleição de Bolsonaro, que até o momento vai mal. Como tudo o que esse governo tem feito, o esforço é simplesmente eleitoral.
Ao contrário do que se esperava, a enxurrada de dinheiro direcionada para fins eleitorais não trouxe o resultado esperado. Não bastou entregar a caneta do orçamento para o centrão de Arthur Lira, nem liberar verbas secretas via ministro da Educação para pastores de diferentes municípios do Brasil, criar pacote de crédito voltado a pequenas e médias empresas, renegociar dívidas do Fies (Fundo de Financiamento Estudantil), prometer reajuste linear para servidores, liberar saques de parte dos recursos do FGTS (Fundo de Garantia do Tempo de Serviço) dos trabalhadores, ameaçar intervenção nos preços do diesel, substituir o Bolsa Família pelo Auxílio Brasil. Todas essas e outras medidas ou promessas/ameaças que pipocam no dia a dia da campanha de Bolsonaro à reeleição não têm sido suficientes para aplacar seus péssimos resultados nas pesquisas.
O <a href="https://www.jota.info/tudo-sobre/agregador-de-pesquisas">Agregador Eleitoral do JOTA</a>, que reúne os dados de todas as pesquisas disponíveis hoje, tem mostrado uma leve recuperação de Bolsonaro nos últimos meses, fruto desse esforço de distribuição aleatória de recursos públicos para diferentes setores da sociedade. Entretanto, a continuar nessa toada, essa melhora discreta é insuficiente para a reversão do quadro eleitoral. Em torno de 50% das pessoas avaliam muito mal o presidente da República e essa avaliação negativa permanece praticamente estável há mais de um ano. O agregador também demonstra a liderança de <a href="https://www.jota.info/eleicoes/lula-trajetoria-sindical-e-politica-ex-presidente-busca-derrotar-bolsonaro-eleicoes-2022-16052022">Luiz Inácio Lula da Silva</a> nas intenções de voto, com vantagem de, ao menos, 10 pontos percentuais em relação a Bolsonaro.
O fato é que, longe do teatro bolsonaresco, a realidade é dura para a população e reflete os custos de se viver com inflação em taxas inéditas em quase três décadas, deterioração socioeconômica das famílias, precarização de todos os segmentos da educação e o ainda receoso cenário de pandemia do coronavírus. Tudo isso contrastando com a opulência de generais aliados ao governo e a de familiares do presidente. Pano rápido e volta para a cena da posse do novo ministro de Minas e Energia.
O governo Bolsonaro já tem quatro anos de estrada e por isso as estratégias de comunicação com suas bases eleitorais já não são novidade para ninguém. Portanto, a esta altura, ninguém tem mais o direito de criar grandes expectativas ou temores diante de mais uma ladainha, pois não há evidências de que possamos esperar qualquer esforço por parte de algum membro do governo no sentido de convertê-las em ações. O que estava em jogo lá, naquela posse, não tem nada a ver com a Petrobras em si. As entrelinhas do evento para o mais novo ministro serviam para mostrar que a agenda que se cumpria não era a econômica, mas a política e eleitoral. O principal anúncio foi, portanto, o de que o ex-secretário de política econômica de Guedes, aquele tomado por delirantes setores da sociedade (cada vez menores) como um “quadro técnico” do governo, estava pronto para mais um teatro, para uma espécie de pão e circo bolsonaresco, um tipo de serviço que o novo ministro sempre se mostrou confortável em prestar.

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JOTA

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