

Ganha corpo na campanha do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) o modelo de configuração de uma eventual equipe econômica em caso de vitória nas urnas. A tese que conquista cada vez mais espaço com o petista e seu núcleo-duro é de montagem de um time híbrido, com nomes políticos e técnicos para comandar a Fazenda num eventual terceiro mandato.
Lula tem dito a interlocutores que deseja um ministro com credenciais políticas e habilidade na relação com o Congresso Nacional, tendo abaixo uma equipe de economistas que traduza o espírito da sua campanha, inclusive a “sensibilidade social”, mas siga os protocolos sobretudo no campo da responsabilidade fiscal.
O primeiro lote de candidatos ao ministério é composto por Alexandre Padilha, ex-ministro das Relações Institucionais e da Saúde e hoje deputado federal; Wellington Dias, ex-governador do Piauí e ex-presidente do Fórum do Nordeste; e Paulo Câmara (PSB), governador de Pernambuco — o único que não é filiado ao PT.
Operadores do ex-presidente, contudo, sustentam que um nome está em stand-by para o cargo: o de Fernando Haddad, que, segundo fontes credenciadas ouvidas pelo JOTA, teria a preferência de Lula para assumir a função, caso seja derrotado nas eleições para governador de São Paulo.
Cotados inicialmente, os nomes de Jaques Wagner e Rui Costa perderam força e hoje são lembrados para outras atribuições como a Casa Civil e a Secretaria de Governo.
A explicação para a obsessão de Lula com uma figura com perfil político para liderar a equipe econômica é o diagnóstico segundo o qual hoje os principais entraves para a função são o diálogo setorial, a relação com parlamentares e a capacidade de comunicação com a sociedade.
O papel de formulação caberia ao que petistas chamam de “segunda camada” de liderança num potencial Ministério da Fazenda. Para esse nível executivo de tomada de decisões os principais candidatos são três: Gabriel Galípolo, ex-banco Fator; Guilherme Mello, coordenador do núcleo de acompanhamento econômico do PT; e Juliana Furno, doutora em desenvolvimento econômico pela Unicamp.
Os três atuam sob forte influência de Haddad, mas também reportam a Aloizio Mercadante, que coordena a elaboração da plataforma de governo na Fundação Perseu Abramo. Outro economista que tem mantido estreito diálogo com o trio é Luiz Gonzaga Belluzzo, respeitado no grupo mais íntimo do ex-presidente.
Essa configuração, gestada no bunker lulista, não afasta a possibilidade de participação de especialistas ortodoxos e menos vinculados ao PT na dianteira da possível equipe econômica. O desenho estabelece, contudo, uma linha de identidade forte com o ideário do ex-presidente, diminuindo as chances de uma surpresa que corresponda aos interesses do mercado, ao menos enquanto Lula se sentir confortável com o cenário eleitoral.
Economistas como Persio Arida e André Lara Resende, que vêm sendo ouvidos na construção do programa de governo mas ainda não assumem publicamente a cooperação, podem ser guindados ao protagonismo na campanha caso o ex-presidente vislumbre mais dificuldades em um eventual segundo turno.
Armínio Fraga, cuja relação com Lula vem se estreitando por meio de Marcelo Freixo (PSB-RJ), é outro ator que pode ser envolvido nas tratativas a depender do percurso da candidatura até outubro.
O objetivo do QG de campanha é ampliar a partir de agora as rodadas de conversas de Lula com o empresariado e o setor financeiro sem que se defina uma “cara” da interlocução do ex-presidente com esses segmentos.
O petista não quer credenciar um porta-voz único e específico para essas plateias, mas tem conversado antecipadamente com cada ator da campanha escalado para reuniões e apresentações de cenário com entidades e grupos relevantes do PIB nacional. O cuidado é para calibrar as respostas desses emissários com o sentimento do ex-presidente em relação aos desafios da economia.
Onde pega
O fato é que o grupo mais próximo de Lula vem se empenhando em distanciá-lo de falas polêmicas que aumentem o ruído com o mercado. As recentes declarações de Alexandre Padilha sobre a privatização da Eletrobras, por exemplo, foram avalizadas por Lula e tiveram boa repercussão no sistema financeiro.
O mesmo se aplica às entrevistas recentemente concedidas por Guilherme Mello, a pedido da campanha, em que ele faz uma tentativa de defesa da tese de derrubada do teto de gastos sem que isso signifique descompromisso com o fiscal.
O ex-presidente tem sido orientado, ainda, a dar declarações públicas que amenizem a percepção de irresponsabilidade fiscal. “Quando ele fala que aprendeu com a mãe, dona Lindu, que em casa se gasta apenas o que se arrecada, isso é uma maneira de tratar do tema do rigor fiscal. Isso vai ficar mais claro durante a campanha”, afirma ao JOTA um dos articuladores lulistas.
Ainda de acordo com essas fontes da cúpula da campanha, os economistas que estão dialogando com Lula sobre as linhas gerais do programa de governo planejam apresentar uma proposta de novos marcos fiscais que viriam em substituição ao tão contestado teto.
“Não tem mágica. Qualquer agente político de bom senso sabe que o teto precisará ser revisto. Essa conversa já ocorre no Congresso e no governo desde o início da atual gestão”, diz um aliado de Lula envolvido nos debates sobre o tema.
Quanto à hipótese de antecipação de nomes e diretrizes econômicas de um eventual novo mandato, Lula tem advertido interlocutores para o timing adequado para anúncios que possam servir para aglutinação de forças eleitorais ao seu projeto.
No QG lulista, o entendimento consensual é o de que algum esboço de plano deverá ser exibido no transcorrer da campanha, a partir de agosto. O grau de detalhamento dessas medidas, contudo, só seria possível determinar com o quadro da disputa com o presidente Jair Bolsonaro (PL) mais cristalizado. Não se espera uma nova “Carta ao Povo Brasileiro”, como a redigida em 2002, mas um compilado de conceitos a serem aplicados em caso de vitória.