Ainda sob impacto da ausência de resposta das forças de segurança aos atos golpistas de domingo em Brasília, o governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) tenta assumir o controle da guerra da comunicação deflagrada a partir dos ataques ao coração do poder.
O objetivo é mostrar que as atividades cotidianas do Executivo seguem em ritmo normal e que a intervenção no Distrito Federal e a articulação com o Judiciário recolocaram no lugar o aparato de proteção institucional, isolando novas investidas de terroristas e manifestantes contrários ao presidente.
Além de acelerar agendas com parlamentares, ministros e governadores, dando ampla visibilidade a esses encontros, o petista quer que seus auxiliares mostrem rapidez na montagem do segundo e terceiro escalões.
Lula também pretende participar de solenidades públicas, procurando demonstrar que o governo não estaria acuado depois da destruição sem precedentes registrada no último final de semana.
Em paralelo, o governo federal tem administrado uma série de desencontros e questionamentos internos envolvendo ministros como José Múcio (Defesa) e Flávio Dino (Justiça). Ambos são alvos de críticas pela atuação diante dos movimentos golpistas e vêm sendo objeto de fritura entre grupos distintos na Esplanada.
A tendência é de que não sejam adotadas medidas extremas, ou seja, não há no radar de Lula a ideia de demitir nenhum assessor do primeiro escalão imediatamente, pois o entendimento no Planalto é de que eventual baixa na largada do governo seria uma demonstração de fragilidade política.
A orientação dada no governo é no sentido de empoderar a Advocacia Geral da União (AGU) como corresponsável pelas decisões judiciais que hoje visam prevenir novos atos contra a democracia. Já que o STF tem sido o protagonista de tais medidas, o presidente recomendou aos seus ministros que sempre seja feita a ressalva de que todas as providências adotadas — desde a prisão da cúpula da segurança no Distrito Federal até a proibição de bloqueios de estradas — foram respostas a demandas formuladas pelo núcleo jurídico do Executivo, chefiado por Jorge Messias, assessor de extrema confiança de Lula.
Nos bastidores, o QG político do presidente avalia que Alexandre de Moraes vem sendo até agora principal responsável pelas iniciativas concretas de enfrentamento à crise e que o governo precisa se impor como proponente dessas ações. Isso ajudaria a impedir que prevaleça a percepção de que a administração estaria vulnerável ao levante dos que não aceitam o resultado das eleições.
As imagens de blindados e mega-aparato de segurança tomando posições-chave na Esplanada dos Ministérios nesta quarta-feira integram essa estratégia do Planalto de mostrar o que os governistas chamam de “restabelecimento do controle da situação”.
O discurso do interventor da segurança no DF, Ricardo Capelli, com forte teor político e assegurando que as cenas vistas domingo “não se repetirão”, está em linha com a nova direção dada pelo núcleo-duro palaciano.
Vida que segue
Lula tem insistido, em reuniões com assessores, que é preciso virar a página da crise, mesmo que as dificuldades persistam e não exista perspectiva de paz política no país no horizonte.
A contestação ao governo será permanente, como atestam números das pesquisas de expectativa de sucesso da terceira gestão lulista, na casa dos 50%. E a pior armadilha em que o Executivo pode cair neste momento de início de atividades, indicam os conselheiros do presidente, é o “sequestro da pauta” pela luta com os derrotados nas urnas.
Em outras palavras, Lula manda um recado ao seu time: é preciso trabalhar mais e tratar os ataques à democracia como um motor para realizações de curto prazo, que possam ajudá-lo a surfar em índices mais confortáveis de aprovação popular e estabelecer um pacto consistente para a governabilidade.