Duas semanas antes das manifestações de 7 de setembro, em 26 de agosto, o time de analistas do JOTA preparou uma lista para entender os desdobramentos da crise entre o presidente Jair Bolsonaro e o Supremo Tribunal Federal (STF).
O relatório foi primeiro enviado aos assinantes JOTA PRO e, posteriormente, divulgado no site do JOTA. Os pontos levantados pelo time geraram, inclusive, ataques coordenados em nossas redes sociais.
A seguir, repetimos os 12 pontos listados em agosto e o que eles representam daqui para frente:
1) As investigações não param
O QUE O JOTA DISSE EM 26/08
As articulações para tornar o 7 de setembro um movimento em favor de Bolsonaro – na sua disputa contra as instituições – podem nutrir de novos elementos e personagens os inquéritos abertos no Supremo e sob a relatoria do ministro Alexandre de Moraes.
O QUE ACONTECEU
No próprio dia 7, começaram a circular na imprensa informações de que ministros do STF avaliaram que os protestos serviram para produzir mais provas no inquérito em curso no STF e TSE.
PELA FRENTE
As provas coletadas podem ser usadas tanto em ações na Justiça eleitoral quanto em questões políticas no Congresso. Juristas passaram a apontar crime de responsabilidade no discurso de Bolsonaro sobre não cumprir decisões de ministros do STF e o próprio presidente do STF disse isso. Ou seja, houve um aumento de temperatura na avaliação sobre os possíveis crimes cometidos pelo presidente.
2) Campanha antecipada em foco no TSE
O QUE O JOTA DISSE EM 26/08
O TSE julgou um caso que indica uma mudança na jurisprudência sobre punição a campanhas antecipadas. Eventual manifestação no dia 7 de setembro poderá ser usada por adversários para mais uma acusação na Justiça Eleitoral, aumentando as rusgas entre poderes.
O QUE ACONTECEU
Colunistas e fontes, em off, apontaram que o 7 de setembro pode ser configurado como propaganda eleitoral antecipada.
PELA FRENTE
Bolsonaro trouxe o tema da inelegibilidade em seu discurso. Na avenida Paulista, afirmou que as únicas opções para ele são ser preso, ser morto ou a vitória, afirmando que nunca será preso. “Dizer àqueles que querem me tornar inelegível em Brasília: só Deus me tira de lá.” Ou seja, o prospecto de inelegibilidade entrou no discurso do presidente, que tenta usar a base para pressionar os outros Poderes.
3) Redes sociais priorizam tamanho do protesto
O QUE O JOTA DISSE EM 26/08
Levantamento do JOTA Labs mostra que até o último fim de semana as hashtags #STFRompeuADemocracia e #AceitaPacheco eram bastante utilizadas em tuítes de ataque ao STF. Porém, desde a segunda-feira o que mais apareceu nas redes foi a hashtag #Dia07VaiSerGIGANTE de convocação para as manifestações. As redes sociais estão sendo usadas para tentar atrair gente para o evento.
O QUE ACONTECEU
Estudos de redes sociais publicados pelo mercado financeiro na véspera do protesto foram na mesma direção: preocupação maior com o tamanho da manifestação e menor risco de quebra institucional.
PELA FRENTE
Há diferentes leituras sobre o tamanho dos protestos. Enquanto alguns apontam que a multidão reunida foi de 5% a 10% do previsto pelos organizadores, as imagens capturadas servem para inflar a base bolsonarista e confirmar, aos apoiadores, o sucesso dos protestos, já que o número de pessoas foi relevante. Ou seja, do ponto de vista de mudança dos eleitores mais fiéis, os protestos não terão grande influência, apenas servem para acirrar os ânimos das torcidas.
4) O próximo pedido de impeachment do STF
O QUE O JOTA DISSE EM 26/08
Diante disso e da necessidade de manter sua militância ativa, Bolsonaro desistirá, de fato, de pedir o impeachment do ministro Luís Roberto Barroso? Ou qual será a nova estratégia para fustigar o STF?
O QUE ACONTECEU
O STF e os ministros Barroso e Moraes foram os principais alvos dos protestos e das falas do presidente.
PELA FRENTE
A tensão prejudica resoluções de interesse do governo, como a dos precatórios, aumentando incertezas para os agentes econômicos. O presidente do Senado cancelou as sessões desta semana. Ou seja, os protestos afastam mais a possibilidade de acordos pela governabilidade.
5) A aprovação de Bolsonaro vai cair abaixo dos 20%?
O QUE O JOTA DISSE EM 26/08
De acordo com o modelo proprietário do JOTA, a avaliação negativa de Bolsonaro (ruim e péssimo) tem subido e hoje está na casa dos 53%. Mas a avaliação positiva tem se mantido mais estável, hoje na casa dos 26%. Para os próximos 15 dias, a previsão do modelo é de que a avaliação positiva fique entre 22% e 28%, não caindo para baixo dos 20%. Bolsonaro radicaliza o discurso na tentativa de manter uma base mais fiel.
O QUE ACONTECEU
De fato, nenhuma pesquisa divulgada nos dias posteriores às apostas do JOTA mostraram Bolsonaro com menos de 20%. Só que os números do modelo de agregação de popularidade do JOTA atualizados em 7/9 trazem duas novidades. Agora, 54,1% da população atribui nota negativa (ruim/péssimo) ao governo do presidente Jair Bolsonaro. Por outro lado, 25,2% da população atribui avaliação positiva (bom/ótimo) ao presidente.
PELA FRENTE
A taxa de avaliação negativa deve ficar entre 50,6% e 57,6% nos próximos quinze dias – ou seja, pelo modelo é muito improvável que a taxa negativa fique abaixo dos 50%. Já a taxa de avaliação positiva para os próximos 15 dias ficará entre 21,7% e 28,7%. Do ponto de vista da aprovação positiva, o presidente nunca correu tanto risco de ficar perto da marca de 20% como agora. O saldo, ou seja, a diferença entre o índice positivo e o índice negativo de avaliação do governo neste momento é de 28,9%. Com índice tão baixo, hoje seria pouco provável que Bolsonaro tivesse alguma viabilidade de reeleição, mas os 25% de aprovação ainda dão a ele boas chances de chegar ao segundo turno.
6) O fator Lula
O QUE O JOTA DISSE EM 26/08
Outro modelo de agregação de intenções de votos (ainda em fase de preparação pela equipe do JOTA Labs) indica que Bolsonaro tem 28% de intenção de votos, com intervalo de credibilidade entre 26,5% e 30%. Já Lula acumula 40% das intenções de voto, com o intervalo, Lula tem entre 38% e 43%.
O QUE ACONTECEU
Lula usou as redes sociais para fazer campanha contra Bolsonaro no 7 de setembro e as pesquisas divulgadas confirmaram a posição estimada dos dois candidatos.
PELA FRENTE
Na atualização do modelo no dia 7, Lula aparece com 42% das intenções de voto, e o atual presidente com 28%. Em relação à última atualização, os números oscilaram dentro do intervalo de credibilidade do modelo pre-casting do JOTA, mas a distância entre o petista e Bolsonaro ampliou cerca de 2 pontos nas últimas duas semanas. Considerando o intervalo de credibilidade calculado pelo modelo para os valores de maior densidade, Lula tem entre 40% e 45%. Já Bolsonaro tem entre 26% e 30% das preferências dos eleitores. Ou seja, a distância entre Lula e Bolsonaro está entre 10 e 19 pontos porcentuais.
7) Chances de prisão dos filhos do presidente
O QUE O JOTA DISSE EM 26/08
Como mostrou Fábio Zambeli, analista-chefe do JOTA, em sua análise diária, Jair Bolsonaro disse aos filhos que, se a manifestação de 7 de setembro não for grande, um deles poderá ser preso. Segundo aliados, esse é o discurso que tem sido feito entre os apoiadores do presidente e agitado a militância. As ruas, na visão do presidente, dariam a ele vitalidade política para blindar a família e lidar com os reveses no Judiciário e no Legislativo.
O QUE ACONTECEU
Em seu discurso em Brasília, Bolsonaro voltou a falar em prisão, mas agora em público. E Carlos Bolsonaro, potencial alvo, sequer participou das manifestações.
PELA FRENTE
Bolsonaro usou a ideia de que pode ser preso para aumentar o tom contra o STF: “[Quero] dizer aos canalhas que eu nunca serei preso”, disse o presidente, que prosseguiu. “Ou esse ministro se enquadra ou ele pede para sair. Não se pode admitir que uma pessoa apenas, um homem apenas turve a nossa liberdade.” Ou seja, o uso do risco de prisão do presidente ou de seus familiares será usado por eles mesmos para tentar criar proteção por meio dos apoiadores.
8) Rebelião das polícias estaduais
O QUE O JOTA DISSE EM 26/08
Nos últimos dias, assistimos a uma série de manifestações de oficiais de alta patente de diferentes polícias estaduais. Há aqueles que defendem abertamente a presença de policiais nos atos, enquanto outros dizem que as PMs não podem ser contaminadas por atos políticos.
O QUE ACONTECEU
Pesquisa Atlas divulgada na véspera do protesto mostrou que policiais prometiam participar dos atos em maior proporção do que a população.
PELA FRENTE
Governadores de diferentes estados prometeram punir policiais que participassem dos atos. Essas informações serão tornadas públicas nos próximos dias. Ou seja, o grau de sucesso da aposta do bolsonarismo no apoio das polícias ainda é uma questão em aberto.
9) As Forças Armadas vão embarcar?
O QUE O JOTA DISSE EM 26/08
Embora o presidente e seu ministro da Defesa insistam na pregação política às tropas, solenidades recentes das FFAA (como as alusivas ao Dia do Soldado) mostraram que há uma distância entre o desejo do Planalto e a conduta dos comandos, que falam em “estabilidade” e “pacificação”.
O QUE ACONTECEU
Durante a cobertura dos atos do dia 7 de setembro, diferentes jornais e comentaristas apontaram para a discrição das lideranças das Forças Armadas durante os protestos, confirmando a previsão do JOTA.
PELA FRENTE
O posicionamento do vice-presidente, general Hamilton Mourão, será um importante termômetro do que é possível esperar de uma alternativa de poder. Como avalia Fábio Zambeli constantemente aos assinantes, é muito difícil um governo cair sem ter uma alternativa de poder pronta a assumir. Ou seja, a visão da distância entre o desejo do Planalto e a conduta dos comandos continua válida.
10) Follow the money
O QUE O JOTA DISSE EM 26/08
Decisão do TSE determinou às plataformas de redes sociais que desmonetizem perfis que espalham notícias falsas sobre a legitimidade do processo eleitoral e ataquem a regularidade das urnas eletrônicas.
O QUE ACONTECEU
Na véspera dos protestos, a decisão do ministro Alexandre de Moraes bloqueou contas de entidades suspeitas de financiar os movimentos, como a Aprosoja.
PELA FRENTE
Também nas vésperas dos protestos, Bolsonaro publicou a MP das redes sociais, que já gerou fortes críticas de especialistas e das plataformas, poderá ser devolvida por Rodrigo Pacheco e já foi questionada no STF. Ou seja, a depender do que acontecer com a MP, será mais uma derrota para o presidente e mais um motivo para ele se colocar contra outras instituições na tentativa de animar sua base mais extrema.
11) O fator Aras após sua recondução
O QUE O JOTA DISSE EM 26/08
O procurador-geral da República, Augusto Aras, disse nesta semana ao Senado que o deputado Daniel Silveira e o cantor Sérgio Reis fizeram ameaças ao STF. Não estavam, na visão dele, resguardados pela proteção constitucional à liberdade de expressão. Aras pode atuar, como atuou nesses casos, a partir dos acontecimentos de 7 de setembro, o que tiraria de Bolsonaro o discurso de perseguido por Alexandre de Moraes.
O QUE ACONTECEU
As prisões realizadas na véspera dos protestos e o bloqueio de contas de entidades suspeitas de financiar atos ilegais foram pedidas por Aras.
PELA FRENTE
Nos próximos dias, novos pedidos de diligências podem chegar ao STF vindos da PGR contra pessoas envolvidas na organização das manifestações de 7 de setembro. Os inquéritos contra fake news e milícias digitais não vão parar, a despeito das ameaças de Bolsonaro de descumprir decisões de Alexandre de Moraes.
12) O timing do centrão e a economia em crise
O QUE O JOTA DISSE EM 26/08
Hoje instalado no coração do poder, o bloco que dá sustentação ao governo no Legislativo, começa a precificar o cenário nebuloso da economia para o ano eleitoral. Cobiçando mais cargos em eventual nova reforma ministerial, os líderes do grupo entendem que o mês de junho é o ‘limite’ para a decisão sobre embarque na aliança de reeleição. Importante lembrar que nos últimos 30 dias o índice de apoio da Câmara ao governo, medido pelo JOTA, está em 71%, o mais baixo já registrado desde 2019, mas PL, Republicanos e PP mantém alto apoio. Ou seja, a centrão-dependência está maior. A depender do que ocorrer no 7 de Setembro esse índice poderá subir ou descer.
O QUE ACONTECEU
Logo após as manifestações a cobertura de Brasília voltou a falar de impeachment e diferentes partidos prometeram discutir essa possibilidade com suas bancadas. Enquanto isso, PL, PP e Republicanos mantiveram-se calados, confirmando as previsões do índice do JOTA. Arthur Lira fez um pronunciamento, nas entrelinhas, contrário ao impeachment.
PELA FRENTE
O índice do JOTA é uma boa medida para antecipar o apetite de certas bancadas pelo impeachment, assim como a posição diária nas reuniões dessas siglas. O PSD, por exemplo, criou uma comissão de acompanhamento do impeachment. Ou seja, Bolsonaro ainda não chegou ao baixo nível de apoio de Dilma Rousseff no pré-impeachment (quando o índice caiu abaixo dos 60%), mas se aproxima desse patamar. Hoje, o índice aponta 258 deputados muito fiéis ao governo, o que mostra a dificuldade de o impeachment andar.